
O anúncio, feito na rede Threads, representa não só um novo capítulo na história da empresa, mas também uma escalada ambiciosa na aposta estratégica da Meta: liderar a próxima geração de tecnologias cognitivas.
“Estamos a construir vários clusters titânicos. Um único destes centros ocupa uma parte significativa da pegada de Manhattan”, escreveu Zuckerberg, num tom simultaneamente épico e pragmático.
Prometheus e Hyperion: os novos templos da IA
Os primeiros mega-projetos têm nomes mitológicos à altura da ambição: Prometheus, previsto para entrar em operação em 2026, será o primeiro centro de dados multi-gigawatt da Meta. Hyperion, por sua vez, poderá escalar até uns impressionantes 5 gigawatts nos próximos anos — uma capacidade energética comparável à de uma pequena cidade.
Estas infraestruturas não são meramente incrementais; representam uma ruptura. Estão desenhadas para albergar clusters de treino e inferência de larga escala, necessários para sustentar os modelos de linguagem e visão artificial da próxima década — incluindo a tão falada superinteligência.
Zuckerberg partilhou ainda um relatório da SemiAnalysis, publicação especializada em semicondutores e IA, que posiciona a Meta na dianteira global: será a primeira empresa a ter um supercluster de IA com mais de um gigawatt em operação.
A máquina publicitária por detrás do sonho
A Meta, que registou receitas na ordem dos 165 mil milhões de dólares em 2024, está a apoiar esta corrida tecnológica com base na solidez do seu negócio publicitário.
Segundo o analista, Gil Luria, da D.A. Davidson, citado pela Reuters, “a Meta está a investir agressivamente em IA porque já está a colher frutos: a tecnologia permite-lhe vender mais anúncios e a preços mais elevados.” O impacto é tangível: as ações da empresa subiram 1% após o anúncio, acumulando mais de 20% de valorização desde o início do ano.
Este crescimento justifica, segundo Zuckerberg, a despesa astronómica — mas não isenta a empresa de riscos. O CEO tem enfrentado críticas internas e externas, especialmente após as dificuldades sentidas com o modelo LLaMA 4 e a saída de figuras-chave do seu laboratório de IA.
Em resposta, reorganizou recentemente os esforços da Meta numa nova divisão batizada Superintelligence Labs, com o objetivo claro de acelerar o ritmo de inovação. Entre as apostas destacam-se a aplicação Meta AI, novas ferramentas publicitárias que convertem imagens em vídeo e os óculos inteligentes — estes últimos desenvolvidos em parceria com a Ray-Ban, numa tentativa de trazer a IA generativa para o quotidiano dos utilizadores.
O dilema do código aberto
Segundo o New York Times, existe um debate interno em curso entre os engenheiros da Meta: abandonar o modelo Behemoth — a mais poderosa IA open-source da empresa — para avançar com uma alternativa proprietária, mais protegida e, potencialmente, mais rentável.
A decisão não é trivial. A Meta foi, durante anos, uma defensora vocal da abertura no desenvolvimento de IA, posicionando-se como uma alternativa ética aos gigantes que preferem modelos fechados. Mas a pressão competitiva, especialmente frente à OpenAI, Google DeepMind e Anthropic, poderá estar a mudar o rumo.
A corrida pela superinteligência está lançada, e Zuckerberg quer estar na linha da frente. A sua visão não é apenas tecnológica — é existencial. Num mundo onde a IA poderá remodelar indústrias inteiras e até o equilíbrio geopolítico, o domínio sobre as infraestruturas que a suportam poderá ser tão determinante quanto o código que lhes dá vida.
Se a Meta conseguirá transformar este investimento colossal em valor sustentável e inovação útil, ainda está por ver. Mas uma coisa é certa: ao apostar tudo na superinteligência, Zuckerberg está a redesenhar não só o futuro da sua empresa — mas, talvez, o da própria civilização digital.