A agência de notação financeira S&P conduziu um teste de stress a 90 bancos europeus da região Europa, Médio Oriente e África (EMEA), que concluiu que as instituições europeias estão “bem posicionadas para absorver, através dos seus resultados”, possíveis perdas com créditos elevadas devido às tensões de ‘trading’ nos mercados. Segundo a análise conduzida, apenas alguns bancos iriam sofrer efeitos materiais num cenário adverso.

Os ativos dos bancos europeus mantiveram-se resilientes até agora, destaca a agência. Os vários choques macrofinanceiros causaram apenas deteriorações esporádicas qualidade destes ativos. A S&P espera que as métricas da qualidade dos ativos se mantenham “largamente estáveis” até 2026 devido a uma “combinação de fatores cíclicos e estruturais”.

O teste de stress em causa analisou os possíveis efeitos de perdas de crédito em exposições a empresas e a consequente redução de lucros antes de impostos. A análise considera três cenários, explica, que caracterizam os potenciais efeitos das alterações às políticas de tarifas aplicadas pelos EUA.

Neste contexto, a S&P sublinha a elevada incerteza sobre a implementação dessas mesmas políticas e alerta que, portanto, a sua previsão tem também ela um alto grau de incerteza, ampliado também pelos conflitos geopolíticos em curso. As tarifas aplicadas por Donald Trump, bem como as possíveis respostas de outros países, e ainda o seu potencial efeito na economia, cadeias de abastecimento e condições globais de crédito condicionam a análise da agência, nota a mesma.

Estabilidade por toda a EMEA, até nos mercados emergentes

A expectativa de estabilidade nos bancos não se circunscreve ao continente europeu. O desempenho dos bancos de toda a EMEA deve manter-se estável ao nível do crédito, estima a S&P, apesar dos riscos geopolíticos e das incertezas do mercado, criadas pelas tarifas de Trump. “Consideramos que a maioria dos bancos da EMEA estão bem posicionados no meio deste ambiente cada vez mais desafiante”, descreve a agência de notação.

86% dos ‘outlooks’ atribuídos pela S&P aos bancos da região são estáveis e 9% são positivos. A razão para esta confiança nas instituições prende-se com a sua “boa rendibilidade, liquidez adequada, qualidade de ativos sólida e capitalização saudável ao longo dos últimos dois anos”, argumenta. Contudo, a S&P deixa o alerta de que os riscos estão a aumentar.

A título de exemplo, as instituições financeiras com maior exposição a setores vulneráveis às tarifas Trump e as entidades mais sensíveis às condições potencialmente mais constrangedoras de financiamento devem sentir maior pressão.

Ainda que se espere resiliência por parte do setor bancário, a S&P enumera vários riscos para o ‘rating’ dos bancos da EMEA.

Neste sentido, desenvolvimentos geopolíticos negativos e maior protecionismo do que o previsto podem causar um crescimento económico global e regional mais fraco, o que, por sua vez, pode levar a mais imparidades. Paralelamente, a turbulência no mercado e alterações desordeiras aos preços podem destabilizar as instituições financeiras, afetar a liquidez, materializar riscos no mercado e ainda aumentar incumprimentos por parte das empresas.

Uma fraca dinâmica fiscal e de dívida pública, avisa a S&P, pode restringir a capacidade dos governos de apoiar a economia. Assim, o ambiente operacional dos bancos fica potencialmente mais fraco.

Por fim, riscos em ascensão, relacionados com cibersegurança ou alterações climáticas, por exemplo, podem prejudicar entidades de crédito e infraestruturas críticas e ainda colocar em risco a viabilidade de longo prazo de certas instituições financeiras.

Olhando especificamente para os mercados emergentes da EMEA, os bancos destas áreas também demonstram desempenho “resiliente”, com 78% de ‘outlooks’ estáveis e 16% positivos, sublinha a agência de notação financeira.

Segundo a S&P, “maior parte dos sistemas bancários na área emergente da EMEA beneficiam de rendibilidade sólida, ‘buffers’ de capital estáveis e liquidez suficiente para apoiar a sua capacidade de crédito ao longo de 2025 e 2026”. Mas também não estão livres de riscos.

A escalada da guerra na Ucrânia, o possível fim do cessar-fogo em Gaza ou alterações na administração americana em relação a ajudas externas podem originar preços voláteis de energia e matérias-primas, disrupções na cadeia de abastecimento, volatilidade do mercado e mais pressão inflacionista, elenca a S&P.

Mais ainda, a incerteza sobre o rumo das taxas de referência da Reserva Federal – devido às preocupações com o crescimento económico americano – limita a capacidade dos bancos centrais dos mercados emergentes implementarem os seus planos de flexibilização monetária. A par disto, países emergentes com grande dependência de dívida externa – como é o caso do Qatar, Bahrain, Uzbequistão e Turquia – são vulneráveis a alterações nas condições globais de concessão de crédito, que podem afetar a sua capacidade de refinanciar a sua dívida externa vencida.

Ainda assim, a S&P destaca que 79,7% dos bancos da EMEA têm ‘investment-grade’. Nos bancos da área desenvolvida da EMEA, este número sobe para 96%, enquanto nos países emergentes cai para perto de 35%.

“Nos últimos dois anos, o ambiente macroeconómico favorável na maioria dos mercados da EMEA, a abordagem cautelosa dos bancos à concessão de crédito, a recuperação dos lucros e as sólidas posições de capital sustentaram a nossa expetativa de um desempenho resiliente para a maioria das instituições financeiras da EMEA”, ilustra a agência. “Este facto é demonstrado por uma acentuada tendência para uma perspetiva de ‘rating’ estável. Nos últimos trimestres, as nossas ações de ‘rating’ sobre os bancos da EMEA também mantiveram um enviesamento líquido positivo”, conclui.