Como analisa esta partida de meia-final de Taça de Portugal, que não deixa de ser para o Tirsense um momento histórico?

Sim, sem dúvida. Acho que este jogo tem duas partes completamente distintas, na primeira parte, acho que estivemos muito bem, conseguimos em muitos momentos, não deixar a Benfica jogar e acabámos por sofrer o golo mesmo em cima do intervalo, numa boa parada.

Acho que isso mudou um pouco o que aconteceu na segunda parte, porque não é igual ir para intervalo empatado ou a perder com uma equipa contra o Benfica e hoje, acima de tudo, foi mais uma vez a parte física, em que se nota claramente que há uma diferença muito grande entre as duas equipas e as boas paradas hoje também o fizeram.

Mas acho que, comparativamente com a primeira mão, deixámos uma imagem muito melhor. Fomos uma equipa que viemos aqui jogar o jogo pelo jogo, não viemos aqui meter o autocarro, defender. Principalmente na primeira parte, tivemos essa atitude no jogo, (1:06) de valorizar o jogo, sabendo das diferenças entre as duas equipas.

Para as equipas pequenas, o facto de a meia-final se disputar em dois jogos impossibilita completamente eliminar um grande?

- Acho que as duas mãos inviabilizam qualquer possibilidade, qualquer equipa mais pequena vê muito reduzida a possibilidade de poder passar a eliminatória. Continuo a dizer que acho que deveria ser só uma mão e ser sempre em casa do clube mais pequeno por vários motivos, desde os financeiros aos desportivos.
Sei que não é fácil fazer as coisas dessa forma, não quero dizer que está feito só para os grandes, mas reduz claramente as possibilidades das equipas mais pequenas se chegarem a uma meia-final.

Vimos, por exemplo, na outra meia-final, que o Rio Ave acabou por ter o mesmo desfecho e não conseguiu passar. Se calhar é uma situação para se pensar no futuro até porque o número de jogos que as equipas, mesmo as grandes, já acabam por ter, é um acumular e não beneficia ninguém o facto de haverem dois jogos antes da final.

Se o Tirsense fosse à final da Taça de Portugal, estaria sem competir durante praticamente um mês até lá chegar. Os quadros competitivos acabam por desnivelar ainda mais?

- Sim, é verdade, e se contarmos que já estamos há dez dias parados, o nosso campeonato já parou há 10 dias, é muito desnivelado. Os quadros competitivos em Portugal têm de ser repensados para os campeonatos não profissionais. Olha-se muito para a Liga 3, mas esquece-se do Campeonato de Portugal.

Acho que Portugal tem de se pensar o futebol de forma diferente. Não se pode querer pensar só para cima. Tem que se pensar para baixo, porque é aí que tudo vai acontecer. Estamos lá a melhorar o nosso futebol e temos visto tantos jogadores a passar do Campeonato de Portugal para a Liga 2 e até para a Liga.

Deixámos aqui uma boa imagem do valor do Tirsense, que tem claramente lugar noutros patamares, mas para isso tem de ser repensar porque estamos a falar de parar desde o início de Abril até meio de Agosto, porque não há competição para os jogadores. Isso não faz sentido nenhum.

Não faz qualquer sentido e há que repensar isso e dar visibilidade. A grande vitória do Tirsense foi a visibilidade que trouxe esta meia-final para uma equipa do Campeonato de Portugal. Há que ver que há mais futebol para além da primeira e da segunda Liga.

Uma imagem que o Tirsense também deixa é a quantidade de adeptos que trouxe aqui ao Estádio da Luz, mais de 1000.

- Foi um prémio para todos nós - para os adeptos, jogadores, treinadores e toda a estrutura. Foi um prémio terminar neste pouco, porque o Tirsense é um histórico, com tradição no futebol português e faz falta aos campeonatos profissionais em Portugal.

Acho que terminar cá, com muitos adeptos, com quem contámos no ano todo tivemos, no nosso campeonato e em casa e, acima de tudo, é um prémio para todos eles e foi pena não termos conseguido ainda dar-lhes mais um prémio, de fazer golo no Estádio da Luz.

Teria sido bonito porque eles merecem, o Tirsense tem uma massa adepta fantástica, há uns anos conseguiu meter 9 mil pessoas em casa num jogo de distrital. Isso diz bem sobre a massa adepta que o Tirsense tem e é pena não haver condições para mais.

Antes do jogo, os adeptos falavam no sonho de o Tirsense poder marcar na Luz e ofensivamente a equipa parecia solta e atrevida…

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Queríamos também dar essa felicidade aos adeptos, Um dos nossos objetivos para o jogo era marcar um golo e acho que estivemos perto de o conseguir e tivemos uma oportunidade que com um bocadinho mais de astúcia, se calhar conseguíamos ter marcado. Essa era a grande vitória que podíamos ter no jogo de hoje e podíamos ter repartido o jogo um bocadinho mais, sabendo que jogar no Estádio da Luz é muito complicado.

Esta prova acabou por ser um palco para os jogadores, mas também para o treinador. Já tomou a decisão de continuar no clube?

- Não, sinceramente não. A minha carreira teve alguns altos e baixos e disse isto no balneário: perdi o gosto do futebol por várias condicionantes e por várias coisas, a determinada altura. Em Portugal não se valoriza o trabalho que é feito de baixo e não tenho de estar a falar sobre o meu currículo neste momento, mas gosto muito do treino e de futebol, adoro futebol, mas a partir do momento em que não tiras proveito do que fazes, mais vale estar quieto, senão só se vai estar a estragar este ano.

E disse aos meus jogadores, no balneário, que o Tirsense me fez voltar a ter o gosto de treinar e não foi na Taça de Portugal. A Taça foi um prémio e trouxe-nos um bocadinho para a ribalta, mas acabei por voltar a ter o treino com um objetivo, um gosto. Sinceramente não sei o que vai acontecer, depende das propostas que eventualmente possam aparecer.
Foi um prazer treinar o Tirsense, vamos ver o futuro, ainda não decidi o que será a partir de hoje, vou descansar um bocadinho e logo veremos.