
Yann Bisseck embarcou numa viagem alucinante do Parque de Ardão, entre as freguesias de Ponte e Silvares onde fica localizada a Academia do Vitória de Guimarães, até Munique, na Alemanha, onde vai disputar a final da Liga dos Campeões, ao serviço do Inter Milão. Até parece mentira, mas é bem verdade. Em apenas quatro anos, o central alemão passou do Campeonato de Portugal para o sonho de qualquer jogador de futebol.
Em 2020/21, o central alemão, com 20 anos na altura, chegou à cidade berço por empréstimo do Colónia, tendo sido integrado na equipa B dos conquistadores, mas não teve vida fácil, tendo sido pouco utilizado, apesar de ter sido contratado como potencial reforço para a equipa principal. Moreno Teixeira, que foi seu treinador, explicou a A BOLA a forma como decorreu o processo.
«Quando entrámos faltavam apenas dois meses para terminar a temporada e, sem querer ser impreciso, penso que por questões contratuais o Yann Bisseck não estava a ser opção, teria uma cláusula ainda de valor elevado no seu contrato, pois ele tinha chegado para poder ser opção para a equipa principal, mas não o estava a ser sequer para a equipa B. Assim, mal entrei conversei com o presidente e perguntei se havia algum inconveniente em utilizar algum jogador. A resposta foi que não e por isso comecei a utilizá-lo e ajudou-nos bastante, na altura, na fase de subida para alcançarmos a Liga 3», começou por dizer.
O próprio Yann Bisseck, no passado mês de março, admitiu que passou por momentos complicados na sua carreira, em declarações à revista alemã 11 Freunde.
«Se não tivesse o Jonas Carl e o Elias Abouchabaka [ex-companheiros no Vitória B] ao meu lado, teria terminado a minha carreira profissional no V. Guimarães. Tenho mais recordações positivas do que negativas de Portugal, a presença deles tornou tudo mais fácil. Pensei em deixar de jogar e mudar-me com o Elias para um apartamento em Berlim e estudar na universidade», acrescentou.
O treinador Moreno também referiu que o seu estado mental não era o ideal, nessa ocasião, mas que não lhe faltava qualidade.
«Um atleta de enorme qualidade, diferenciado dos outros e foi com naturalidade que começou a ser titular. Lembro-me que também tivemos de fazer algum trabalho com ele, ao nível da motivação, já que sentimos que estava desmotivado. Dentro do campo era um atleta que nos acrescentava muito. Depois, o Vitória acabou por não ficar com ele, pois estava cedido e não ativou a tal ou outra cláusula», sublinhou o técnico, de 44 anos, que jogava no sistema de três centrais, o mesmo que Simone Inzaghi utiliza neste Inter Milão e no qual confia no defesa alemão ao ponto de o ter lançado em 27 ocasiões no onze.
«Os atletas de qualidade jogam em qualquer sistema. Na altura já jogávamos com três centrais, também com mais dois jovens, como o Ibrahima Bamba e o Mamadou Tounkara que ele ajudou bastante a evoluir. Notava-se que era diferenciado pelos pormenores, como a qualidade do passe, da receção e, claro, a velocidade estava lá, tal como se vê agora. Notava-se que tinha tido uma boa formação», explicou Moreno que ainda se mostrou feliz com o percurso de Yann Bisseck.
«Muita satisfação em vê-lo na situação em que está. Mas, também com alguma surpresa. Não é fácil sair da equipa B do V. Guimarães e estar numa equipa que vai disputar uma final da Champions e que a pode ganhar. Teve de haver muito mérito do jogador, nomeadamente, a nível mental. Se na altura me perguntassem se o valor dele era para andar em equipas bês ou de menor dimensão, dizia que não, mas se me questionassem que iria estar, passado tão pouco tempo, ao mais alto nível em Itália e na Liga dos Campeões, também diria que não, tenho de ser sincero.»