
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, foi afastado do cargo por decisão de um juiz do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que, na decisão, pede novas eleições «o mais rapidamente possível». Fernando Sarney, vice-presidente do organismo e filho de José Sarney, presidente do Brasil de 1985 a 1990, é o líder interino. O caso não influi, no entanto, no acordo recentemente assinado entre Ednaldo e o novo selecionador brasileiro, o italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid.
O desembargador Gabriel Zéfiro considerou «nulo» um acordo firmado no início deste ano, posteriormente homologado pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF), entre cinco dirigentes da CBF para encerrar uma ação que questionava a lisura do processo eleitoral que elegeu Ednaldo. Em causa, a falsificação da assinatura de um desses dirigentes, Coronel Nunes, conforme denunciado por uma deputada, Daniela do Waguinho, e pelo próprio Fernando Sarney.
Após a denúncia, o STF pediu ao Tribunal do Rio para apurar a veracidade desses desenvolvimentos, o que aconteceu na noite desta quinta-feira. A decisão do juiz Zéfiro, entretanto, ainda é passível de recurso no mesmo STF.
Por se sentir pressionado por estas questões judiciais, Ednaldo Rodrigues apressou-se na segunda-feira a anunciar a contratação de Ancelotti, em busca de arregimentar apoios. O Real Madrid, que havia combinado com a CBF um anúncio conjunto após o fim de La Liga, ainda nem se pronunciou. Mas Carletto já revelou o acordo, que deverá ser preservado, independentemente da questão jurídica.
Aproveitar o impacto de um vencedor
A CBF não contratou só um dos treinadores mais vencedores da história para a seleção do Brasil. Carlo Ancelotti é, além disso, um fenómeno mediático imbatível com 16,6 milhões de fãs no Instagram, cerca do dobro de Pep Guardiola, do Manchester City, o segundo da lista, com 8,5, e mais do que o registo, 13,6, de todos os treinadores do Brasileirão somados.
No mundo, depois de Carletto e de Pep, surgem Jurgen Klopp, ex-Liverpool, com 4,6 milhões de seguidores, Lionel Scaloni, da seleção da Argentina, com 2,3, e Diego Simeone, do Atlético Madrid, com 1,9. No Brasil, lidera Filipe Luís, do Flamengo, com 6,5 milhões, quase todos conquistados no período em que ainda era atleta. É seguido por Abel Ferreira, do Palmeiras, com 1,7.
«Ancelotti é uma joia rara em termos de imagem», diz Alexandre Vasconcellos, gestor da Flashscore no Brasil, com experiência em marketing desportivo, comunicação e inovação, a A BOLA. «Parece discreto, acolhedor, divertido, tranquilo e próximo dos atletas mas sem disputar os holofotes com eles, é a síntese do líder perfeito, o que a seleção precisa para resgatar a relação com a torcida».
Para Bruno Brum, CMO da Agência End to End, hub de soluções para o mercado desportivo, «a presença digital de Ancelotti é um ativo estratégico para a CBF». «Num cenário em que a força nas redes se traduz em valor de marca, audiência e novas receitas, contar com um técnico que tem mais seguidores do que toda a elite do futebol brasileiro é um diferencial». «O Real Madrid, por ser uma instituição com alcance global incomparável, ajudou», aponta Ivan Martinho, professor de marketing desportivo pela universidade ESPM.
Para se ter uma ideia, um dos reels de Ancelotti no Instagram a dar toques na bola num treino do clube superou os 22 milhões de visualizações. «E agora ele terá nova força pois treinará a seleção mais vencedora do mundo», opina Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing desportivo.
«Entretanto, a sua imagem ainda não está totalmente enraizada no imaginário popular brasileiro», afirma Brum. Para Martinho, «uma dose de simpatia e conexão com os hábitos locais farão bem à rápida adaptação». «Restringir a seleção a quem só treinou no Brasileirão seria imprudente», diz Thiago Freitas, COO da Roc Nation, empresa de Jay-Z que gere a carreira de centenas de atletas. «E, enquanto os nossos melhores jogadores atuam no estrangeiro, no Brasil há a maior presença de sempre de treinadores de fora», lembra, por sua vez, Marcelo Paz, CEO do Fortaleza.