
Palavras fortes de Alexandre Pinto da Costa, filho de Jorge Nuno Pinto da Costa, na gala 'O Gaiense', realizada na noite desta segunda-feira, em Vila Nova de Gaia. O empresário de jogadores, após a homenagem ao pai, discursou e fez questão de tocar em assuntos do passado.
«Não foi o dinheiro nem os bens materiais que me moveram nos desacordos que tive com o presidente do FC Porto, por ele estar tão mal acompanhado nos últimos anos da sua presidência. Quando alertei, frontal e diretamente, para os perigos que corria por essas escolhas erradas, eu posteriormente, de livre vontade, afastei-me do presidente, não do meu pai, pois desse estive sempre presente quando ele de mim necessitava», começou por dizer, continuando.
«Afastei-me de toda e qualquer atividade do clube, desportiva e socialmente, anos a fio. Foi com a intenção de evitar o que infelizmente o tempo me veio a dar razão, para que não saísse do modo que saiu da instituição pela qual tudo deu e que tanto amava, mas que tal como eu previ viria infelizmente a acontecer», atirou ainda.
Lembrando a «ovação estrondosa que recebeu no Estádio do Dragão», Alexandre Pinto da Costa agradeceu o «reconhecimento e gratidão de todos perante quem tanto o fez pelo FC Porto», voltando a falar dos «pares que o acompanhavam», para os quais vê «características que não me atrevo a adjetivar».
«Quem ama de verdade alerta para o precipício. Quem ama de verdade não salta de mãos dadas com a sua paixão para o precipício. Foi isso que eu fiz», referiu.
No mesmo discurso, Alexandre Pinto da Costa esclareceu que vai doar ao FC Porto, sem «qualquer interesse financeiro ou renda futura em troca», a parte do espólio desportivo que o pai lhe deixara «após ser feito o apuramento da divisão legal».
Eis o discurso na íntegra
«Quero deixar o meu agradecimento pessoal a todos os milhares de anónimos que estiveram no velório e funeral do meu pai. Foi impressionante e indiscritível a massa humana e a emoção por ela expressa que todos sentimos nesses dias em forma de uma eterna despedida. Muitos deles estão presentes aqui nesta sala e em meu nome o meu obrigado pelo apoio e carinho que recebi de todos vocês. Representantes das mais inúmeras instituições públicas e privadas, desportivas, religiosas, políticas e governamentais, mas sobretudo aos milhares de anónimos que ali se deslocaram para prestar uma última homenagem ao maior presidente de todos os tempos. A todos um obrigado do fundo do meu coração.
Gostaria de aproveitar este momento para esclarecer publicamente que, ao contrário do que foi dito e afirmado, tentando passar a ideia de que eu, ou alguns dos meus representantes legais, esteve no passado ou estará no presente a negociar com o FC Porto o nome do meu pai para atribuir ao museu do FC Porto o património ou o espólio desportivo que ele tinha, com a finalidade de obter royalties, verbas ou proveitos, é totalmente falso. Nunca ninguém, nem eu nem alguém por mim autorizado, poderia falar de algo que não é a minha vontade. Nesse sentido, queria tornar aqui pública a minha intenção de, como herdeiro legítimo de parte do património do meu pai e após ser feito o apuramento da divisão legal, tudo o que diga respeito ao espólio desportivo, a um museu fabuloso que o meu pai tinha, onde guardava religiosamente todo e qualquer objeto que lhe foi dado e oferecido ao longo de décadas ao serviço do FC Porto, que me será legitimamente entregue, será doado por mim, graciosamente, ao FC Porto, sem ter qualquer interesse financeiro ou renda futura em troca. É essa a minha vontade e tenho a certeza absoluta que ficaria contente com a minha atitude.
Nunca foi o dinheiro nem os bens materiais que me moveram no apoio que sempre dei ao meu pai nos momentos em que ele mais precisou de mim enquanto filho. Menos ainda, não foi o dinheiro nem os bens materiais que me moveram nos desacordos que tive com o presidente do FC Porto por ele estar tão mal acompanhado nos últimos anos da sua presidência. Quando alertei, frontal e diretamente, para os perigos que corria por essas escolhas erradas e pelas quais eu, posteriormente e de livre vontade, me afastei do presidente, não do meu pai, pois desse estive sempre presente quando ele de mim necessitava, afastei-me de toda e qualquer atividade do clube, desportiva e socialmente, durante anos a fio. Foi com a intenção de evitar o que, infelizmente, o tempo me veio a dar razão, para que não saísse do modo que saiu da instituição, pela qual tudo deu e que tanto amava.
A ovação estrondosa que recebeu no Estádio do Dragão no dia após a sua derrota nas eleições, bem como as cerimónias de uma dimensão ímpar, apenas comprovam o amor, o reconhecimento e gratidão de todos perante quem tanto fez pelo FC Porto, mas que infelizmente não teve a aprovação da maioria, que viu nos pares que o acompanhavam características que não me atrevo a adjetivar.
Quem ama de verdade, alerta para o precipício, não salta de mão dadas com a sua paixão para o precipício. Foi isso que fiz. O meu pai, de forma unânime, foi sempre reconhecido como o presidente dos presidentes, porque o era de facto. A sua memória, o seu raciocínio brilhante, a sua astúcia e a sua capacidade de trabalho, mas sobretudo o amor ao FC Porto serão lembrados para todo o sempre. Perdoem-me os outros presidentes com os quais trabalhei, fruto da minha atividade profissional, mas nunca em tempo algum conheci um presidente com as suas capacidades. Foi o maior de sempre e jamais haverá outro como Pinto da Costa.
Gostaria de terminar, mais uma vez, com um agradecimento a todos os presentes, e os que não estão aqui mas sei que estão com ele, esta merecida homenagem com muito orgulho que é feita ao meu falecido pai. Parafraseando o meu saudoso pai, despeço-me de todos vós com esta frase tantas vezes dita por ele em forma de presságio: “Largos dias têm 100 anos"»