
Na chegada à Cidade do Futebol, onde esta segunda-feira decorrem as comemorações do 111.º aniversário da Federação Portuguesa de Futebol, André Villas-Boas comentou a atualidade do futebol português, em especial por conta do conflito recente entre Fernando Gomes e Pedro Proença, respetivamente antigo e atual presidentes da FPF.
"O futebol português está gravemente doente e andamo-nos a enganar uns aos outros há bastante tempo. Não basta as recentes questões entre o antigo presidente e o atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol, mas também um certo desalinhamento entre os três grandes agora e continuarmos a adiar discussões da Liga sobre a centralização, sobre o VAR, sobre a tecnologia no futebol português que continuam em atraso.
Estou a aproximar-me de um ano de presidência e tentei lançar-me neste desafio com o intuito de renovar o ar do futebol português, sentar-me à mesa com os três grandes e trazer um pouco de alinhamento estratégico para o futuro. A realidade é que, passado um ano, as coisas continuam a caminhar no mau sentido.
Explode um desalinhamento evidente entre dois grandes presidentes, um que era presidente da Liga e outro grande presidente desta Federação, se calhar o mais importante desta Federação, porque atingiu resultados na mesma. Constata-se finalmente que vivemos nesta paz podre há muitos anos e continuamos a atrasar-nos na nossa evolução.
Quero relembrar que estamos sob a ameaça do futebol belga, o melhor ano da Holanda no coeficiente do ranking da UEFA, mas a Bélgica continua a somar pontos e a realidade é que se calhar em breve estamos mesmo destinados à Liga Conferência, que se calhar é o que merecemos. Tudo cenas lamentáveis, de conflitos de poder, que deviam ser evitados em toda a linha. É fundamental para o futebol português recuperar-se. Gostamos todos destes eventos, sentimos o seu prestígio, somos um país único que cria muito talento para a população pequena que tem, mas tardamos em sair desta zona de conflito em que ninguém sai beneficiado.
Apenas um sentimento de tristeza enorme, espero que as coisas se resolvam rapidamente e haja um bom entendimento. É fundamental que Portugal tenha um papel estratégico no futebol europeu e não há dúvida que tem de estar colocado nas maiores instâncias do futebol internacional.
Não sei como é que os presidentes das Federações reagem ao receber cartas desta magnitude. A primeira coisa que me veio à cabeça foi testar a veracidade da mesma, tendo em conta o seu conteúdo. Gosto muito do Dr. Fernando Gomes, respeito muito, fez um grande trabalho à frente desta Federação, que é único e singular. Lamento que dois presidentes importantes para o futebol português estejam neste momento de costas voltadas. Não podemos parar a nossa evolução, porque temos um campeonato do mundo à porta, mas não sei como é que as outras federações reagem a um comunicado destes. É um passo atrás para a dignidade, a transparência e a ética do futebol português, sem dúvida, porque se há lugar que temos de ocupar é no Comité Executivo da UEFA. Evidentemente que o presidente da FPF deve estar presente no Comité Executivo da UEFA, pelo que já atingimos enquanto país no mundo do futebol.
Ambiente complicado entre os clubes
Estou preocupado com as eleições da Liga. Temos perspetivas completamente diferentes a nível de posicionamento de candidatos. Sem desrespeitar Reinaldo Teixeira, que tem anos de dirigismo no futebol português, mas a nível de competências, de programa, de estrutura, de planeamento parece-me haver uma diferença enorme. Lamento que alguns clubes estejam agarrados a um compromisso de palavra, quando não conseguem ver as reais competências de cada um dos candidatos e das suas equipas. Aí houve um desalinhamento prévio, há algumas divergências. Estive em duas cimeiras de presidentes e posso confessar que em ambas se discutiu zero do futebol português. Lancei o tema, que achei relevante, dos candidatos se submeteram a perguntas relativamente aos seus programas, já lancei o tema do VAR e estou disponível para ajudar o futebol português. Obviamente, sou portista, defendo as cores e sou presidente do FC Porto, cada um defende as suas cores, mas não defender o futebol português parece-me uma patetice absoluta.