
Fazer uma pré-época no Sporting pode ser desafiante. Pelo menos para quem embarca nestes cargueiros pela primeira vez. Para Rui Borges, as últimas semanas foram de adaptação, palavra que repetiu umas quantas vezes na primeira conferência de imprensa oficial da temporada, em vésperas da Supertaça, que se joga esta quinta-feira, dia atípico, às 20h45, frente ao Benfica.
“É uma novidade, estou num clube grande, um clube diferente”, começou por explicar, como alguém regressado de uma expedição a um pico montanhoso. “O início de época é sempre um momento diferente, estamos à procura da nossa melhor forma. Andamos aqui sempre numa corrida”, continuou, dando a entender que essa forma ainda não está nas pernas e nos pulmões dos seus jogadores, pelo menos a forma que estes almejam, mas garantindo que a equipa será “competitiva” na Supertaça.
Rui Borges, que começou a preleção deixando “um abraço solidário” a todos os bombeiros que por estes dias desbravam a força das chamas, vê-se, pela primeira vez, num ambiente com este peso. O peso de quem prepara uma equipa para ganhar títulos, para começar a época com uma Supertaça. É certo que um grande oferece outras condições, mas com a sua condição de grande chegam outros desafios: os jogadores têm chegado a conta-gotas, por causa de compromissos internacionais e de outros compromissos, nomeadamente aqueles que estes têm com a vontade de experimentar outros ares. O treinador compreende que assim seja.
“Tivemos um mês de entra e sai de jogadores, isso mexe com muita coisa. Há jogadores apetecíveis, por tudo o que fizeram ao longo da época. São humanos e isso pode mexer com o atleta. E com o nosso dia a dia também mexe”. O treinador de Mirandela não se refere diretamente a Viktor Gyökeres, que já lá vai. Percebe-se mais à frente que talvez possa estar a falar de Morten Hjulmand, ainda que garanta que o dinamarquês está “motivado e concentrado” nos treinos. “É jogador do clube, tem cláusula, quem quiser terá de falar com o presidente. Está ligado, é capitão, é líder, tem dado exemplo diário de exigência”, sublinhou o treinador campeão nacional, que assegura que só há uma diferença entre o Hjulmand de 2024/25 e o de 2025/26: “Veio casado, de resto está igual”. Um pouco de leveza também faz bem.
Mas voltemos à época e ao jogo que aí vem. Começar com a disputa de um troféu é sempre bom, “não pode haver motivação maior”, mas Rui Borges não olha para o estatuto de campeão nacional e da Taça de Portugal como agregador de favoritismo para o Sporting. “Favoritos não somos, são sempre jogos de 50-50, vou dizer sempre isso. Acredito que possa ser um grande jogo”, aponta, olhando para outra teórica vantagem do Sporting sob outro prisma.
O Benfica terminou a época mais tarde, teve poucas férias, depois de participar no Mundial de Clubes. Onde outros veem cansaço, Rui Borges vê uma equipa que “perdeu menos condição física”, precisamente por ter estado menos tempo parada. São perspectivas. “Nós tivemos uma paragem mais longa, isso levou-nos a perder toda a condição física e tivemos que a trabalhar novamente”, afirma, desvalorizando, no entanto, esse lado da preparação. Afinal, para o transmontano, num Sporting-Benfica, numa Supertaça, “a vontade e a ambição de ambas as equipas será enorme e isso vai sobrepor-se a tudo o resto.”
Entradas e saídas
Numa conferência em que assumiu que Maxi Araújo está em dúvida, recusando a ideia de que não tem opções suficientes para o labor que costuma estar nas pernas do uruguaio, Rui Borges deixou a ideia de que Luis Suárez dificilmente será opção, pelo menos a titular, para a Supertaça.
“Chegou há três dias, não tem nem de perto nem de longe comportamentos coletivos”, lembrou o treinador leonino, ressalvando, no entanto, que o colombiano é “um jogador maduro” e que acredita que o avançado “facilmente vai adquirir tudo”. Há “muitas ligações individuais, ligações próprias dentro de uma estrutura”, tentou explicar, nem sempre claramente, diga-se, mas supõe-se que o que queria dizer era que os jogadores que chegam precisam de conhecer quem já estava em Alvalade e vice-versa. A saída de Gyökeres baralhou essas sinergias, “perdeu-se uma referência”, aponta o treinador, e “não dá para fugir a isso”, nem mesmo tendo Harder no plantel, que transita da época passada. “O Harder não é Viktor”, enfatizou Borges, não em jeito de crítica, mas lembrando que o dinamarquês é um jogador jovem e que dá coisas diferentes face ao sueco.
Por falar em estrutura, sobre os tais comportamentos coletivos, sobre os sistemas variáveis que tem experimentado durante a pré-época, sem aparentemente chegar a uma conclusão, não houve uma palavra, porque também, para defesa do treinador, não houve uma única pergunta sobre o tema. Em contrapartida, houve várias sobre arbitragem às quais Rui Borges não prestou particular atenção. Sobre Gyökeres, tema incontornável, esse sim, o técnico foi diplomático. “Sabíamos que acabaria por sair, não lhe faltariam clubes, apesar de só querer ir para o Arsenal. Marcou uma era, agradecemos tudo o que ele fez. Marcou-me a mim também e quero desejar a melhor sorte para ele no futuro.”
E, logo a seguir, uma mensagem importante, porque tudo passa: “Nós cá continuamos, fortes e campeões.”