Voltou Hjulmand, já voltara Gyokeres, Morita e Catamo estão a voltar e pelo que se viu, num jogo que o Sporting dominou em 70 dos 90 minutos, o leão recomeça a mostrar-se esfomeado. Até porque, que se saiba, ninguém se aleijou. Houve momentos de gaguez, sim, sobretudo após o golo do Casa Pia, período em que alguma aparente instabilidade emocional se instalou, muito bem aproveitada pelos casapianos para crescerem. Porém, de novo com a impressão digital do sueco, espécie de Viktor Viktoria, o Sporting voltou a falar fluentemente múltiplas línguas.

O jogo começou com o Sporting de prego a fundo em busca de marcar cedo. Trincão teve o golo nos pés, mas seria de novo, como aconteceu com o Estoril, de cabeça que os leões chegariam ao 1-0. Longo lançamento de Quenda, sobre a direita, aparecendo Gonçalo Inácio a desviar para golo. O jogo começava, enfim, a desbloquear-se.

O Casa Pia queria muito, mas parecia não ter condições para se opor à maior força do Sporting. Gyokeres, pouco depois, passou por José Fonte com tremenda facilidade e dava o mote para aquilo que poderia seguir-se.

Pouco depois da meia hora, longo lançamento de Hjulmand a desmarcar Gyokeres sobre a esquerda, com muito espaço para o sueco progredir. À sua frente, de novo, José Fonte.

Todos sabem o que Gyokeres vai fazer. Fonte sabe, o Casa Pia sabe, o Mundo sabe (que). Bola no pé direito, metros atrás de metros e, quando a baliza lhe aparece no horizonte, pequeno toque para a direita e pum, remate forte. Fonte sabia que seria assim, Patrick Sequeira, o guarda-redes, sabia que assim seria, tal como o Casa Pia e o Mundo. E a bola, claro, obediente, fez o que Gyokeres queria, embora com a ajudinha do número 1 casapiano, que deixou a bola passar por baixo do corpo.

Com 2-0, o jogo parecia resolvido. Até porque o Sporting, embora deixando mais bola e mais jogo para o Casa Pia, controlava quase todas as variáveis. E tinha Gyokeres na frente e Hjulmand atrás, o que era determinante: goleador e cérebro.

Até que, pertinho do intervalo, Larrazabal fugiu pela direita, Matheus Reis fez pouca pressão e a bola seguiu para a área leonina. Podia ter ido para os pés de Gonçalo Inácio ou Diomande. Mas não. Foi para os pés do rei do azar: Ricardo Esgaio. Este sofreu a pressão de Miguel Sousa, a bola bateu-lhe na canela e, agora desobediente dos desejos de quem lhe tocasse, entrou na baliza de Rui Silva. Insólito autogolo, sim, mas tão importante como qualquer outro.

À beira do intervalo, o que parecia estar a tornar-se um jogo de onda quase só verde virou um pouco. Como reagiriam ambas as equipas após o descanso? Cresceria o Casa Pia? Sentiria o Sporting aquele autogolo? Mexeria algum dos treinadores no seu onze?

Logo a abrir o segundo tempo percebeu-se que a tendência mudara e era agora o Casa Pia que andava mais perto do golo. Rui Silva evitou o empate com duas defesas de elevado grau de dificuldade, evitando golos de José Fonte (52’) e Rafael Brito (57’).

Pouco depois da hora de jogo, Rui Borges mexeu no onze, tentando equilibrar as operações. Tirou Hjulmand (amarelado) e Quenda e meteu Morita e Catamo. O Casa Pia continuava por cima do jogo e sentia-se que a qualquer altura, aproveitando a gaguez leonina pós autogolo de Esgaio, o empate poderia surgir.

Até que, aos 77’, a gaguez terminou. Tchamba derrubou Trincão, Hélder Malheiro mandou seguir, mas foi chamado pelo VAR para ver melhor o lance. Viu e concordou com o VAR: penálti. Depois, como de costume, Viktor Viktoria mandou tremendo remate para o lado direito do guarda-redes e fez golo.

O Casa Pia minguou, o Sporting cresceu, mostrando-se, de novo, fluente em diversas línguas. Poderia ter marcado mais um outro golo, mas ficou-se pelos três.