
"A curto prazo, o preço será pago pelos consumidores", disse o presidente da McKinsey & Company para a Grande China, Joe Ngai, em referência à taxa base de 10% imposta pelos EUA a todas as exportações.
A inflação nos Estados Unidos desacelerou para 2,4% em março, mas a maioria dos economistas e analistas espera ver os preços ao consumidor começarem a subir, uma vez que as tarifas ainda não tinham entrado em vigor.
Mas Ngai estima que o impacto será sentido pelos "consumidores de todo o mundo" e alertou que uma inevitável subida da inflação poderá levar a descontentamento social e instabilidade política.
"É impossível aceitar que as coisas deixem de ser tão baratas como são", referiu o consultor em Macau, numa sessão de um fórum sobre tendências e oportunidades para investimento.
Para as companhias, o impacto "será desigual, vai ser um desastre para as pequenas e médias empresas" e vai exigir intervenção governamental, acrescentou Ngai.
Mas o presidente da McKinsey para a Grande China disse que o maior choque "fluirá lentamente para a economia mundial do adiamento de decisões, que todas se somam, como uma bola de neve".
"As empresas estão a pensar muito cuidadosamente sobre que investimentos fazer. Ninguém se está a comprometer com a construção de fábricas, com grandes encomendas", referiu Ngai.
O consultor admitiu que aumentou o risco de uma recessão global, algo que "não beneficiará ninguém", mas previu que a economia "irá provavelmente manter-se mais estagnada e crescer menos".
No caso dos Estados Unidos, Ngai disse que "a probabilidade de isso acontecer é muito maior do que há dois meses", mas alertou que uma recessão nos EUA "não será boa para ninguém, nem mesmo para a China".
As taxas aduaneiras adicionais aplicadas pelos Estados Unidos aos produtos chineses atingiram 145%.
Isto apesar do comércio bilateral entre Pequim e Washington estar a encolher há anos, disse o especialista, devido às tarifas impostas durante o primeiro mandato do Presidente norte-americano Donald Trump (2017-2021).
Desde então que os fabricantes chineses começaram a mudar de alvo e exportar os seus produtos para a Europa, o Japão e outros países, referiu Ngai.
Mas o consultor defendeu que, para a economia da China continuar a crescer de forma sustentável, o país "tem de passar de fábrica do mundo para ter multinacionais que sejam cidadãs do mundo".
Ou seja, explicou Ngai, tal como os países ocidentais apoiaram a industrialização da China, chegou a vez de Pequim "ajudar outros países com as suas políticas industriais".
"Espero que isto ajude a tornar o mundo mais equilibrado", acrescentou o presidente da McKinsey para a Grande China.
VQ (JO/JSD) // JNM
Lusa/Fim