A suspensão temporária das tarifas dos EUA, exceto para a China, está a atenuar a contração do comércio, mas o declínio do comércio global de bens poderá atingir 1,5% em volume em 2025, dependendo da política alfandegária de Donald Trump, de acordo com as previsões anuais da OMC.

"Estou muito preocupada", salientou Okonjo-Iweala numa conferência de imprensa, referindo que a OMC esperava um colapso de 81% no comércio entre os Estados Unidos e a China.

"A incerteza persistente ameaça abrandar o crescimento global, com graves consequências negativas para o mundo, particularmente para as economias mais vulneráveis", acrescentou, citada num comunicado.

A OMC esperava uma expansão contínua do comércio global em 2025 e 2026. Mas a organização reviu a sua previsão face à guerra comercial.

"Nas condições atuais", ou seja, tendo em conta a suspensão anunciada pelo Presidente norte-americano Trump das suas colossais taxas alfandegárias contra o resto do mundo, com exceção da China, "o volume do comércio mundial de mercadorias deverá cair 0,2% em 2025", antes de mostrar uma "recuperação modesta" de 2,5% em 2026, de acordo com a OMC.

Mas "existem riscos negativos significativos, como a aplicação de tarifas recíprocas e a disseminação mais ampla da incerteza política, o que poderá levar a um declínio ainda mais acentuado do comércio mundial de bens (de 1,5%) e prejudicar os países menos desenvolvidos orientados para a exportação".

Nas condições atuais, o declínio do comércio de bens "deve ser particularmente acentuado na América do Norte, onde as exportações deverão cair 12,6%" este ano, afirmou a OMC. As importações desta região deverão cair 9,6%.

Espera-se que a Ásia apresente um crescimento modesto tanto nas exportações como nas importações este ano (1,6% para ambas), assim como a Europa (1% para as exportações e 1,9% para as importações).

Prevê-se que as exportações de bens chineses aumentem 4 a 9 por cento em todas as regiões fora da América do Norte, refletindo perturbações comerciais entre os Estados Unidos e a China.

O relatório da OMC contém pela primeira vez uma previsão para o comércio de serviços, que deverá crescer 4,0% em 2025, cerca de 1 ponto percentual menos do que o anteriormente previsto.

A OMC espera que o produto interno bruto (PIB) cresça 2,2% este ano e 2,4% no próximo ano.

Okonjo-Iweala manifestou profunda preocupação com o declínio do comércio entre os Estados Unidos e a China, à medida que os dois países entraram numa escalada tarifária.

Embora o seu comércio "represente apenas cerca de 3% do comércio global de bens, uma dissociação" destas duas grandes economias "poderá ter consequências consideráveis", alertou, afirmando que isso poderia "contribuir para uma maior fragmentação da economia global", que seria então organizada "ao longo de linhas geopolíticas em dois blocos isolados".

Neste cenário, salientou, "o PIB real global seria reduzido em quase 7% a longo prazo", ou seja, até 2040.

"Perante esta crise", o responsável da OMC acredita que os países "têm uma oportunidade sem precedentes para dar um novo fôlego à organização", nomeadamente implementando um processo de decisão mais rápido. Apela ainda, entre outras coisas, a "promover condições de concorrência justas" face às diferentes formas de subsídios existentes nos países.

"Os Estados Unidos, como sabem, estão muito preocupados com a igualdade de condições, tal como a UE", enquanto "a China está preocupada com os subsídios agrícolas", citou como exemplo.