
A Comissão Europeia foi surpreendida por uma onda de interesse sem precedentes no seu mais ambicioso projeto digital até à data: a construção de megacentros dedicados à Inteligência Artificial (IA). No total, 76 manifestações de interesse foram submetidas por consórcios espalhados por 16 Estados-membros da União Europeia, excedendo largamente as previsões de Bruxelas.
A iniciativa, que visa erguer quatro “gigafactories” de IA com capacidade avançada de computação e armazenamento, promete colocar a Europa no mapa da nova corrida global pela supremacia tecnológica. Embora os nomes dos candidatos permaneçam confidenciais, fontes comunitárias confirmaram que entre os interessados estão gigantes tecnológicos europeus e internacionais, operadores de centros de dados, empresas de telecomunicações, fornecedores de energia e investidores financeiros.
Num dado particularmente revelador da ambição envolvida, os proponentes indicaram intenções conjuntas de aquisição de mais de três milhões de unidades de processamento gráfico (GPUs) de última geração — componentes fundamentais para o treino de modelos de IA de larga escala.
“Este nível de interesse excede em muito as nossas expectativas”, afirmou Henna Virkkunen, responsável europeia pela área tecnológica, durante uma conferência de imprensa em Bruxelas. “É um claro sinal do dinamismo e da vontade crescente de inovar em IA dentro da Europa.”
A resposta robusta surge na sequência de uma consulta pública encerrada a 20 de junho, que visava recolher contributos preliminares para a próxima fase do plano europeu de IA. No horizonte estão 60 localizações potenciais para os futuros centros, que deverão funcionar como infraestruturas críticas na formação e operação de sistemas de IA generativa e outros modelos avançados.
O projeto enquadra-se no AI Continent Action Plan, a estratégia da União Europeia para reposicionar o continente como um polo competitivo no desenvolvimento tecnológico. Embora esta fase não envolva financiamento direto nem compromissos formais, será fundamental para moldar o concurso oficial previsto até ao final do ano.
Com uma dotação de 20 mil milhões de euros já anunciada para dar corpo aos primeiros quatro centros, a Comissão Europeia sinaliza não apenas uma aposta em inovação, mas também uma resposta geoestratégica à crescente dependência tecnológica de terceiros países — nomeadamente dos Estados Unidos e da China, que lideram atualmente o desenvolvimento de grandes modelos de linguagem e infraestruturas associadas.
Além da componente tecnológica, o projeto funcionará como piloto para uma nova ferramenta de coordenação da competitividade entre Estados-membros, tentando alinhar políticas e execuções nacionais com os objetivos pan-europeus.
Com esta mobilização sem precedentes, a Europa parece finalmente determinada a não perder a próxima revolução industrial — desta vez, alimentada por algoritmos, dados e circuitos de alta densidade. E, ao que tudo indica, a corrida já começou.