A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, defendeu que o BCE está “bem equipado para navegar as águas das tormentas que nos esperam”, referindo-se ao atual panorama de incerteza geopolítica. A líder do banco central participou num painel com os governadores dos bancos centrais dos EUA, Japão, Coreia do Sul e Inglaterra.

Lagarde relembra que, apesar do período desinflacionista e de os países da Zona Euro estarem próximos do seu objetivo, isto não significa “missão cumprida”. Lagarde recorda que se vive um período com risco de fragmentação e desafios geopolíticos, pelo que é necessário ser “vigilantes e comprometidos com o objetivo”.

Sobre os próximos cortes das taxas de juro, caso existam, a presidente do BCE reforça a mensagem que o banco central tem passado nos últimos tempos: não há um sentido específico nem um compromisso com novos cortes. Lagarde sublinha que “os dados é que dirão”. A decisão sobre novos cortes vai ser apoiada na evolução desses dados e vai ser feita em cada reunião, numa ótica de caso a caso.

Neste sentido, a presidente do BCE reforça a estratégia apresentada nesta segunda-feira como sendo um bom método a seguir. Para Christine Lagarde, a forma como o supervisor europeu tem decidido a sua política monetária é sólida.

Questionada sobre se 2025 vai ser um ano crucial, Lagarde considera que sim, ainda que esteja incerto. O líder da Reserva Federal dos EUA, Jerome Powell, tem tido um ano marcado pelos ataques do presidente Donald Trump. Powell refere que se mantém focado em fazer o seu trabalho. Em relação a esta situação do líder da Fed, Lagarde realça que “todos [os que estão no painel] fariam exatamente o mesmo” nessa situação.

Valorização do euro ou depreciação do dólar?

O euro tem visto o seu valor face ao dólar americano subir nos últimos tempos, tendo chegado perto dos 1,18 dólares no final desta segunda-feira. Sobre as taxas de câmbio, Lagarde foi peremptória e afirmou não comentar. Contudo, notou que é um dado que é tido em conta nas análises do BCE e elaborou que se podia colocar em causa se estamos perante uma valorização do euro ou uma depreciação do dólar. Acrescentou ainda que o banco central está atento aos ativos denominados em euros e a sua atratividade. Deixou também a nota de que isto demonstra a força da economia europeia.

Ainda no tópico das moedas, surgiu a questão da moeda digital e das ‘stablecoins’, assunto sobre o qual Christine Lagarde afirmou ter uma opinião muito forte. A presidente do BCE considera que existe uma confusão entre dinheiro, meios de pagamento e infraestrutura de pagamentos. “O dinheiro é um bem público e nós devemos protege-lo”, defende a líder do Banco Central Europeu.

A aceleração de outras moedas, como ativos digitais, é o resultado de alguns avanços tecnológicos, explica, e que o risco de privatização do dinheiro como bem é real. Neste sentido, Lagarde reitera que este não é o objetivo do trabalho para o qual foram nomeados os bancos centrais e os seus líderes. A adoção de moedas digitais privadas incorre em riscos como a implementação da política monetária e a até a soberania de países que adotem essas moedas ou meios de pagamento. “Devemos definir a nossa política se somos honestos com as nossas palavras e se queremos proteger o que devemos proteger”, remata.

Outra preocupação enumerada por Lagarde, quando questionada sobre o que a mantinha acordada de noite, foi a “verdade”. A presidente do BCE revela que o papel que a Inteligência Artificial está a adquirir e a maneira como a informação e a opinião pública podem ser manipuladas são questões que a preocupam. “Queremos análises sustentadas por dados empíricos e pela realidade da economia”, salienta. No entanto, admite que tem receio da distorção destes dados pelos meios referidos.