Com a morte de Francisco, as especulações sobre quem ocupará o cargo mais importante da Igreja Católica já começaram. Nas casas de apostas, antecipam-se escolhas, com o italiano Pietro Parolin e o filipino Luis Antonio Tagle a ocuparem os lugares de destaque.

Mas já dizia o velho ditado: “Quem entra Papa no Conclave, sai de lá cardeal”.

Entre os 135 cardeais que vão escolher o novo Papa, quatro são portugueses: D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa, D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima, D.Américo Aguiar, bispo de Setúbal, e D. José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação.

MASSIMO PERCOSSI

Este último, o cardeal poeta como também é conhecido, tem recebido a atenção internacional, integrando, inclusive, a lista dos 22 cardeais considerados 'papáveis', elaborada por especialistas do Cardinalii Collegii Recensio (em português, O Colégio dos Cardiais: uma resenha).

Uma viagem da Madeira ao Vaticano

D. José Tolentino de Mendonça é natural de Machico, na Madeira. Descrito como uma figura emergente na religião católica, com uma estreita afinidade com o Papa Francisco, é poeta e amante da literatura.

Foi em 1982 que iniciou os estudo de Teologia e oito anos mais tarde foi ordenado padre. A vida de Tolentino mudou em 2018 quando o Papa Francisco o convidou para organizar exercícios espirituais para a Cúria Romana. No espaço de um ano era Arcebispo, responsável pela Biblioteca e pelo Arquivo Secreto do Vaticano.

No dia 5 de Outubro de 2019 é criado cardeal pelo Papa Francisco. Na altura terá dito ao Sumo Pontífice: "Santo Padre, o que é que me fez?", e segundo ele, Francisco riu-se e disse: "Olha, a ti eu digo aquilo que um poeta disse, 'tu és a poesia'".

"Foram palavras que eu guardo no meu coração, no fundo para dizer uma coisa essencial, que a Igreja conta com uma determinada sensibilidade, uma atenção a um determinado campo humano, que é o campo da cultura, das artes, da estética", disse na altura aos jornalistas.

Andrew Medichini

Em fevereiro deste ano, por ocasião do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, substituiu o Papa Francisco numa missa, altura em que o Sumo Pontífice esteve internado no hospital Gemelli, em Roma.

No dia 11 de abril, venceu por unanimidade o prémio Eduardo Lourenço 2025, que distingue personalidades ou instituições que tenham uma intervenção relevante no âmbito da cultura, cidadania e cooperação ibéricas.

Ao longo da vida sacerdotal atraiu alguma controvérsia

Entre o grupo de progressitas, Tolentino de Mendonça é visto como um potencial candidato tendo em conta a sua proximidade ao Papa Francisco e ao seu compromisso de continuar um trabalho já começado.

Apesar da sua idade, 59 anos - o que é considerado novo para um Papa - é descrito como uma figura emergente na religião católica. Pode ser uma escolha para aqueles que desejam alguém que simpatize com abordagens heterodoxas e seja modernista.

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As suas posições

No site do Colégio dos Cardeais, que reúne, também, algumas das posições dos Papas que consideram ser 'papáveis', é apontado como ambíguo em relação à ordenação de mulheres como diáconos, uma vez que nunca falou abertamente sobre o assunto, mas é próximo daqueles a favor.

O mesmo em relação a outros assuntos: apesar de nunca se ter pronunciado sobre esses temas, simpatiza com abordagens heterodoxas e tolerantes em relação à homossexualidade.