A perda involuntária de urina é uma condição comum que afeta mulheres e homens e tem um impacto muito significativo na sua qualidade de vida. Embora haja uma tendência para o aumento da prevalência com a idade, pode ocorrer em todas as faixas etárias. No Dia Mundial da Incontinência Urinária importa alertar para esta condição e para os tratamentos possíveis atualmente.

Quais as principais causas?

Este problema pode resultar de diferentes causas, sendo as mais comuns a fragilidade do pavimento pélvico, relacionadas com envelhecimento ou com alterações pós parto, as patologias que condicionam alterações no controlo neurológico da bexiga e esfíncter urinário, nomeadamente doenças neurológicas, e lesões do aparelho esfincteriano pós-cirurgia pélvica.

Existem diferentes tipos de incontinência urinária?

Sim. De forma geral, podemos classificar a incontinência urinária em três tipos principais. A incontinência urinária de esforço, que se manifesta durante períodos de atividade física ou situações que condicionam aumento da pressão abdominal (prática de exercício físico, tosse, riso) e se associa à fragilidade do pavimento pélvico ou do aparelho esfincteriano. A incontinência urinária de urgência, que se caracteriza pelo surgimento súbito de necessidade de urinar seguido de perda involuntária e está associada à contração involuntária e desadequada da bexiga. E a incontinência urinária mista, que resulta da associação de ambos os tipos anteriores.

João Cabral, urologista no Instituto CUF Porto e Clínica CUF S. João da Madeira© CUF

Que tipos de tratamento existem?

Existem várias formas de tratamento. Para além do tratamento farmacológico, existe também a reeducação pélvica e o tratamento cirúrgico. O tratamento cirúrgico está indicado sempre que os tratamentos conservadores se revelam insuficientes. A abordagem cirúrgica depende de múltiplos fatores, nomeadamente do tipo/causa subjacente, da gravidade das perdas e da presença de eventuais outras doenças.

Atualmente as técnicas cirúrgicas minimamente invasivas permitem uma rápida recuperação e, sendo executadas por cirurgiões experientes, aliam uma elevada eficácia na resolução da incontinência urinária com uma baixa taxa de complicações.

Tratamentos para incontinência urinária de esforço

No âmbito dos procedimentos para tratamento da incontinência urinária de esforço, existe a hipótese de colocação de fita suburetral, fita de tecido do próprio doente ou sintético, a reforçar a porção posterior da uretra, impedindo a sua abertura com o aumento da pressão abdominal; a colocação de um esfíncter urinário artificial, dispositivo que comprime a uretra e cujo controlo é efetuado manualmente pelo doente, utilizado nas situações mais graves de incontinência urinária, quando o volume de perda é grande e a integridade do aparelho esfincteriano do doente está severamente comprometido; e a injeção de substâncias (produtos expansores) que aumentam o volume ao redor da uretra para ajudar a fechá-la melhor e evitar perdas involuntárias de urina. Este procedimento é apenas utilizado quando as duas técnicas anteriores estão contraindicadas.

Tratamentos para incontinência urinária de urgência

Os procedimentos para tratamento da incontinência urinária de urgência incluem a injeção de toxina botulínica e a neuromodulação sagrada. A injeção de toxina botulínica (substância que bloqueia temporariamente a transmissão dos sinais nervosos para os músculos, impedindo a sua contração excessiva) consiste na aplicação, por via endoscópica, da toxina no músculo da bexiga, responsável por contraí-la para expulsar a urina. Este fármaco reduz o número e a amplitude das contrações involuntárias da bexiga e, dessa forma, trata as perdas de urina associadas. No entanto, a sua atividade tem duração limitada, geralmente entre 6 e 9 meses, requerendo muitas vezes tratamentos repetidos.

Por outro lado, a neuromodulação sagrada é uma técnica que implica a implantação de elétrodos nas raízes dos nervos sagrados, através dos quais são enviados, por um gerador (semelhante a um pacemaker cardíaco), impulsos elétricos que reduzem as contrações involuntárias da bexiga. Inicialmente, é colocado um dispositivo de teste que, numa segunda fase, é convertido em definitivo caso se verifique uma melhoria dos sintomas.

Na presença de sintomas, a quem devo recorrer?

Tratando-se de uma patologia do foro urinário é à Urologia que compete a sua investigação diagnóstica e tratamento adequado. Muitas vezes, as pessoas adiam a procura de ajuda por vergonha ou por associar o problema ao envelhecimento. No entanto, a incontinência urinária tem tratamento e pode melhorar a qualidade de vida.

Procure um urologista diferenciado nesta área para avaliar o seu caso e propor o tratamento mais adequado.