Vítor Bruno pode fazer juras de amor eterno a Danny Namaso, pode elogiar-lhe a movimentação, o trabalho sem bola, o compromisso e rigor na pressão. Mas que jeito dá ter um ponta-de-lança que marca golos.

Empate com o Farense no Dragão, golo de Samu Omorodion. Empate com o Vitória SC em Guimarães, golo de Samu Omorodion. E outro golo de Samu Omorodion logo a seguir.

No castelo do Vitória tivemos um daqueles jogos fechados, de inflação de futebolistas em zonas de luta e escassez de gente em locais de perigo. Um encontro que, ao ter tão poucas oportunidades, só podia ser decidido por um goleador, porque é isso que profissionais do ataque à baliza como Samu fazem: transformam partidas assim, encontros de 0-0, em encontros de 2-0. Ou, no caso, de 3-0, com o festejo de Pepê quando tudo já estava decidido. Três pontos e missão cumprida.

A equipa de Vítor Bruno não fez qualquer remate à baliza do adversário até que, aos 47', Omorodion fez o 1-0. Também não somou qualquer tiro enquadrado até que, aos 58', o seu ponta-de-lança apontou o 2-0. A eficácia do possante Samu é a melhor notícia para um clube que, nos últimos meses, perdeu Evanilson e Taremi, as grandes certezas concretizadoras do passado recente.

O 3-0 final, da autoria de Pepê, confirmou a excelente relação azul e branca com o D.Afonso Henriques, um castelo de boas memórias para os dragões. Aqui, o FC Porto venceu nas sete últimas deslocações, não perdendo em casa do Vitória SC desde 2015/16.

MIGUEL RIOPA

Antes dos momentos de Samu, as estatísticas ao intervalo mostravam um jogo disputado em trincheiras, um combate feito partida de futebol, um desafio sem balizas, mas cheio de conflitos e guerrilha.

Amarelos ao descanso: cinco. Cadeiras lançadas para o relvado e retiradas de lá por Bruno Gaspar: duas. Remates à baliza: zero. Os números comprovavam a realidade detetada pelo olhar no final de tarde no Minho.

Nos únicos esboços de escasso perigo até meio do encontro, Zé Pedro cabeceou para corte de Tomás Ribeiro e Nico González, também nas alturas, rematou por cima. Perante a falta de emoção junto das redes, tiveram de ser algumas picardias a dar algum picante a certos momentos do embate que, em teoria, era a contenda de cartaz da 6.ª jornada.

Vítor Bruno deixou Otávio de fora da convocatória, lançando Zé Pedro como companheiro de Nehuén Pérez no eixo da defesa depois dos recentes erros do brasileiro. Na frente, Samu Omorodion estreou-se a titular. Após uma etapa inicial em linha com a tendência global do que o rodeava — fricção, imprecisão, choque —, o espanhol seria o grande destaque no recomeço.

Em momento algum conseguiu a equipa de Rui Borges apresentar um nível em linha com o que tem feito neste começo de temporada. Até agora, os vimaranenses somavam 10 triunfos em 11 compromissos na temporada, mas foram imprecisos com bola e frágeis na defesa, não conseguindo ligar o jogo nem aproveitar a muita técnica de gente como Nuno Santos, João Mendes ou Nelson Oliveira. Só aos 82', num inofensivo remate de Chuchu Ramírez, atiraram os locais na direção da baliza de Diogo Costa.

HUGO DELGADO

Após o intervalo, entrámos na zona Samu. Num dos primeiros lances, Pepê baixou e, em movimento inverso, João Mário atacou a profundidade. A péssima reação da defesa do Vitória, totalmente apanhada fora de posição, foi aproveitada pelo atacante espanhol para cabecear para o 1-0.

Sem grande reação do lado do Vitória, o 2-0 teve protagonismo do outro lateral. Num bom movimento após uma saída de bola, Eustáquio trocou com Francisco Moura, com o ex-Famalicão a fazer de médio e a solicitar a corrida de Samu. O ponta-de-lança, veloz e agressivo, voou para voltar a bater Bruno Varela.

Com a partida decidida, Francisco Moura voltou a assistir, desta feita Pepê, autor do definitivo 3-0, o selar da clara superioridade dos visitantes. Se, no plano desportivo, o castelo foi tomado por Samu, no plano emocional, o castelo é sempre do Vitória, com a reação final dos adeptos do clube de Guimarães — cantando e incentivando os seus — a demonstrarem como, aqui, há sempre um coração a bater pela equipa de branco.