Luís Montenegro presidiu à cerimónia que assinalou os 20 anos de privatização da OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal, localizada em Alverca (Lisboa), que contou também com os ministros da Defesa Nacional, Nuno Melo, da Economia, Pedro Reis, e do chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general João Cartaxo Alves.

Na sua intervenção, recordou que cumpria o seu primeiro mandato como deputado quando foi decidida a privatização da OGMA e salientou que "não era nada consensual a decisão que se estava a tomar": "Havia dúvidas, muitos manifestavam o seu pessimismo relativamente ao modelo que estava a ser sugerido e que viria depois a ser decidido, desta autêntica Parceria Pública Privada", referiu.

"Às vezes, de facto, vale a pena enfrentar algumas ondas contestatárias, vale a pena arriscar, vale a pena ousar, ir à procura de cumprir uma convicção, um modelo, claro, com sustentação. Não estamos a falar de aventuras, estamos a falar de projetos sustentados, estudados, alicerçados", afirmou, numa altura em que o país enfrenta uma crise política e se preparar para ir novamente para eleições antecipadas a 18 de maio.

O primeiro-ministro demissionário aproveitou ainda a sua intervenção para voltar a criticar, sem dizer destinatários, uma proposta que tem sido defendida pelo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.

"Nesta altura em que alguns sustentam a ideia de que o Estado deve definir as áreas económicas nas quais o país deve alocar os seus recursos, nós temos uma filosofia diferente. O país é que escolhe as áreas onde é competitivo e depois o Estado, naturalmente, está cá para ajudar (...) A economia gera-se por si própria e o Estado não deve atrapalhar", defendeu.

O Estado português detém 35% desta empresa de indústria aeronáutica, através da idD Portugal Defence, sendo a acionista maioritária a brasileira Embraer, com 65% do capital.

Sobre a OGMA, Montenegro recordou que, há 20 anos, estava num impasse e enfrentava a possibilidade de encerramento.

"Foi necessário construir uma solução nova, um modelo novo, chamar para a sua execução e materialização a força do trabalho, a força do trabalho", disse, bem como capacidade de gestão e investimento, quer público quer privado, e ir à procura de "novas áreas de negócio".

"Esta parceria é tanto mais estimulante quanto junta não só uma participação do Estado como uma participação de uma empresa privada, mas também uma outra dimensão, que é a dimensão soberana do Estado através das suas Forças Armadas, sobretudo da Força Aérea, que não é menos importante", destacou.

O primeiro-ministro antecipou que, nos próximos anos, haverá "um caminho de afirmação dos investimentos na área da defesa muito significativo", que deve servir para estimular a economia nacional.

"Ou seja, gastar mais dinheiro na defesa não significa comprar mais, significa estimularmos a nossa capacidade produtiva para produzirmos mais e também comprarmos mais à nossa própria indústria. É isso que nós queremos, à escala portuguesa e dentro do contexto europeu. Nós temos de comprar mais uns aos outros dentro da Europa", defendeu.

O chefe do Governo explicou que vai nesse sentido uma pré-decisão ao nível das instâncias europeias de um primeiro pacote de financiamento para investimento em defesa de 150 mil milhões de euros, que deverá ser concretizado no Conselho Europeu desta semana.

"Estamos num ponto que, na fita do tempo, eu diria que é um ponto-chave para aproveitarmos ainda mais toda esta capacidade", disse.

Montenegro saudou os números apresentados antes pelo diretor financeiro da Embraer, segundo os quais a empresa duplicou o volume de negócios nos últimos 20 anos de 140 para 290 milhões de euros e criou mais de 600 postos de trabalho diretos.

"E agora estarmos a perspetivar, em cinco anos, triplicar de 290 para 1.000 milhões de euros, nomeadamente com a inclusão desta última unidade na área da manutenção dos motores", saudou o primeiro-ministro, lembrando que o Estado também é acionista da empresa.