As contratações de jogadores livres, normalmente denominadas de ‘a custo zero’, acabam por ter amiúde encargos elevados relacionados com prémios de assinatura, por via da vantagem negocial dos jogadores, que têm o passe na mão. Ora, a auditoria às contas do FC Porto das últimas 10 épocas mostra que também os agentes de alguns atletas acabaram por tirar partido dessa situação.

No período entre 2014/15 e 2023/24, foram registadas "52 operações de entradas e saídas a custo zero com comissões associadas totalizando 9,2 M€". A este propósito, destacam-se as operações de Maxi Pereira (2M€), Éric Pimentel (1 M€), Bueno (800 mil euros), Daniel Opare (500 mil euros) e Dani Osvaldo (500 mil euros).

No que diz respeito aos níveis médios de comissões de todas as operações, a auditoria também os tipifica por cinco escalões entre 0 e mais de 30%. Nesta divisão salta à vista que, no que às entradas diz respeito, 17 desses movimentos tiveram comissões cobradas acima de 30% do valor da transação, o que representa 20 por cento do valor global. Mesmo os escalões 15-20% e 20-30%, com 23 operações, têm em conjunto uma preponderância de 27% ao nível das contratações. Feita a análise, 61% das entradas tiveram comissões acima de 10%, ao passo que, na saída de jogadores, essa fasquia chegou a 27%. Foram igualmente pagos praticamente 5,4 M€ a "14 entidades com contrato de scouting" que "tiveram simultaneamente intervenção enquanto agentes de intermediação".

No total, a auditoria encontrou um total de 879 movimentos com atletas (387 da equipa A, 322 da equipa B e 170 da formação), com uma média de 16 milhões de euros pagos por época em comissões, sendo que, neste aspeto, no final de 2023/24 estavam 46 milhões de euros por liquidar. Ao todo, o FC Porto movimentou 1,2 mil milhões em operações de mercado, sendo 440 M€ sobre entradas (com comissões de 58,6 M€); 737,6 M€ em saídas (com 72 M€ em comissões); 29,6 M€ em empréstimos (comissões de 1,9 M€); e 7,2 M€ em renovações (25,1 M€ de comissões).

Sete meses intensos

No plano temporal, a auditoria forense arrancou e foi concluída no espaço de sete meses. Com o tiro de partida a ser dado no final de maio, após a atual administração tomar posse, logo nos dois meses seguintes a auditora Deloitte colocou as mãos na massa, analisando as duas últimas temporadas com o contributo de mais de 30 entrevistas. No início de agosto foram colocadas internamente em cima da mesa as primeira evidências, perante as quais foi tomada a decisão, antecipada por Record, de alargar o âmbito de análise às últimas dez épocas. Agora, a 15 de janeiro, a auditora ganhou impacto público.