O Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter as taxas de juro inalteradas nesta quinta-feira, fazendo uma pausa após sete cortes consecutivos, enquanto aguarda que se dissipe a instabilidade que envolve as relações comerciais da Europa com os Estados Unidos, ameaçadas pela imposição de tarifas comerciais decididas pelo presidente norte-americano. O BCE reduziu para metade a sua taxa de juro de referência, de 4% para 2%, no espaço de apenas um ano, com sete descidas consecutivas, após ter controlado o aumento dos preços que se seguiu ao fim da pandemia de COVID-19 e à invasão da Ucrânia pela Rússia. “Foi uma decisão unânime” entre todos os membros do Conselho de Governadores, disse Christine Lagarde em conferência de imprensa.

Outro tema abordado foi a possível descida da inflação para níveis abaixo dos 2% devido à valorização do euro. Recorde-se que o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, afirmou, aquando da realização do Fórum do BCE em Sintra, que, se o euro subisse acima de 1,20 dólares, “isso começaria a ser um problema” para a evolução da inflação. Lagarde, contudo, não se mostrou preocupada: “Não temos um valor de referência para o euro, mas acompanhamos a sua evolução cambial dia a dia.”

“Estamos numa boa situação”, disse a presidente do BCE, acrescentando que “temos uma inflação estabilizada nos 2% e esse é o valor projetado para o médio e longo prazo”. “Estamos numa boa situação para parar e observar o que nos rodeia e, depois, tomar as decisões que se mostrem necessárias segundo as informações que forem sendo recolhidas”, referiu Lagarde.

A responsável acredita que a economia continuará a crescer: “No primeiro trimestre, a economia da zona euro subiu 0,6%, muito graças à Irlanda, e as dinâmicas de crescimento económico estão a desenvolver-se acima das nossas perspetivas.” Sobre a questão das tarifas impostas pelos Estados Unidos, Lagarde disse que “quanto mais depressa se chegar a um acordo, mais depressa se vai dissipar a incerteza que está a assolar a economia”.

Em comunicado, o BCE reitera que “está determinado a assegurar que a inflação se estabilize na meta de 2% a médio prazo. Adotará uma abordagem dependente da informação recolhida reunião a reunião. Em particular, as decisões do Conselho do BCE em matéria de taxas de juro basear-se-ão na sua avaliação das perspetivas de inflação e dos riscos que a rodeiam, à luz dos dados económicos e financeiros disponíveis, bem como da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária. O Conselho do BCE não se compromete antecipadamente com uma trajetória específica das taxas de juro.”

O comunicado acrescenta ainda que “o Conselho do BCE está pronto para ajustar todos os seus instrumentos, dentro do seu mandato, para garantir que a inflação se estabilize na meta de 2% a médio prazo e para preservar o bom funcionamento da transmissão da política monetária”, salientando também que “está disponível para combater dinâmicas de mercado injustificadas e desordenadas que representem uma séria ameaça à transmissão da política monetária em todos os países da área do euro, permitindo assim ao Conselho do BCE cumprir de forma mais eficaz o seu mandato de estabilidade de preços.”

Com a inflação de volta à meta de 2% e com previsão de se manter nesse nível, a atenção volta-se para os sinais ténues de recuperação da economia europeia. A aplicação de uma taxa de 30% sobre os produtos da União Europeia (UE) por parte dos EUA seria muito mais elevada do que a que o BCE tinha previsto, mesmo no cenário mais negativo dos três que divulgou no mês passado, forçando o Conselho de Governadores a considerar projeções mais baixas para o crescimento e para a inflação.

A agência Reuters informa que dois diplomatas afirmaram, na quarta-feira, que a UE e os EUA estavam a caminhar para um acordo que resultaria numa tarifa de 15% aplicável aos produtos da UE, um resultado mais próximo do cenário base do BCE. A aplicação das tarifas comerciais terá um impacto direto no crescimento económico e na evolução da inflação.

De acordo com a mesma agência, “os mercados e a maioria dos economistas ainda apostam em pelo menos mais um corte nas taxas de juro, provavelmente no final do ano, uma vez que a inflação corre agora o risco de ficar demasiado baixa.”

As projeções do próprio BCE apontam para um crescimento dos preços abaixo dos 2% nos próximos 18 meses, aumentando a possibilidade de ficarem aquém daquele objetivo. “Mais desafiante poderá ser o final do ano, quando veremos a inflação cair abaixo de 1,5% e permanecer nesse nível durante a maior parte de 2026”, afirmou Anatoli Annenkov, do Société Générale, citado pela Reuters.