O Museu do Caramulo e a RTP2 estreiam, no próximo dia 3 de julho, pelas 18h30, no Cinema São Jorge em Lisboa, o documentário “João de Lacerda: O Colecionador Visionário”, integrado nas celebrações dos 100 anos sobre o nascimento do co-fundador do Museu do Caramulo e criador da sua famosa coleção de automóveis e motos.

Produzido pelo Museu do Caramulo e pela Screen, ao longo de dois anos, com o apoio da RTP2, Ministério da Cultura e Lisboa Cultura, e com uma duração de 46 minutos, “João de Lacerda: O Colecionador Visionário” segue-se ao documentário “Abel de Lacerda: O Colecionador Utópico”, de 2021, dedicado ao seu irmão e também co-fundador do Museu do Caramulo.

O documentário, que fará a sua estreia também na televisão, na antena da RTP2, durante o mês de julho, retrata a vida e obra de João de Lacerda (1923-2003), que prosseguiu a obra iniciada pelo seu pai, o Dr. Jerónimo de Lacerda, e pelo seu irmão, Abel de Lacerda, na sua terra natal, o Caramulo.

O documentário “João de Lacerda: O Colecionador Visionário” conta com mais de dez depoimentos de diferentes personalidades que conheceram João de Lacerda e estudaram a sua obra, tais como António José Veloso (médico da Estância Sanatorial), Artur Santos Silva (jurista e gestor), José Barros Rodrigues (historiador) e Adelino Dinis (jornalista), assim como um vasto leque de imagens de arquivo e diferentes filmes de época.

“Não é possível compreender a coleção automóvel do Museu do Caramulo sem conhecer a história do seu fundador, João de Lacerda. Enquanto entusiasta, a sua paixão pela velocidade tinha apenas paralelo no apreço pela história do automóvel e dos seus protagonistas”, sublinha o Museu do Caramulo.

João de Lacerda nasceu em 1923, no Caramulo. Após completar o liceu decide seguir a tradição dos seus antepassados e forma-se na Faculdade de Medicina de Lisboa. Desde logo inicia a sua especialização em pneumologia, trabalhando com tisiologistas de renome. Terminados os estágios, assume a função de Diretor Clínico da Estância Sanatorial do Caramulo.

Com a morte do seu irmão Abel, em 1957, num trágico acidente, no qual ele fica gravemente ferido, vê-se na contingência de assumir a Direção da Estância e abandona a medicina.

Como desde pequeno sempre teve a paixão das obras, fruto de um acompanhamento permanente do seu pai, assume também a direção da Junta de Turismo do Caramulo e dinamiza o crescimento e embelezamento da sua terra, o Caramulo. Dava assim continuidade à grande obra do seu pai, o Dr. Jerónimo de Lacerda, que foi pioneiro na criação de uma povoação modelo para a altura, com água canalizada ao domicílio, eletricidade a partir de uma barragem própria, rede de esgotos com ETAR, sistema de recolha de lixos com forno crematório e jardins e verde numa proporção nunca vista.

Com justiça pode-se dizer que se Jerónimo de Lacerda criou o Caramulo, João de Lacerda deu-lhe a projeção que o tornou conhecido no país e fora dele.

Trabalhador incansável, dedica todo o seu tempo e força à sua terra, completando e dando forma à ideia iniciada pelo seu irmão Abel: a construção do edifício do museu, o que consegue em tempo recorde. É João de Lacerda que cria a Fundação Abel de Lacerda, em homenagem ao seu irmão, e é ao seu carinho e empenho que se deve, quase que exclusivamente, aquilo que é hoje o Museu do Caramulo.

Participação em provas internacionais

Com a sua enorme dinâmica, João de Lacerda leva, por convite, os seus automóveis a participar numa centena das mais conhecidas e prestigiadas provas para automóveis antigos e de coleção, como sejam o London-Brighton, a Louis Vuitton China Run, o Bordeaux-Paris, as Mille Miglia, o Rallye Monte-Carlo, entre outros, onde acumula prémios e louvores. A sua arte de conduzir e o impecável estado das mecânicas, com que apresenta os automóveis, granjeia-lhe a ele e ao Museu do Caramulo enorme respeito e prestígio internacional: “Desde cedo, o jovem médico especializado em pneumologia tornou-se exímio a combinar as suas responsabilidades profissionais com a atividade automobilística. Foi piloto aos fins-de-semana, em rampas, ralis e circuitos, sempre com automóveis provavelmente demasiado modestos para as suas capacidades ao volante. Participou regularmente em provas míticas como as Mille Miglia e o Rallye de Monte-Carlo, em muitas ocasiões como único representante português, conseguindo resultados que mostravam o seu talento inato”, complementa o Museu do Caramulo.

Ford T foi o começo

Quando as obrigações familiares lhe impuseram outras cautelas, dirigiu o seu entusiasmo para os automóveis antigos. Em 1955, comprou, num impulso, um Ford T abandonado, que restaurou cuidadosamente. Foi o primeiro da futura coleção, o complemento perfeito para a obra que o seu irmão Abel lhe deixou para concluir. Perfecionista e criterioso, reconstrói meticulosamente os automóveis que vai adquirindo, dando-lhes a grandeza e autenticidade dos tempos em que circulavam pelas estradas do nosso país.

Em 1955, comprou, num impulso, um Ford T abandonado, que restaurou cuidadosamente. Foi o primeiro da futura coleção.

Na sequência de uma sugestão do Presidente Américo Thomaz, aquando de uma visita ao Museu do Caramulo, decide expor a sua coleção e cria aquilo que fica conhecido como o Museu Automóvel do Caramulo. “Foi um momento visionário que daria início ao fenómeno do colecionismo ligado a veículos e à mobilidade, em Portugal”, sublinha o Museu do Caramulo. Inicialmente instalado no piso térreo do edifício da Fundação Abel de Lacerda e mais tarde em edifício próprio, construído a expensas próprias e com a ajuda de algumas empresas de petróleo, é inaugurado com pompa e circunstância, em 1970, pelo governo.