
A subida das águas do mar tornar-se-á insustentável, mesmo que se cumpra a meta internacional de manter o aumento da temperatura global abaixo dos 1,5°C, o que levará a uma “migração catastrófica”. A conclusão é de um novo estudo, publicado na revista “Communications Earth and Environment”, e que foi citado pelo jornal “The Guardian”.
Os investigadores concluíram ainda que o cenário de migrações incontroláveis poderá concretizar-se mesmo que o nível médio de aquecimento da última década, de 1,2°C, se mantenha no futuro.
A meta internacional de manter o aumento da temperatura global abaixo dos 1,5°C (limite fixado pelo Acordo de Paris) está praticamente fora de alcance, mas mesmo que as emissões de combustíveis fósseis fossem rapidamente reduzidas para atingir o objetivo, os níveis do mar subiriam um centímetro por ano até ao final do século, ou seja, a um ritmo mais rápido do que a velocidade a que as nações conseguiriam construir defesas costeiras.
Desde a década de 1990, quadruplicou a perda de gelo da Gronelândia e da Antártida, e os cientistas acreditam que o mundo se encaminha para um aquecimento global de 2,5°C a 2,9°C — um nível que os investigadores definem como crítico, porque provocaria o colapso das camadas de gelo das regiões polares e uma subida “realmente terrível” de 12 metros do nível do mar.
A subida do nível do mar de apenas 20 centímetros até 2050 causaria danos globais por inundações de pelo menos um bilião de dólares (888 milhões de euros) por ano nas 136 maiores cidades costeiras do mundo, gerando enormes impactos na vida e nos meios de subsistência das pessoas.
Os autores do estudo consideram que a temperatura “limite de segurança” para as camadas de gelo era difícil de estimar, apontando para 1°C ou menos. Mas este cálculo serve apenas para que os países ganhem tempo. “O que queremos dizer com limite seguro é aquele que permite algum nível de adaptação, em vez de migração catastrófica para o interior e migração forçada, e o limite seguro é de aproximadamente um centímetro por ano de subida do nível do mar”, aponta Jonathan Bamber, da Universidade de Bristol, no Reino Unido. “Se chegarmos a esse ponto, qualquer tipo de adaptação tornar-se-á extremamente desafiante, e veremos uma migração terrestre em massa, em escalas que nunca testemunhamos na civilização moderna.”
O professor Chris Stokes, da Universidade de Durham, principal autor do estudo, também afirmou, em declarações ao jornal “The Guardian”, que começavam a ver “alguns dos piores cenários a concretizarem-se quase à nossa frente”.
“Com o atual aquecimento de 1,2°C, a subida do nível do mar está a acelerar a taxas que, se continuarem, se tornarão quase incontroláveis antes do final deste século, ou seja, durante o tempo de vida dos nossos jovens”, acrescentou Stokes. A perda contínua de massa das camadas de gelo representa uma ameaça existencial para as populações costeiras de todo o mundo, alerta aquele estudo.