Inês Belchior mostrou em 2024 que as épocas só se avaliam no final e não pela forma como começaram. Teve a paciência de aguentar alguns resultados iniciais aquém do que desejava, para terminar em grande força, quase invencível nestes últimos meses, ao ponto de já ter sido "contratada" por uma conceituada universidade dos Estados Unidos. 

A portuguesa que ainda integra o escalão etário de sub-18 acabou de vencer o 5.º Torneio do Circuito Aquapor, que a Federação Portuguesa de Golfe (FPG) organizou no Quinta do Peru Golf & Country Club, entre 73 jogadores, incluindo 16 jogadoras. 

Inês Belchior totalizou 143 pancadas, 1 abaixo do Par, após voltas de 73 e 70, deixando a concorrência a confortáveis 13 pancadas, dado que a segunda melhor jogadora da prova foi Amélia Gabin (80+76), com 12 acima do Par, sendo o estatuto de terceiras melhores jogadoras partilhado por duas com o resultado de 13 acima do Par: Francisca Salgado (74+83) e Rafaela Pinto (77+80). 

Foi o seu quinto título da época – excluindo os sucessos no escalão etário de sub-18 – e pela quarta vez ficou abaixo do Par no resultado agregado.

"Para além das vitórias, saliento que os resultados apresentados foram baixos acabando abaixo do Par, excetuando o Campeonato Nacional Absoluto", fez questão de sublinhar. E com razão, pois, no golfe, uma coisa é a classificação e outra bem distinta é o resultado. O ideal é conseguir boas classificações com bons resultados. 

Em termos classificativos, o 5.º Torneio do Circuito Aquapor foi também um marco, na medida em que estes eventos têm um formato misto, na qual as jogadoras competem com jogadores e, para mais, não só com amadores, mas também com profissionais. O 10.º lugar de Inês Belchior na Quinta do Peru foi a única ocasião nos cinco torneios de 2024 em que a melhor jogadora integrou o top-10 da classificação geral.  

Não é por acaso que dois dos seus cinco títulos de 2024 foram alcançados na Quinta do Peru, um campo que representou durante vários anos, embora agora jogue pelo Clube de Campo da Aroeira.  

Aliás, é sintomático que tenha acontecido o mesmo no setor masculino, com Pedro Figueiredo a somar o seu sexto troféu da temporada, três dos quais neste campo de Azeitão, no concelho de Sesimbra. 

"Sim, o conhecimento dos campos é fundamental na maneira como os abordamos e aqui sinto-me cem por cento à vontade na maioria dos buracos", disse Inês Belchior a Record, acrescentando que "o campo estava um pouco diferente (em relação ao Campeonato Nacional), com os greens mais lentos e a receberem melhor a bola, e os fairways com mais areia. Mas o campo continua em excelentes condições".  

A jogadora que surpreendeu ao vencer pela primeira vez o Campeonato Nacional Absoluto KIA quando tinha apenas 14 anos, está agora, dois anos depois, a carimbar uma das melhores épocas de sempre do golfe feminino português. 

Venceu pela segunda vez o Campeonato Nacional Absoluto KIA (+8), triunfou na Taça da FPG/BPI (bateu na final Amélia Gabin 5/4), impôs-se no 4.º Torneio do Circuito Aquapor no Oporto Golf Club (+4) e agora no 5.º Torneio do Circuito Aquapor na Quinta do Peru (-1). 

A nível internacional ainda obteve um dos mais importantes sucessos do golfe feminino português, ao ganhar o Campeonato Internacional de España de Stroke Play Femenino (-9), no Club de Golf Montanyà, nos arredores de Barcelona.  

Mesmo o 3.º lugar no Campeonato Abierto de Madrid Feminino, com 5 abaixo do Par, no Golf Santander, foi outro ponto alto da temporada. 

E integrada no escalão de sub-18, poderemos ainda acrescentar que foi 1.ª classificada em todos os quatro torneios que disputou no Circuito Drive da FPG. 

A par da vitória em Espanha, o seu grande feito de 2024 foi completar a ‘dobradinha’, ou seja, juntar os dois ‘Majors’ nacionais amadores numa mesma temporada – o Campeonato e a Taça –, era algo que não se alcançava desde Susana Ribeiro em 2013! 

O mais curioso é que grande parte destes bons resultados foram carimbados na segunda metade da época. É indiscutível que o golfe nacional feminino vive um período de renovação, com jogadoras bem jovens a destacarem-se e a desenvolverem entre si (simultaneamente) uma rivalidade e uma amizade que só poderá ser benéfica no futuro. 

Durante vários meses, Inês Belchior viu Francisca Salgado ganhar o 1.º e o 2.º Torneio do Circuito Aquapor, respetivamente no Amendoeira Golf Resort, em Silves, e no Ribagolfe Oaks, em Benavente; Rafaela Pinto ser a melhor no 3.º Torneio, em Amarante; Francisca Rocha ser a jogadora em destaque no V PGA Players Championship, em Espinho, e também na Taça Mendes d’Almeida, em Vidago; Francisca Ferreira da Costa brilhar na Taça RS Yeatman, em Miramar (Vila Nova de Gaia); e Amélia Gabin cotar-se como a melhor jogadora na Lisbon Cup, em Sintra. 

"Considero que, desde maio, tive uma grande evolução", concordou. "Vai ser um ano que ficar-me-á na memória, porque atingi quase todos os objetivos a que me propus, obtendo muito bons resultados, como o 3.º lugar em Madrid, o 1.º no Internacional de Espanha e as vitórias nos ‘Majors’ nacionais", salientou.  

Atravessado na garganta ficou apenas um torneio: "Com muita pena minha, ficou de fora um bom resultado no Campeonato Internacional Amador de Portugal". Um torneio disputado demasiado cedo, em janeiro, quando ainda estava longe do seu atual pico de forma. A melhor portuguesa foi Francisca Rocha no 71.º lugar (+10), com Inês Belchior a ser a 74.ª (+12). Nenhuma das seis portuguesas passou o cut. 

A temporada ainda não terminou para Inês Belchior: "Vou ainda jogar (esta semana) a Final do Drive Tour e devo jogar ainda o Winter Open na Quinta do Peru e o Quinta do Lago Júnior Open". 

No entanto, a FPG já encerrou a época no que se refere ao Ranking Nacional BPI e a n.º1 nacional é mesmo Inês Belchior, com 3.530 pontos, seguida de Francisca Salgado com 3.150. 

Uma das grandes novidades dos últimos dias foi a publicação nas redes sociais de fotografias de Inês Belchior com o equipamento da Mississippi State University, estando já "contratada" para jogar pelas "Bulldogs" a partir de agosto de 2025. 

Recorde-se que o ex-campeão nacional amador Pedro Cruz já representou esta universidade, tal como o melhor tenista profissional português da atualidade, Nuno Borges. 

"Comecei a ponderar ir para os Estados Unidos desde muito nova, devido ao facto de ter muitas referências positivas de portugueses que fizeram (o mesmo). O meu primeiro contacto foi no European Young Masters, em 2022, quando ("olheiros") viram-me nas duas últimas voltas. Desde então que sinto que é ali que pertenço. O Pedro Cruz Silva, que também estudou na MSU, deu-me ótimas referências e acabei por decidir ir para esta universidade, que está entre as melhores no golfe feminino", explicou.