
Thymen Arensman não se autodestruiu por ter perdido a etapa 10 do Tour para Simon Yates. Afinal, deixou-a escapar para o vencedor do Giro. Desde a primeira vez que, com 22 anos, venceu a primeira corrida numa grande volta que lidou com frustrações por não o ter repetido.
Na etapa 14 da sua primeira participação na Volta a França, tomou uma decisão que “talvez fosse suícidio, talvez não”, como descreveu. A 37 km da meta, isolou-se e escapou a todas as emboscadas que lhe tentaram dirigir. Há dois meses, num fórum online, um adepto questionou-o sobre o quão provável era lançar um ataque a longa distância como a moda parece incentivar. Descartou a ideia, dizendo que a realidade “não é como o Pro Cycling Manager”. Podemos não estar num videojogo, mas este foi o dia em que Arensman subiu a outro nível.
O semi-fã de ciclismo defende sempre que só merecem ser vistos os quilómetros finais. Porém, esta era uma daquelas que os adeptos íntegros da modalidade da sofrência em cima de duas rodas não podiam perder nem um segundo, embora a corrida não tenha entregado tanto como prometeu.
Arrumado no início da etapa estava uma meta volante que irritou o início. As fugas tiveram dificuldade em formar-se, porque a Lidl-Trek queria que Jonathan Milan passasse debaixo do pórtico em primeiro para somar mais 20 pontos para a luta pela camisola verde. O italiano (251) que lidera a classificação por pontos tem já 28 de vantagem face a Pogačar (223). A partir daí, que tomasse conta do percurso com quatro picos quem quisesse. Por certo, não eram as equipas dos velocistas.
Adiante estava o Tourmalet, esse bicho-papão, uma subida de categoria especial roedor das reservas de esforço numa fase bastante precoce. Que o diga Remco Evenepoel que se esvaziou logo aí e abandonou a Volta a França para evitar um descalabro na classificação geral. As câmaras da transmissão televisiva pagaram o descontentamento. A perda deu-se sensivelmente ao mesmo tempo de Mattias Skjelmose, o melhor posicionado da Lidl-Trek, também se retirou.
Os 182,6 km necessários para cumprir o plano do dia só terminaram em Superbagnères, uma espécie de terreno esquecido já que o Tour não passava neste ponto dos Pirinéus há 36 anos. Lenny Martinez foi colhendo pontos em busca de chegar a Paris como o melhor trepador (leva 62 pontos). Valentin Paret-Peintre desprendido do trabalho coletivo após a desistência de Remco Evenepoel também integrou a fuga, o que demonstra quais são as ambições da Soudal Quick-Step após o adeus do líder. Em busca de serem úteis para uma eventual jogada tática da Visma (sem efeito), Sepp Kuss e Simon Yates descolaram-se igualmente do grupo principal.
A UAE não teve a maior das facilidades para anular o líder da etapa que, à entrada para a última subida, era Thymen Arensman (+3’15’’). O intervalo deixava na dúvida qual seria a proveniência do vencedor da etapa. A equipa de Tadej Pogačar fazia a rusga ao neerlandês, um trabalho que ficou incompleto tendo o ciclista da INEOS cruzado a meta em primeiro lugar.
Quanto à luta pela geral, desta vez, foi Jonas Vingegaard a tomar a iniciativa com Tadej Pogačar a responder. Seguiu-se o contra-ataque. Tadej Pogačar tomou a iniciativa, Jonas Vingegaard respondeu. Pelo meio, descartaram Florian Lipowitz que, ainda assim, termina o dia no terceiro lugar da classificação geral (+7’53’’).
No sprint pelo segundo lugar, o campeão do mundo ainda ganhou mais uns pózinhos ao dinamarquês (+4’13’’), aplicando à camisola amarela mais uma camada de cola para que esta se funda ao seu corpo.