
Mahmoud Ali Youssouf falava hoje na cerimónia de abertura da 17.ª Cimeira de Negócios EUA-África, que decorre até quarta-feira em Luanda, e alertou para o que considerou como obstáculos aos negócios, aludindo às decisões da administração norte-americana de aumentar tarifas e alargar proibições de viagens a mais 36 países africanos, incluindo os lusófonos Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
"Quando 36 países da África não possuem ou são negados vistos para os Estados Unidos, como pode o comércio desenvolver-se entre as duas áreas? Quando as tarifas são impostas de forma abusiva contra os Estados africanos e, em alguns casos, mais de 40%, como é que os negócios se vão desenvolver?", questionou, sendo aplaudido pela plateia.
O responsável da União Africana lamentou também que se tenha posto fim ao AGOA (Lei de Crescimento e Oportunidade para África), bem como os programas de ajuda ao desenvolvimento da USAID.
"Tudo isso foi abandonado. Alguém dizia que isso é um despertar para as nações africanas", disse, salientando que a África vai depender cada vez mais dos seus recursos domésticos.
"Nós estamos a desenvolver políticas para mobilizar recursos nacionais, mas nós não podemos aceitar a rejeição de vistos. Nós não podemos aceitar tarifas infelizes que não têm nada a ver com as regras da Organização Mundial de Comércio", criticou.
Por outro lado, salientou que a nova Comissão da União Africana se concentrou nos desafios da paz e da integração para pacificar o continente e promover os setores chave, tais como minerais e energia, saúde e agroindústria, infraestruturas e economia digital, "portadores de desenvolvimento e prosperidade".
"Não há dúvidas de que a África tem recursos naturais e humanos, 30% dos recursos minerais mundiais estão no continente, com uma população de 1,4 mil milhões de habitantes", salientou Mahmoud Ali Youssouf.
A nova Comissão da União Africana foi eleita em fevereiro - quando o Presidente angolano, João Lourenço, assumiu também a presidência rotativa da organização - e é responsável por implementar as políticas e estratégias aprovadas pelos órgãos da UA, que conta com 55 Estados-membros.
O responsável da Comissão da UA descreveu os EUA como "um polo financeiro e de conhecimento", salientando a importância de uma parceria equilibrada, justa e equitativa para que os Estados-membros da UA abram seus mercados e atraiam capital, lembrando que, em 2025, o crescimento médio em África se estima em 3,9% e mais de 21 países terão um crescimento superior a 5%.
"Além disso, a luta contra a corrupção e o levantamento progressivo das barreiras tarifárias e não-tarifárias é o objetivo perseguido pelos nossos Estados-membros", acrescentou, sublinhando que o continente está firmemente engajado em harmonizar as políticas comerciais, domésticas e financeiras.
O responsável destacou o setor privado como um dos principais motores de desenvolvimento e prosperidade, sendo "a combinação de políticas públicas e o setor privado" garantia de um futuro melhor para as nações africanas.
Ao mesmo tempo, prosseguiu, é importante introduzir reformas no sistema financeiro global e nas regras da Organização Mundial de Comércio.
Mahmoud Ali Youssouf disse ainda que o próximo G20 Summit na África do Sul "será uma boa oportunidade para que a voz da África seja ouvida, alto e bom som", sublinhando que o continente africano é considerado por muitos como o centro de poder do futuro crescimento global.
RCR // JMC
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