Sérgio Conceição já ganha em Itália. O AC Milan fez duas remontadas contra dois históricos rivais para conquistar a Supertaça italiana. Duas vitórias com selo “Conceição”, marcadas pela vontade de vencer em detrimento do estilo de jogo implementado. Sérgio Conceição é um enormíssimo treinador.
Não lhe é dado o devido valor no seu país de origem, fruto da clubite aguda. É visto como um “arruaceiro” que lesa a imagem do futebol português lá fora. Não acho que assim seja.
O treinador de Coimbra é intenso e replica essa mesma intensidade nas equipas que lidera. Nunca vão conseguir acusar uma equipa de Sérgio Conceição de não dar tudo em campo. Com menos ou mais beleza no modelo de jogo que quer implementar. O que é realmente importante, citando-o, é meter a bola lá dentro. Nunca entendi o ódio de estimação a Sérgio Conceição. Perpetuado pelos “especialistas de futebol” que gravitam em torno da comunicação social portuguesa. É um treinador que nasceu para ganhar. Como demonstra, aliás, o seu percurso.
Inicia o seu caminho, enquanto treinador principal de futebol no Algarve, durante o mês de janeiro de 2012, ao serviço do Olhanense. Consegue alguns resultados muito interessantes num clube que lutava pela manutenção, desde logo o empate contra o Benfica e contra o Sporting na mesma época. Em 17 jogos ao serviço do Olhanense, durante essa primeira temporada, só perde quatro jogos, terminado o campeonato num incrível oitavo lugar, bem longe dos lugares de despromoção.
A segunda época em Olhão não corre tão bem, mas, ainda assim, consegue cumprir o objetivo e manter a equipa algarvia no principal escalão do futebol português – algo que não se verificou na época seguinte quando o Olhanense termina em último, mas já sem Conceição no comando técnico dos algarvios, uma vez que tinha seguido para a cidade natal para treinar um clube pelo qual nutre um carinho enorme: a Associação Académica de Coimbra.
Faz uma época consistente na cidade dos estudantes (8.º lugar) e o seu desempenho durante três épocas no principal escalão do futebol português chama a atenção de António Salvador que o leva a dar o salto para o SC Braga. Faz uma época de grande nível no Minho, terminando o campeonato em 4.º lugar e levando os bracarenses à final do Jamor, perdendo contra o Sporting no desempate nas grandes penalidades. Um resultado injusto uma vez que o Braga viu fugir uma vantagem de dois golos nos últimos dez minutos da partida. Diferenças com António Salvador levaram à sua demissão do comando técnico do Braga, mas o Vitória estava ali mesmo ao lado e bem atento à situação de Sérgio Conceição.
Chega à cidade berço para comandar um clube que vivia dos piores momentos da sua história. O Vitória atravessava, na altura, algumas dificuldades financeiras e estava longe de ser uma equipa competitiva preparada para lutar pelos lugares europeus.
Foi uma época “apagada” para o Vitória e para Sérgio Conceição que conseguiu um modesto 10.º lugar, bem distante dos lugares que davam acesso às provas europeias. Foi uma passagem curta e inglória, uma vez que surgiu a proposta para o técnico seguir carreira no estrangeiro, ao serviço do Nantes em França.
Estava a fazer um excelente campeonato na Liga Francesa, levando o Nantes para longe dos lugares que despromoção, até que o lugar vago no FC Porto o seduziu a sair de forma polémica da equipa francesa e a aceitar o convite de Jorge Nuno Pinto da Costa de liderar o clube do coração.
O “resto é história”. Foram sete anos no comando técnico nos Dragões, onde chegou a um clube que não ganhava títulos relevantes desde a saída de Vítor Pereira. O clube atravessava – e atravessa – o período mais conturbado da sua história a nível financeiro e era já um cemitério de treinadores: Paulo Fonseca, Luís Castro, Julen Lopetegui, José Peseiro e Nuno Espírito Santo. Mesmo sem grande investimento no plantel, Sérgio Conceição consegue ser campeão na primeira época no FC Porto e seguiram-se mais 10 títulos conquistados.
É o treinador mais titulado da história do clube, sendo visto muitas vezes como um “Pedroto 2.0” por ter sido uma figura muito importante na história do clube, impedindo o penta do eterno rival Benfica e devolvendo o clube à senda vitoriosa. Foi o principal responsável pela “reconciliação” dos adeptos com a equipa.
Os Dragões estavam longe de dignificar os valores defendidos pela instituição e Conceição foi o principal responsável por devolver “os valores Porto” ao plantel, fazendo-lhe valer da mística em muitas épocas onde os portistas estavam longe de ser os favoritos, devido às dificuldades financeiras, mas onde conseguiam ser competitivos até ao fim. Peca por sair tarde do clube – talvez com três anos de atraso. Sai pela porta traseira, junto com Pinto da Costa, e não sai com o estatuto que merece depois de uma época horrível marcada pelas eleições do clube.
Segue-se a passagem agora em Milão já com um título conquistado. Não tenho dúvidas que Sérgio Conceição vai ser bem-sucedido em Itália e acredito mesmo que pode devolver o AC Milan à glória europeia. Afinal de contas, é dos melhores treinadores do mundo e, a meu ver, o melhor treinador português da atualidade a par de Abel Ferreira.
É mais um português no lado de fora do retângulo a dignificar o que de bom se faz no futebol português.