
Thiago Almada já não será jogador do Benfica e João Félix é uma incógnita, mas juntando estes dois nomes ou perfis – o primeiro para falso extremo sobre a esquerda, o segundo para 10 ou segundo avançado – à contratação de Enzo Barrenechea, fica de certa forma já denunciado um potencial regresso do Benfica ao 4x2x3x1 ou 4x4x2.
Para o novo puzzle de Bruno Lage, que iniciando a temporada pode assentar o processo nas suas ideias em vez de se adaptar ao grupo já existente como fez já bem 2024/25 dentro, ainda faltam várias e importantes peças, naquela que será uma verdadeira corrida contra o tempo. Em teoria, tudo deveria estar pronto e afinado daqui a 15 dias, na Supertaça, diante do bicampeão Sporting. No entanto, ainda que seja possível fechar a contratação de pelo menos quatro unidades nucleares em duas semanas, está longe de ser um cenário ideal para um arranque a todo o gás.
Mais uma vez, o processo de renovação do grupo mostra-se demasiado lento e pouco incisivo. A última temporada terminou há muito, se descontarmos a presença no Mundial de Clubes, que não deve entrar em equação, dado que se tratou sobretudo do prolongar da mesma e palco para poucas novidades ou experiências, e não justifica o atraso. Terá voltado a haver falta de planeamento. Ou seja, é muito provável que o 11 da Supertaça ainda esteja distante daquela que servirá para a primeira metade da temporada. O que até na perspetiva de uma massa crítica que dê boas garantias para um arranque que convença eleitores parece má notícia.
De trás para a frente
Na Luz, começou-se de trás para a frente. À volta da renovada liderança de Otamendi – que continua a condicionar eventuais melhorias no setor em troco do perfil de xerife e de uma abnegação que não é isenta de erros, como se tem visto em vários momentos das últimas épocas – deixa-se Tomás Araújo e António Silva a lutar pela outra vaga, com um mais consistente, mas ainda intermitente, Anatolyi Trubin à frente do moralizado Samuel Soares na corrida pela baliza. E acrescentam-se soluções nas laterais.
Na direita, Amar Dedic - um lateral carregado de potencial, ainda que com um ou outro ponto de interrogação, sobretudo a nível psicológico – parte com avanço pelo menos enquanto não regressar Alexander Bah e, na esquerda, Dahl competirá com Obrador, tentando fazer esquecer a influência brutal que Álvaro Carreras ganhou na última temporada nos planos defensivo e ofensivo, desde a primeira fase de construção até aos momentos de cruzamento e finalização. Cada vez mais forte no passe de ligação e no transporte, o agora merengue foi o único a retirar Grimaldo do léxico dos encarnados nos últimos meses, e deixa nova herança pesada.
Para a posição 6, apresenta-se o argentino Enzo Barrenechea, que traz novos argumentos, a nível técnico e de inteligência em campo. Daí para a frente, está praticamente tudo em aberto menos Pavlidis. Ainda que tenha perdido concorrência, algo que também deverá ser colmatado. Fala-se do croata Franjo Ivanovic, do St. Gilloise, no entanto, também aqui as águias teriam de puxar pelos cordões à bolsa.
Ataque muito desfalcado ainda
Com as eleições à espreita, Rui Costa quis elevar a fasquia e agora pode vê-la cair-lhe em cima. Thiago Almada e João Félix dariam sem dúvida um toque de classe à equipa, porém o primeiro sempre pareceu um alvo difícil de concretizar assim que um emblema de uma Big Five entrasse na corrida, como aconteceu com os espanhóis do Atlético Madrid, e o segundo necessita da combinação perfeita de algumas dezenas de milhões, a vontade do jogador e a falta de paciência do Chelsea para esperar por mais soluções no mercado, o que poderá atrasar bastante a decisão. O internacional luso também empurraria Almada para as diagonais a partir da esquerda e o mesmo aconteceria com Giannis Konstantelias, médio ofensivo grego do PAOK falado no último inverno e agora novamente, ainda que sem grande convicção, por questões financeiras, depois da perda do argentino.
Só se o português não chegar haverá esse espaço disponível no corredor central. Nenhum destes nomes seria ainda o patrão que falta ao meio-campo, daí a cobiça do colombiano Richard Ríos, para a posição 8, onde Aursnes e Barreiro, por questões diferentes – o norueguês foi contratado para aí, porém falta-lhe capacidade técnica, velocidade e até resistência à pressão; o luxemburguês é, sobretudo, um elemento de chegada sem bola e de pressão em zonas mais adiantadas do terreno – , não são solução enquanto organizadores. Menos ainda Florentino e Manu, talhados para servirem de âncora.
Congestionando-se a esquerda, aponta-se a porta de saída de saída a Akturkoglu, que perdeu o compincha e cúmplice Kokçu e se foi diluindo depois de um arranque impressionante até ao final da temporada. À direita não é o mesmo, tal como não é Schjelderup – dois perfis bem diferentes, com o turco destinado a ser melhor para o ataque à profundidade, em movimentos sem bola, e o nórdico, muito melhor com esta nos pés, para combinações curtas – há muito à espera de continuidade na aposta. A preferência pelo ex-Galatasaray diz bem do que foram as intenções de Lage nos últimos meses.
Depois, há ainda Bruma, uma contratação desde logo estranha, e Tiago Gouveia, que continua a ser demasiado irregular, apesar de um ou outro fogacho.
E ainda um substituto para Di María
À direita, há a questão do substituto de Ángel Di María – Anis Hadj Moussa está bem referenciado, mas naturalmente também é caro, e deixa interrogações sobre o momento sem bola, sobretudo se a ideia é mesmo avançar para um meio-campo com duplo-pivot –, que até pode vir a ser a rota de fuga de Aursnes.
O norueguês tem sido dos jogadores mais importantes desde que chegou e um posicionamento mais sobre a direita, como teve no primeiro ano com Schmidt, pode voltar a ser o seu destino, equilibrando também a equipa. Ainda que no momento ofensivo vá ter de responsabilizar muito o lateral do seu lado – tanto Dedic como Bah – nos cruzamentos, uma das suas maiores lacunas.
Há ainda Prestianni, que continua à espera do plano traçado pelo treinador para ele.
São muitos processos por concluir e o tempo a apertar, o que até deixa no ar a ideia de que o Benfica está agora mais frágil do que há algumas semanas, desde a falta de soluções para o 11 até a opções para a rotação, aliando-se ainda uma eventual mudança de esquema. É cedo para conclusões, a não ser que visem a falta de planeamento e da noção de velocidade que continuam a imperar na Luz. A fasquia foi colocada alto, mas sem dinheiro para se jogar a esse nível. E agora ameaça cair sobre treinador e dirigentes.