Popularmente entre as ruas de Barcelos conta-se A lenda do Galo de Barcelos. O conto relata a história de um peregrino galego que, durante uma passagem pela terra a caminho de Santiago de Compostela, foi injustamente acusado de roubo e condenado à forca. Antes da execução, o galego pediu para ser levado ao juiz que o condenara.

O juiz estava a jantar e, perante a insistência do peregrino, este apontou para um galo assado na mesa e disse que o galo cantaria como prova da sua inocência. Incrédulo, o juiz ignorou o pedido, mas, no momento da execução, o galo assado, supostamente morto, levantou-se e cantou.

Percebendo o erro, o juiz correu para salvar o peregrino, que foi encontrado vivo graças a um nó mal dado na corda que o mataria. Mais tarde, e dado o milagre que ali ocorrera, o homem voltou a Barcelos e mandou erguer um cruzeiro em honra de Santiago. O resto, como sabemos, é história.

Pois bem, esta sexta-feira, 28 de março de 2025, assistiu-se a um fenómeno relativamente idêntico. Isto porque, no estádio Cidade de Barcelos, casa do Gil Vicente, testemunhou-se o renascimento de um galo que já se presumia morto pelo resto da Europa.

Andrea Belotti – Il Gallo-, como é conhecido em Itália, já se encontrava de certa forma perdido entre as províncias transalpinas, no entanto, a viagem até Portugal parece ter traçado outro rumo na vida do jogador, que se confirmou em Barcelos.

O ponta-de-lança italiano de 31 anos foi novamente aposta de Bruno Lage no 11 titular e provou aquilo que muitos temiam- está vivo. Vivo e de boa saúde. Veio para Lisboa para reavivar a carreira e tem conseguido isso mesmo.

Em Barcelos, subiu o nível que já tinha vindo a mostrar e fez uma das melhores exibições de águia ao peito desde que chegou, em janeiro. Presente e, sobretudo, positivamente participante nas manobras ofensivas encarnadas, coroou a exibição com um golo e revelou a crina que tantas vezes foi imagem de marca ao longo da carreira em Itália.

Ainda que não tenha sido uma contratação consensual entre os adeptos e críticos, à chegada, Belotti tem vindo a demonstrar a sua utilidade ao serviço do clube da Luz e a convencer aos poucos os que se mostravam indignados. Utilidade essa que, por enquanto, tem um prazo limitado, visto que o empréstimo não contempla uma opção de compra.

Não se sabe ao certo se o jogador é visto pela estrutura como uma opção a curto prazo apenas ou se é alguém que, caso tenha um rendimento positivo até ao final da temporada, possa mesmo ser equacionado para a próxima época desportiva.

Belotti ocupou o lugar de Arthur Cabral, e não tem dado sinais de que o brasileiro possa reaver a pouca esperança que lhe sobrava enquanto avançado dos encarnados. Apesar de ser mais velho e ter um valor de mercado mais baixo, é Belotti que tem assumido as rédeas na rotação com Pavlidis e o futuro assemelha-se risonho para o galo.

Aos poucos vai elevando o nível de jogo dentro das quatro ilhas e vai também ganhando um lugar mais preponderante no plantel do Benfica. Quer seja uma ligação para durar ou não, o que é certo é que Belotti vai renascendo de águia ao peito e o seu cantar, que já pouco se fazia ouvir em Itália, vai soando cada vez mais alto em Portugal.