
O julgamento do processo Saco Azul prosseguiu, na manhã desta sexta-feira, com a inquirição a Sérgio Espírito Santo, responsável máximo da empresa 'Arquiconsult', que foi subcontratada pelo arguido José Bernardes, na altura ainda na empresa Best For Business para implementação de um sistema informático dedicado aos Recursos Humanos e ao Retalho. O engenheiro informático explicou por que foi escolhido, mas assumiu que, ao contrário do que é normal, não existia qualquer contrato entre as partes.
"O projeto no Benfica era fomentar um sistema de gestão, em que a equipa do José Bernardes, na altura na 'Best for Business', fazia a vertente de contabilidade e nós a de Recursos Humanos e de venda a retalho, de merchandising. Nós nunca tivemos contactos com o Benfica, foi sempre o José Bernardes a negociar", deu conta, quando respondia à Procuradora do Ministério Público.
"Nos RH somos a empresa com melhor software e na área do retalho somos a única com soluções. A BFB fazia a vertente de contabilidade, área financeira, tesouraria, compras. Nunca contactei ninguém do Benfica. A única interação que fizemos foi de uma apresentação da solução de retalho. Estavam algumas pessoas do Benfica, mas como éramos subcontratados, não tínhamos qualquer relação com o Benfica", assinalou, antes de dar conta do motivo que fez com que fosse escolhido para fazer este trabalho.
Apesar do serviço prestado no clube da Luz, com valores avultados, Sérgio Espírito Santo referiu que só houve um acordo verbal com José Bernardes, pois este nunca quis contratualizar o negócio.
"Com este cliente há este nível de informalismo. Deve ser o único sem contrato formal assinado. Com as outras empresas existe e é prática habitual. O que não é habitual é esta situação. O José Bernardes nunca quis assinar contrato. Não sei porquê. Tentámos formalizar, mas presumo que seja pelo relacionamento dele com o Benfica", apontou em tribunal, antes de abordar o papel de outro dos arguidos em todos este processo: "O Miguel Moreira era um fantasma. Apareceu no primeiro dia e nunca mais o vi lá".
Espírito Santo assumiu que o trabalho foi adjudicado e que essa era a única base de suporte ao trabalho entre as partes.
"Não houve contrato, houve apenas uma adjudicação da proposta, com base na que tínhamos enviado. Fizemos uma proposta de implementação, que é começar do zero e colocar o sistema a funcionar. E posteriormente a isso há uma segunda fase, que tem a ver com correção de problemas que existam. Mas o prazo e o preço não iam na proposta. Todas essas situações foi o Bernardes que geriu com o cliente", revelou, antes de ser questionado se o facto de não existir contrato não o deixava numa posição de maior fragilidade: "Eu tinha a faca e o queijo na mão. Se não pagassem, no mês seguinte não tinham serviço. Estava numa posição monopolista".
A procuradora também apresentou o contrato de alta disponibilidade, no valor de 22 mil euros por mês, que obriga José Bernardes a estar totalmente disponível para resolver problemas que possam surgir nos sistemas informáticos do emblema encarnado. Espírito Santo considerou que nunca faria um contrato daqueles, ainda que reconhecendo que possa ser uma sorte. "Num cenário em que não tiver muitas inervenções é um excelente negócio para a 'Questão flexível', mas penso que este contrato é uma irresponsabilidade, há um sempre um risco associado. Mas também pode ser um prémio enorme", explicou.