Foi na Biblioteca Pública de Évora, perante uma plateia composta por cidadãos, autarcas e representantes de diferentes forças políticas, que Lurdes Pratas Nico apresentou, na passada sexta-feira, o seu livro: «Episódios da Vida de uma Vereadora na Oposição…».

A sessão integrou o programa oficial da Feira do Livro de Évora 2025 e contou com a participação do presidente da Câmara Municipal de Évora, Carlos Pinto de Sá, e do presidente da Assembleia Municipal, Jorge Araújo.

A obra resulta da experiência da autora enquanto vereadora sem pelouros e em regime de não permanência, eleita pelo Partido Socialista para o executivo municipal no mandato 2021-2025. Com uma estrutura composta por pequenos textos, o livro reúne episódios vividos durante quatro anos de trabalho na oposição, procurando documentar momentos significativos do exercício político autárquico e refletir sobre o papel e os limites da função de vereador.

«Foi no exercício das minhas funções enquanto vereadora que comecei em 2021 e, como gosto de escrever, ia anotando situações que me pareciam curiosas, engraçadas ou inusitadas», afirmou a autora durante a apresentação. Muitas dessas situações surgiram no contacto direto com os munícipes ou no decurso das reuniões camarárias, descrevendo um quotidiano nem sempre visível para quem está fora dos corredores do poder local.

Lurdes Pratas Nico esclareceu que o livro não pretende ser apenas um registo pessoal. «Há outro objectivo no livro, que é também falar sobre o papel do vereador, reflectindo sobre o enquadramento legal das nossas funções, que hoje reconheço que precisa de ser mudado», afirmou, sublinhando a exigência da função para quem exerce o cargo em regime de não permanência. «Temos que conciliar isso com a nossa actividade profissional. É extremamente desgastante», alertou.

A autora considera que a legislação em vigor não oferece condições adequadas para o exercício da função na oposição. «E nem estou a falar de questão financeira, estou a falar do tempo que temos, que é manifestamente insuficiente para a responsabilidade que é. Eu não sabia disso antes», confessou, sublinhando que o processo foi também uma aprendizagem.

Lurdes Pratas Nico destacou o valor da proximidade entre eleitos e população como elemento distintivo da democracia local. «As pessoas conhecem-nos na rua. Nós podemos e devemos ajudá-las na resolução dos seus problemas», afirmou. «Isso faz a diferença e é uma especificidade do poder local».

A apresentação do livro, com a presença de representantes de diferentes partidos, serviu também de mensagem política. «Nós não somos inimigos, somos adversários políticos. Combatemo-nos nas ideias», frisou. «Convidei o senhor Presidente da Câmara e o senhor Presidente da Assembleia Municipal porque, sendo de forças políticas diferentes, partilhamos o mesmo objectivo: o bem de Évora». A autora acredita que este espírito deve ser preservado: «Queremos o bem para as pessoas, ainda que com formas diferentes de o concretizar».

O livro, escrito ao longo de quatro anos, entre interrupções e retomadas, representa também uma reação à velocidade da comunicação atual. «Hoje é tudo muito rápido. A comunicação nas redes sociais é imediata, mas acho que se perde muito», referiu. «Um livro é sempre um livro. O folhear de um livro é muito diferente de ler em formato digital».

«Episódios da Vida de uma Vereadora na Oposição…» dirige-se, em primeiro lugar, aos eborenses, mas também a todos os que pretendem compreender melhor o funcionamento da política local. «O livro também é uma tentativa de responder àquela pergunta que as pessoas fazem: o que é que vocês fazem?», explicou. «Quis dar um contributo a partir da minha pequena experiência».

Concluiu assumindo que o livro assinala o fim de um ciclo. «Este está a terminar, é um mandato de quatro anos. Seguem-se agora eleições com outros candidatos, outros rostos», disse, deixando uma nota de expectativa para o futuro da cidade. «Desejo que Évora se desenvolva. Évora Capital Europeia da Cultura é um grande desafio e vou querer ver com muito gosto todo esse futuro que teremos pela frente».