O português Pedro Queirós vai correr 4.200 quilómetros entre Lisboa e Auschwitz (Polónia), distância equivalente a 100 maratonas em 100 dias, solidário com projetos no Nepal e no Médio Oriente, num desafio de "grande violência física e mental".

Depois de percorrer 1.200 quilómetros em 2017, entre o Taj Mahal, na Índia, e Catmandu, capital do Nepal, de se tornar o sexto português a atingir o cume do Evereste, em 2022, ou de atravessar o Japão em 2024, sempre em articulação com projetos humanitários, o atleta amador, de 44 anos, deixa a Praça do Comércio, na capital portuguesa, na sexta-feira, 25 de Abril, data alusiva à liberdade em Portugal, para chegar ao antigo campo de concentração da Alemanha nazi em 03 de agosto.

"O meu objetivo é cumprir os 4.200 quilómetros. Vou tentar fazer uma maratona todos os dias, mas há dias em que, para chegar ao próximo local, vai ser mais do que uma maratona. Vão ser 60 quilómetros. Há dias em que vou colapsar e ter de descansar. Isto vai ser o equivalente a 100 maratonas em 100 dias. É uma grande violência física e mental", resume, em declarações à Lusa.A iniciativa visa a angariação de 100 mil euros para projetos humanitários em duas locais: 50 mil para a construção de uma escola no Nepal, país onde Pedro Queirós se encontrava aquando do sismo de 25 de abril de 2015 e que apoia regularmente através da plataforma Dreams of Kathmandu, e a outra metade da verba para duas instituições de promoção da paz entre crianças de Israel e da Palestina.

O lisboeta, de 44 anos, espera entregar 25 mil euros à Combatants for Peace, associação fundada em 2006 e nomeada para o Prémio Nobel da Paz em 2017 e em 2018, que reúne ativistas israelitas e palestinianos, e outros 25 mil à Hand in Hand, rede de escolas fundada em 1997, com mais de 2.000 crianças judias e árabes e um programa curricular em que as línguas hebraica e árabe têm igual estatuto.

"Há uma criança que tem um primo refém do Hamas e que se senta ao lado de outra criança cuja família está a ser bombardeada em Gaza. Estas famílias e estes estudantes partilham esta dor e este trauma. Querem construir 'pontes' e não 'muros'", ilustra, a propósito da ofensiva israelita em curso na Faixa de Gaza após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023.Intitulada 'Run for Peace', a "aventura humanitária", como Pedro Queirós a designa, quer também ser "homenagem a todos aqueles que vivem debaixo de ambientes de guerra e de ódio" e um alerta contra "a desumanização", daí a escolha de um destino onde se estima que mais de um milhão de pessoas tenha morrido durante a Segunda Guerra Mundial.

Com partida marcada para as 11:56, hora em que sentiu o sismo no Nepal, o lisboeta vai passar por Fátima, Porto e Braga, antes de se aventurar por Espanha, França, Suíça, Itália, Eslovénia, Áustria e Eslováquia até chegar ao destino, no sul da Polónia, num itinerário com conferências e jantares pelo meio, para congregar pessoas em torno da iniciativa.Atleta há oito anos, com treino regular de atletismo, ginásio, natação e yoga, Pedro Queirós prepara há seis meses um trajeto que vai cumprir "sempre em autonomia", com uma mochila de "dois a três quilogramas" e sem carro-vassoura.

Pronto a ingerir quatro a cinco mil calorias diárias, praticamente o dobro do que é normal, o corredor está atento às possíveis microrruturas musculares, entorses e contraturas e antecipa que a preparação mental vai ter mais impacto do que a física na hora de concluir o desafio, como aconteceu no Evereste ou no Japão.

"No Japão, cheguei ao dia número 50, e só tinha 47 maratonas feitas. Fiz as três de uma vez, 126 quilómetros, no limite da dor excruciante e do sofrimento. Mas fiz. Fiz devido ao propósito humanitário, com toda a força das pessoas que me acompanham, para seguir os meus sonhos e dar um significado àquilo que andamos aqui a fazer: cumprir os nossos sonhos e ajudar o próximo", confessa.