A liderança não é um destino fixo, mas uma jornada em constante evolução. Nos últimos dois anos, enquanto CEO da TP em Portugal, tive o privilégio de ir construindo esse caminho ao lado de uma equipa incrível. As maiores lições que retirei deste período vieram dos desafios da liderança moderna, e não da posição que tenho. Numa era moldada pela Inteligência Artificial (IA) e pelo rápido avanço tecnológico, uma verdade tornou-se clara para mim: a liderança deve sempre começar pelas pessoas.

Liderança centrada nas pessoas é inegociável

A liderança é, fundamentalmente, sobre pessoas. Independentemente do progresso tecnológico ou das mudanças do mercado, as organizações alcançam a prosperidade quando os seus trabalhadores se sentem envolvidos. E para se sentirem envolvidos, têm primeiro de se sentir valorizados, apoiados e devidamente ouvidos. Construir uma cultura de segurança psicológica tem sido uma das minhas prioridades. Quando os colaboradores confiam que as suas vozes serão respeitadas, desbloqueiam o envolvimento e a criatividade de formas extraordinárias.

A liderança centrada nas pessoas não é uma filosofia passiva; exige ação intencional. Para nós, significou criar iniciativas focadas no bem-estar, construir canais de comunicação abertos e oferecer verdadeiras oportunidades de crescimento. A empatia e o apoio não são simplesmente "soft skills"; são também e sobretudo alavancas críticas para impulsionar tanto a moral como a produtividade. Quando os colaboradores são tratados como indivíduos completos – e não apenas como contribuidores para o resultado final – essa sensação de bem-estar vai afetar de forma positiva clientes, parceiros e stakeholders.

Não cultivar um local de trabalho inclusivo e compassivo traduz-se em potencial perdido, desmotivação e inovação por explorar. Os líderes de hoje devem dar prioridade à inteligência emocional nos seus processos de tomada de decisão. A liderança desconectada pertence a uma era passada.

Adaptabilidade e agilidade são o novo normal

Desde que assumi o cargo de CEO em 2023 tornei-me ainda mais consciente de que a adaptabilidade deixou de ser uma mera vantagem para um líder, tornando-se absolutamente essencial. O panorama empresarial é mais complexo do que nunca, com mudanças a acontecer a um ritmo sem precedentes. Desde o ajuste a modelos de trabalho híbridos até às súbitas disrupções globais, a capacidade de mudar rapidamente definiu o sucesso de organizações como a nossa.

Ao longo destes dois anos, tomámos medidas deliberadas para incentivar a agilidade dentro das nossas equipas. Isto significou afastarmo-nos de hierarquias rígidas em favor do empoderamento dos indivíduos e da criação de sistemas flexíveis, onde as pessoas são incentivadas a aprender rapidamente e a desenvolver a sua resiliência.

A chave para ser ágil como líder é compreender quando a mudança é necessária e ter a coragem de agir de forma decisiva. Quer envolva o desenvolvimento de novas propostas de valor para o cliente ou a melhoria de processos internos, a vontade de nos adaptarmos ajudou-nos a mantermo-nos à frente.

Criar uma cultura de adaptabilidade não é fácil – requer confiança, comunicação aberta e recursos para que as equipas inovem de forma ousada. O meu objetivo tem sido capacitar as nossas pessoas não só para gerir a incerteza, como também para a transformar em oportunidades.

Proficiência tecnológica e IA ética são imperativas

A ascensão da IA tem sido, sem dúvida, um tema que define estes dois anos. A IA e a transformação digital criaram oportunidades infinitas para as organizações, mas também colocam novas questões éticas e desafios operacionais. Para os líderes, isto traz uma dupla responsabilidade: compreender o potencial das tecnologias emergentes e implementar estas ferramentas de forma responsável e ética.

Abraçámos a IA como uma forma de melhorar a eficiência e as interações com os clientes, mas temos estado igualmente conscientes do seu impacto nos indivíduos. É fundamental destacar que estamos a implementar a IA em conjunto com os nossos especialistas, usando-a como uma ferramenta poderosa que vai potenciar as suas capacidades. Discussões transparentes sobre a privacidade dos dados, o viés algorítmico e as implicações mais amplas da automação na força de trabalho têm sido primordiais. Os clientes, colaboradores e stakeholders esperam que os líderes deem prioridade à integridade na forma como a tecnologia é utilizada.

Esta implementação estratégica permite-nos aumentar a eficiência em todas as nossas operações, libertando os nossos especialistas para se focarem nos aspetos mais desafiantes e gratificantes do seu trabalho. Ao automatizar tarefas de rotina, capacitamo-los a dedicar a sua experiência à resolução de problemas complexos e à entrega de experiências excecionais aos clientes. Isto não só melhora a experiência do cliente (CX), como também aumenta a satisfação e o envolvimento dos nossos especialistas, uma vez que podem concentrar-se nos aspetos mais estimulantes e impactantes das suas funções.

A integração da IA não deve ser uma oportunidade para colaboração. Tem sido uma das maiores satisfações do meu trabalho ajudar as equipas a abraçar a IA como um parceiro que enriquece o seu trabalho, em vez de substituir. Ao combinar a comunicação transparente com iniciativas de requalificação, não só reduzimos a hesitação, como também desbloqueámos novos níveis de envolvimento e criatividade.

A IA ética tornou-se uma vantagem comercial crítica. As organizações que defendem a transparência, a justiça e a responsabilização nas suas práticas tecnológicas serão as que construirão confiança e lealdade no mercado atual.

Três fundamentos para o futuro da liderança

A reflexão sobre o meu percurso como CEO ao longo destes anos permitiu-me consolidar três princípios que os acredito serem fundamentais para a liderança moderna:

Pessoas Primeiro – Dar sempre prioridade aos indivíduos, não apenas ao resultado. Criar valor construindo locais de trabalho onde os colaboradores se sintam vistos, ouvidos e apoiados.

Flexibilidade Sempre – A agilidade é uma competência, não um luxo. Capacitar as equipas para se adaptarem e descobrirem oportunidades na incerteza. Liderar pelo exemplo com ações decisivas e informadas.

Tecnologia com Humanidade – Compreender e aproveitar o poder das tecnologias emergentes como a IA, mas nunca perder de vista as suas implicações mais amplas para as pessoas. A inovação ética é a chave para o sucesso a longo prazo.

A liderança já não é garantir as respostas de cima para baixo. Trata-se de capacitar as equipas e fomentar uma cultura de colaboração e responsabilidade partilhada. Cada líder deve aceitar a realidade de que a liderança evolui com o tempo, a tecnologia e as pessoas que temos o privilégio de liderar. Ao longo destes dois anos, tive em mente a necessidade de equilibrar a humanidade, a agilidade e a inovação. A liderança é sobre fomentar um ambiente coletivo onde todos sintam que contribuem para moldar o futuro. Juntos, podemos defender organizações que tragam o melhor das suas pessoas, se adaptem aos desafios do mundo e liderem o caminho na inovação responsável.

Que a intenção, a humanidade e a visão sejam a ponte que construímos para um futuro onde as oportunidades se tornam realidade.

CEO da TP em Portugal