O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.
Figura de culto para quem cresceu a ver futebol no final da primeira década/início da segunda década do século XXI, Ricardo Vaz Tê foi o mais recente convidado do nosso podcast. A primeira aventura no estrangeiro do antigo avançado foi ao serviço do Bolton, clube onde viveu algumas situações marcantes.
«Em dois meses ascendi à equipa sénior do Bolton e aí vivi um pesadelo com bons momentos. O Sam Allardyce a comunicar... Nossa senhora. Ninguém me preparou para aquilo. Hoje em dia trabalho com jovens e uma coisa que lhes passo é que há diferentes personalidades. Alguns treinadores parece que falam para ti com raiva, mas não é isso: por seu lado, há outros que te passam a mão na cabeça, mas tens de ter cuidado com eles. Na minha mente, aquele gajo odiava-me. Sendo jovem, a maior parte das críticas eram para mim; se o Jay-Jay Okocha falhassem um passe, a culpa era minha», começou por contar, recordando depois um problema em específico que tinha.
«Eu tive várias lesões nos joelhos ao longo da minha carreira e só mais tarde é que percebi que era devido à diferença que tenho no comprimento dos pés. que é para aí de quatro centímetros. O que é que acontecia? Quando ia rematar de pé esquerdo, escorregava muitas vezes. Como o meu pé direito é mais curto, eu achava que já o tinha plantado no chão. No entanto, isso ainda não acontecido e eu acabava por escorregar», vincou.
Tal cenário, como é facilmente percetível, não podia dar bom resultado:
«Assim sendo, tive uma situação num jogo contra o Blackburn fora de casa. Eu entrei com o jogo empatado, fiz uma desmarcação da direita para o meio, isolaram-me, tiro o Friedel, que era o guarda-redes deles, da frente e só tinha de encostar. No entanto, no momento em que vou a rematar, escorrego. Levei uma dura, não te passa pela cabeça. Cheguei ao balneário e o Sam Allardyce ainda não tinha sossegado. Rasgou-me de uma forma inacreditável e só me disse "Vou multar-te da próxima vez que usares pitons de borracha". Eu ainda lhe expliquei que eram de alumínio porque estava farto de escorregar. Ele disse-me que que não queria saber, pegou nas minhas chuteiras e deitou-as ao lixo. Tentei ir lá buscá-las, mas ele alertou-me "Ai de ti se pegas nelas!" [risos]. Tive de arranjar outras, mas isto era o Sam Allardyce.»