A Jerónimo Martins fechou o primeiro trimestre do ano com um crescimento homólogo de 31,4% nos lucros, para os 127 milhões de euros, anunciou esta quarta-feira a empresa que controla o Pingo Doce na apresentação de resultados à CMVM - Comissão de Mercado de Valores Mobiliários.

Mas o comunicado sublinha que os resultados ficam “6,1% abaixo (do primeiro trimestre do ano passado) se excluídos os outros ganhos e perdas de natureza não recorrente, recordando que esta rubrica, há um ano atrás, incluiu os 40 milhões de euros da dotação inicial da Fundação Jerónimo Martins.

As vendas aumentaram 3,8%, para os 8,4 mil milhões de euros, enquanto o EBITDA subiu também 3,8%, para 528 milhões de euros, com a respetiva margem a fixar-se nos 6,3%, em linha com o mesmo período de 2024, indica o comunicado. O Programa de Investimento atingiu um valor executado no trimestre de 267 milhões de euros.

Pingo Doce cresce, mas sem Páscoa

O cash flow do grupo é de –398 milhões (-168 milhões um ano antes), “impactado pela habitual sazonalidade do capital circulante após a época de Natal e pela ausência da Páscoa”, e a dívida líquida situa-se nos 3,6 mil milhões de euros, acima dos 2,5 mil milhões registados em março de 2024.

Em Portugal, onde a inflação alimentar rondou os 1,5%, o Pingo Doce registou um crescimento de 2,8%, para os 1,2 mil milhões de euros, “apesar do impacto negativo do calendário”, que este ano não abrangeu a Páscoa, refere o comunicado que aponta como “decisivo o contributo das lojas a operar no conceito All About Food”.

Quanto ao Recheio, “continuou a operar num contexto de alguma pressão sobre o canal HoReCa (hotelaria e restauração), e a investir para proteger o desempenho de vendas”, tendo fechado março com uma quebra de 0,4% no volume de negócios, para os 302 milhões de euros.

No seu conjunto, o EBITDA da Distribuição Portugal cifrou-se em 78 milhões de euros, 0,7% abaixo do trimestre homólogo, tendo a respetiva margem atingido 5,2% (5,3% em 2024), “pressionada pela subida dos custos com pessoal na sequência do aumento de 6,1% do salário mínimo nacional”.

Biedronka abre 56 lojas

Na Polónia, onde o grupo destaca a trajetória de subida da inflação alimentar (6,1%), numa tendência iniciada já em 2024 e “o ambiente concorrência intenso”, o comunicado refere que a atualização do salário mínimo impactou positivamente no rendimento das famílias, mas “os consumidores mantêm-se cautelosos e muito sensíveis aos preços”.

Assim, a Biedronka, a celebrar 30 anos com a abertura de 56 lojas nos primeiros três meses de 2025 na Polónia e a inauguração das suas primeiras quatro unidades na Eslováquia, em março, viu as vendas crescerem 3,4% para 5,9 mil milhões de euros (+0,3% em moeda local). Mas teve uma queda de 3,5% numa base comparável pelo “significativo efeito de calendário e pela exigente base de comparação que o primeiro trimestre de 2024 constituía, dado o extraordinário crescimento de volumes que a Biedronka então entregou”, diz o documento.

Com “disciplina de custos” e um “mix de margem favorável” na comparação com o período homólogo, a empresa conseguiu um EBITDA de 461 milhões de euros (+3,9%), com a respetiva margem a cifrar-se em 7,7%, em linha com igual período do ano anterior.

Ara cresce 9,1%

A Hebe cresceu 8,5% nas vendas em moeda local e 11,9% em euros (145 milhões), tendo um EBITDA de 3 milhões de euros (- 57,4%) num trimestre em que abriu quatro lojas no mercado polaco e uma na República Checa, terminando o período com um total de 380 lojas na Polónia, quatro na República Checa e duas na Eslováquia.

Na Colômbia, onde a inflação alimentar foi de 4,6% “e o contexto de consumo permaneceu muito desafiante”, a Ara viu as vendas crescerem 13% em moeda local (3% numa base comparável) e 9,1% em euros (775 milhões), contando no final de março com 1.447 lojas e um plano de expansão, que inclui a integração de cerca de 70 localizações anteriormente operadas pela Colsubsidio.

O EBITDA foi de 27 milhões de euros, 50,1% acima do trimestre homólogo, com a respetiva margem a situar-se nos 3,5%.

Consumidor com “comportamento cauteloso”

No comentário aos resultados, o grupo refere que o trimestre decorreu “num contexto exigente e muito volátil”, com uma prioridade clara no início do ano: “garantir a competitividade de preço (...), continuando, desta forma, a fortalecer as nossas posições de mercado”.

“Neste arranque de ano, e apesar do rendimento disponível das famílias ser, no geral, mais elevado, dados os aumentos do salário mínimo nos países onde desenvolvemos os nossos negócios, os números divulgados relativamente ao mercado alimentar continuam a refletir um comportamento cauteloso e sensível ao preço por parte dos consumidores. Manteve-se também o desafio de operar com baixa inflação alimentar, ainda que já não em terreno negativo”, refere o comunicado do grupo liderado por Pedro Soares dos Santos.

Para o presidente do grupo, “o contexto em que nos encontramos a operar em 2025 não revelou, até ao momento, melhoria da visibilidade relativa à evolução da situação geopolítica e à tendência da dinâmica socioeconómica. Num clima de acentuada incerteza, os consumidores mostram-se prudentes e é muito difícil antecipar com um grau razoável de segurança os seus comportamentos futuros”.

“Defender a base de clientes” como prioridade

Na análise que faz ao desempenho do grupo, o gestor nota que “neste ambiente de contenção”, todas as insígnias trabalharam com disciplina para gerir a pressão sobre as margens que decorre da subida dos custos com pessoal na sequência do aumento dos salários mínimos em cada país, num momento em que a inflação nos cabazes permanece baixa”.

Quanto a tendências, “ainda que o primeiro trimestre apenas permita uma leitura muito limitada”, os resultado obtidos “são sólidos e confirmam a competitividade das propostas de valor e a estratégia, dos últimos anos, de reforçar os modelos de negócio das diferentes insígnias”.

Assim, o foco mantem-se “no crescimento sustentável, defendendo as bases de clientes, executando o nosso ambicioso plano de expansão, e respondendo aos desafios ambientais e sociais”, assume.

Já em abril deste ano, o grupo aprovou em Assembleia Geral a atribuição de 40 milhões de euros adicionais à Fundação, que serão registados na demonstração dos resultados, no segundo trimestre, como custo, numa rubrica autónoma. Aprovou, também, a distribuição de um dividendo de 0,59 euros por ação (valor bruto), num valor total de 370,8 milhões de euros, que será pago a 15 de maio.