
Chancelas e livrarias como Edições do Saguão, Frenesi, Letra Livre, Livros de Bordo, Maldoror, Tigre de Papel e outros editores com os quais partilham pavilhões, responderam, no último ano, pela entrada de centenas de novos títulos no mercado livreiro português.
Os seus catálogos revelaram autores como o britânico Olaf Stapledon, no caso do VS Editor, e o histórico japonês Saigyo, no caso da Flâneur; arriscaram divulgação científica, com 'Planeta Simbiótico', de Lynn Margulis, na Saguão, resgataram obras como as do geógrafo Orlando Ribeiro, de novo disponíveis na Letra Livre, e trouxeram títulos de "grandes escritores" que maiores editoras nem sempre ousam.
A não (edições), que no início do mês publicou 'Este Mundo É Um Verstep - Antologia de Poesia Ucraniana', é um dos exemplos, com o seu catálogo pleno de autores como Edwin Morgan ('Última Mensagem'), Gertrude Stein ('A Barriga no Ar'), Patti Smith ('Mar de Coral'), Paul Auster ('Espaços em Branco') e a sempre candidata ao Nobel Anne Carson ('Vidro, Ironia e Deus'), além de Isadora Neves Marques ('A Campa de Marx'), Rosa Oliveira ('Desvio-me da Bala...') e Tatiana Faia ('Adriano').
As Edições do Saguão somam livros como 'A Uma Hora Incerta', poemas de Italo Calvino, 'A Longa Estrada de Areia', contos de Pasolini, 'Diário de Exílio', de Yannis Ritsos, e 'Um Inconcebível Acaso', da Nobel da Literatura Wislawa Szymborska.
Esta editora tem reunido a obra de Alberto Pimenta ('O Poeta e o Social', 'They'll Never be the Same', 'Ilhíada'), publicado autores como André Gorz (tradução de Rui Caeiro), Antero de Quental, Cesare Pavese, Maria Filomena Molder, Silvina Rodrigues Lopes, Rui Pires Cabral ('Tense Drills').
Entre as edições recentes da Saguão contam-se 'Ser Moderno... em Portugal', de Ernesto de Sousa, e 'Revoluções -- Guiné-Bissau, Angola e Portugal (1969-1974)', do fotógrafo italiano Uliano Lucas, que acompanhou movimentos de luta em África, antes e depois de Abril de 1974.
Neste pavilhão, também podem ser encontrados editores como a BCF, responsável por títulos de Alexander Kluge ('Crónica dos Sentimentos'), Chantal Akerman ('Uma Família em Bruxelas'), Hervé Guibert ('A Imagem Fantasma'), Marcel Schwob ('A Cruzada das Crianças'); VS, com 'Cartas da Prisão', de Antonio Gramsci, 'Poesia', de Ernesto Sampaio; e a Flâneur, com títulos como 'O Homem-Alegria', de Christian Bobin, 'Pássaros & Cogumelos', de Joana Gama e João Godinho, e 'Uma Só Carne com a Noite', traduções e versões de Vasco Gato, numa edição com a Língua Morta.
A Livros de Bordo tem em catálogo autores como Albert Londres ('Na Índia') e Wenceslau de Moraes ('Relance da Alma Japonesa'). No seu pavilhão estão títulos da Antítese, Bestiário, Cornuda Radiante, Museu da Paisagem, Snob, como 'Álcoois', de Apollinaire, 'Museu do Romance da Terna', de Macedonio Fernández (influência de Jorge Luis Borges), 'Diálogos sobre a Culminação dos Tempos Modernos', de Jaime Semprun, 'Tamanha Vastidão', de Duarte Belo, e a antologia da 'Poesia Portuguesa Contemporânea', organizada por Joaquim Manuel Magalhães.
Os Livrinhos de Teatro dos Artista Unidos têm vindo a ser publicados com a Snob. Entre os mais recentes contam-se 'Isma ou o que se Chama Nada', de Nathalie Sarraute, 'Quatro Corações com Travão e Marcha-Atrás', de Enrique Jardiel Poncela, e 'O Percevejo', de Vladimir Maiakovski.
Letra Livre e Maldoror, que partilham entre si o calendário de Livros do Dia, têm edições próprias de autores como Orlando Ribeiro ('A Formação de Portugal', 'Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico'), Emil Cioran ('A tentação de Existir'), André Breton ('Manifestos do Surrealismo'), Georges Bataille ('Teoria da Religião'), João César Monteiro ('Obra Escrita'), Franz Fanon ('Os Condenados da Terra'), Mário Pinto de Andrade ('Origens do Nacionalismo Africano 1911-1961') e António Jacinto ('Obra Reunida').
As novidades da Maldoror incluem 'Cantos de Maldoror', de Lautréamont, com tradução de Pedro Tamen e desenhos de René Magritte, e 'O Relatório de Brodeck', de Philippe Claudel, 'parábola sombria sobre a guerra, a xenofobia e a memória', num catálogo que inclui Ezra Pound, Jean Genet e Constantin Cavafy, entre muitos outros autores.
Na Letra Livre, podem ser encontradas edições da Averno, como a recente 'Súmula Poética', de António Barahona da Fonseca, e títulos ainda disponíveis da antiga &etc, fundada por Vitor Silva Tavares.
Na Maldoror, também estão a Língua Morta e a Cutelo. A primeira, que tem 'A Mulher do Meio', de Ivone Mendes da Silva, editou recentemente 'O Prato do Diabo - Um Dicionário Pachecal', de Luiz Pacheco, organizado por João Pedro George, 'O Equilíbrio', de Tonino Guerra, e 'O Futuro é o Mal', de Heiner Müller. A Cutelo soma títulos como 'Knockemstiff', de Donald Ray Pollock, e 'Vestuário Contra as Mulheres', de Anne Boyer.
A antologia 'A Liberdade não se Concede, Conquista-se. Que a Conquistem os Negros!', com textos de Mário Domingues, foi publicada pelo jornal A Batalha com a Letra Livre e a Falas Africanas.
Entre as publicações d'A Batalha, no pavilhão da Chili com Carne, contam-se 'Cem Mil Anos para Ir à Escola', antologia do poeta norte-americano Paul Goodman, numa edição com a Barricada de Livros, e 'A Luta Armada Anticapitalista na Catalunha nos Últimos Anos do Franquismo', antologia de Salvador Puig Antich, assassinado pela ditadura espanhola.
Na Livraria Tigre de Papel, as edições próprias incluem títulos como 'Cambedo da Raia - Solidariedade Galego Portuguesa Silenciada', de vários autores, no contexto da Guerra Civil de Espanha, 'Cidade Suave', de David Sim, 'Fado Tropical', de Marcos Cardão, 'Pedrógão Grande. O Direito à Arquitectura Pós-Incêndio', pesquisa de Marina Marmelada, e 'Inácia, a Galinha Sindicalista', de Dora Santos Rosa e Felisbela Fonseca, para todas as idades.
Na Tigre de Papel também é possível encontrar a Casa da Achada, que reedita Mário Dionísio e publicou 'Ver Agora Melhor o Mais Distante', de Regina Guimarães; e a Companhia das Ilhas, editora de 'Escola do Melhor. Luz e Sombra nas Artes da Imagem', de João Barrento, 'Pelléas e Mélisande', de Maeterlinck, numa tradução de Pedro Eiras, e de atores como Gertrude Stein, TS Eliot e Vitorino Nemésio.
Da Fora de Jogo, também aqui representada, contam-se 'O Petróleo de Angola. Uma história colonial (1881-1974)', de Franco Tomassoni, e 'Memórias de um Caçador de Lixo', de Celso Mussane, sobre a vida nos bairros suburbanos durante a presença portuguesa em Moc¸ambique.
'Lisboa e a Memória do Império', de Elsa Peralta, da editora Outro Modo, e produções do projeto Boca, como 'Histórias de Liberdade', de Miguel Torga, também estão na Tigre de Papel.
A Frenesi conjuga edição com atividade livreira e de alfarrabista. O escaparate pode incluir obras de ficção de Nelson de Matos, antigo editor da Dom Quixote, que morreu no passado dia 08, raridades como 'Lisboa e quem Cá Vive', contos de Irene Lisboa publicados sob o nome de João Falco, pela Seara Nova, e reedições como 'O Calcanhar de Aquiles', de Rafael Bordalo Pinheiro.
O catálogo inclui ainda originas da poesia de Fátima Maldonado ('Cadeias de Transmissão'), Helder Moura Pereira ('Amor Carnalis') e Paulo da Costa Domingos ('O Homem Quase Novo'), ensaios de Raoul Vaneigem ('Banalidades de Base'); pode revelar a escrita de Asger Jorn, artista do movimento Cobra ('A Roda da Fortuna') e resgatar os clássicos de Baltazar Gracián y Morales e Ludovico Ariosto.
Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Fialho de Almeida, Gil Vicente, Manuel Laranjeira são outros autores na Frenesi, que também editou 'O Teatro da Cornucópia -- As Regras do Jogo', de Carlos Alberto Machado.
Na miríade dos mais pequenos editores, a presença de livrarias e distribuidoras na feira do livro poderá ainda abrir portas a chancelas sem 'representação oficial', através das suas lojas.
Entre os muitos casos, destacam-se edições recentes como 'Serenamente sobre Lanternas', estreia em Portugal da norte-americana Andrea Cohen, numa tradução de Francisco José Craveiro, na editora do lado esquerdo, 'Arder no Gelo', do moçambicano Mélio Tinga, publicado por A Morte do Artista, 'Mais Uma Desilusão', de Valério Romão, editado pela Abysmo, o texto do compositor John Cage 'Onde é Que Estamos a Comer? O Que é Que Estamos a Comer?', da Douda Correria, e 'Poemas Escolhidos 1959-2024', do norte-americano Neeli Cherkovsky, da Barco Bêbado.
A 95.ª edição da Feira do Livro de Lisboa encerra no próximo domingo.