O CEO da Valora e responsável pela emissão monetária do Banco de Portugal (BdP), Hélder Rosalino, alertou nesta terça-feira para necessidade de distinção entre o que é um meio de pagamento e um ativo de reserva, no que diz respeito ao euro digital. O antigo administrador do banco central sublinhou que a moeda digital não tem como objetivo ser algo que as pessoas guardam para gerar valor, mas sim uma forma de facilitar os pagamentos quotidianos. Em termos de datas, aponta 2029 como altura provável de lançamento, caso avance.

O responsável pela emissão monetária fez a abertura de uma conferência focada no euro digital, que decorreu na manhã desta terça-feira, em Lisboa. No que diz respeito à urgência do euro digital, mencionada pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, no Parlamento Europeu nesta segunda-feira, Hélder Rosalino indica que esta surge devido à necessidade de salvaguardar a soberania europeia nos pagamentos e também a importância do banco central no sistema monetário. Devido a isto, mais de 90% dos bancos centrais estão envolvidos em projetos de moeda digital, mais de dois terços veem a sua implementação como “provável” ou “possível” e mais de 50% admite que está a desenvolver uma moeda digital ou estão envolvidos em experimentações concretas.

Moeda única essa que Rosalino admite até não ser “verdadeiramente única” precisamente pela falta de uma área de pagamentos comum. Neste sentido, atenta no facto de que vários países dependem de sistemas de pagamentos internacionais e o euro digital visa combater isto. Há também, neste contexto, novos atores no mercado além dos bancos e uma “revolução” a acontecer na área dos pagamentos, destaca o ex-administrador do BdP.

Rosalino referenciou a intervenção da presidente do BCE perante o Parlamento Europeu. A líder do supervisor realçou a urgência do avanço do euro digital, até como forma de combate aos criptoativos, algo que o CEO da Valora considera estar à margem do assunto em mãos, pois não se foca na moeda digital como meio de pagamento. Contudo, ressalva que esta intervenção veio, provavelmente, da necessidade de apaziguar os eurodeputados em relação à questão dos criptoativos.

O antigo administrador salientou ainda que o numerário tem perdido força – redução de 40% para 24% dos pagamentos em ponto de venda entre 2019 e 2024, segundo dados do BCE. Este é precisamente um campo onde os ativos digitais têm vindo a ganhar destaque. No domínio das moedas, Rosalino foi peremptório: não pode haver apenas moeda eletrónica nem pode haver apenas moeda do banco central.