
Reunido em Lisboa, o Júri Prémio Carreira 2025, do Guia Boa Cama Boa Mesa, constituído por Mónica Balsemão (presidente), José Bento dos Santos, Vítor Sobral, Rodrigo Castelo, João Wengorovius, Ricardo Dias Felner e Paulo Brilhante, decidiu atribuir o Prémio Carreira 2025, do guia “Boa Cama Boa Mesa” a Nuno Diniz, cozinheiro, formador, divulgador, autor, cronista e consultor.
No entender do Júri, distingue-se, desta forma, uma personalidade que tem contribuído decisivamente para o desenvolvimento e afirmação da gastronomia e restauração em Portugal, com uma vida profissional dedicada a este sector e com amplo reconhecimento pela comunidade.
A distinção vai ser entregue dia 5 de maio durante a cerimónia anual de entrega de prémios do Guia Boa Cama Boa Mesa, que este ano se vai realizar no Convento São Francisco, em Coimbra.
“Crónicas de um Cozinheiro no Exílio”
Nascido em Lisboa em 1960, formou-se Direito na Universidade Livre, fez rádio, foi cronista em várias publicações e foi treinador de rugby durante 20 anos. Mas, foi na cozinha e na docência que encontrou a vocação de uma vida e ganhou visibilidade, respeito e admiração dos pares e dos muitos cozinheiros que ajudou a formar.
Chef, gastrónomo, autor, cronista e divulgador, destacou-se na vertente de formador na Escola de Hotelaria de Lisboa, onde lecionou “Culinary Arts” durante mais de uma década, e professor de “Cultura Gastronómica na Europa” na primeira Licenciatura em Gastronomia, em Coimbra. Viajante, cozinhou como convidado em dezenas de países e foi ainda consultor em diversos restaurantes como Tágide, Rota das Sedas, Grémio Literário, Il Tartufo, Hotel York House, Hotel Santa Margarida, Volver, Quinta do Monte d’Oiro, ou Adega dos Apalaches.
Foi já com 60 anos que decidiu abrir um projeto em nome próprio, em Lisboa, em parceria com Rodrigo Menezes. O ambicioso Revolução, no entanto, teve vida curta: abriu em meados de março 2020, a dias de a pandemia de Covid 19 ter ditado o encerramento generalizado dos restaurantes. Revelador da consideração pelo produto e por quem o trabalha, na ementa do Revolução constavam os nomes dos produtores. A aventura breve está contada na obra “A Cozinha Popular Elitista – Os Pratos do Revolução” editada em 2023.
Ao longo de 14 anos, Nuno Diniz percorreu o país, entre aldeias, casas, lareiras e arrecadações, em busca de receitas, práticas, costumes e especificidades de mais de 120 variedades de enchidos e fumeiro. O resultado dessa jornada está compilado na obra de 2019 “Entre Fumos e Ventos – Fumeiros e Enchidos de Portugal”, a mais exaustiva recolha feita sobre o tema que o autor considera, ainda assim, incompleta. O livro foi distinguido com o “Prémio da Literatura Gastronómica” da Academia Internacional da Gastronomia em 2020. Graças a este exaustivo trabalho, Nuno Diniz trouxe ao léxico gastronómico urbano nomes como roleira, palaio da comareira, ou negalhos, antes restritos aos locais de produção. Deu-os a conhecer também através dos cozidos que, uma vez por ano, preparou em diversos restaurantes, reunindo mais de uma centena de exemplares de enchidos e fumeiro. Únicos, os repastos demoravam vários dias a preparar e, com lugares limitados, as reservas esgotavam em poucos minutos.
Presença constante no Congressos dos Cozinheiros, entre 2007 e 2019, a trajetória como jurado abrange eventos como Chef Cozinheiro do Ano, Cozinha com Vinho do Porto e Douro, Cataplana Experience, Concurso Internacional de Jovens Chefs da Chaîne des Rôtisseurs, Revolta do Bacalhau, Top Chef, Flavours and Cinema, Portugal Sou Eu, ou Jovem Talento da Gastronomia.
No final de 2024, depois de se ter mudado para a aldeia de Sezelhe, em Montalegre, lançou “Crónicas de um Cozinheiro no Exílio”, uma reflexão sobre a jornada gastronómica que o continua a moldar. “Este livro é então composto por uma seleção de textos escritos ao longo do século XXI, quase todos no Barroso (comecei a vir a Montalegre em 2006), alguns publicados na Inter e na Epicur, a que se juntam fragmentos de um quase diário em Sezelhe (esporádico), sugerido por um doce exílio, que me ajudou a perceber que, apesar de lisboeta, mundano e convictamente urbano, com passagens por quase 100 países nos 40 anos anteriores, era em Trás-os-Montes, no Barroso, e numa aldeia quase deserta, que queria e quero viver e acabar o meu tempo”.
Vencedores do Prémio Carreira
Por decisão do Júri, o Prémio Carreira “Boa Cama Boa Mesa” é atribuído, alternadamente, às áreas de “Boa Mesa” e “Boa Cama”.
O prémio já distinguiu o empresário e cozinheiro Vítor Sobral, em 2016; Evaristo Cardoso, fundador e proprietário do restaurante Solar dos Presuntos, em 2017; Dionísio Pestana, fundador e Presidente do Grupo Pestana, em 2018; João Pires, Master Sommelier, em 2019; Jorge Rebelo de Almeida, fundador e Presidente do grupo Vila Galé, em 2020; Lurdes Graça, do restaurante Manjar do Marquês, em Pombal, e Emílio Andrade, do restaurante Adega Tia Matilde, em Lisboa, ex aequo, em 2021; António Trindade, fundador e presidente do grupo PortoBay, em 2022, Justa Nobre, chef e empresária, em 2023, e Isabel Costa e João Tomás, empresários e criadores da marca Burel – Mountain Originals, que integra a Casa de São Loureço, a Casa das Penhas Douradas e a Burel Factory.