Vivemos numa era em que a tecnologia nos rodeia por todos os lados. Basta um clique e temos acesso a uma panóplia de ferramentas digitais que prometem transformar a forma como trabalhamos, colaboramos e até como descansamos. Mas será que estamos a tirar o melhor partido delas? Ou estamos apenas a acumular apps e ferramentas como quem coleciona gadgets numa gaveta?
A verdade é que as ferramentas digitais vieram, sem dúvida, aumentar a nossa produtividade individual e coletiva. E posso dar o exemplo do que acontece na minha própria equipa e em tantas outras da Worten, equipas distribuídas por diferentes localizações (e às vezes até fusos horários) que conseguem colaborar em tempo real, partilhar documentos, fazer reuniões, acompanhar projetos e até celebrar conquistas — tudo sem sair do ecrã. Plataformas como o Slack, o Trello ou o Microsoft Teams tornaram-se quase extensões do nosso cérebro e da nossa rotina.
No meu trabalho na área de Transformação Digital, esta realidade é vivida todos os dias. O nosso foco é dotar a organização com a capacidade de trabalhar mais rapidamente nas coisas certas, com mais agilidade e menos fricção. As ferramentas digitais são um dos motores dessa mudança (a outra é a cultura, mas isso fica para outro artigo). Mas, mais do que acelerar processos, o que procuramos é libertar tempo — tempo esse que pode ser usado para o que realmente importa: pensar em soluções que criem valor para os nossos clientes.
Por exemplo, ao automatizarmos tarefas manuais e repetitivas, conseguimos libertar os nossos colaboradores para se concentrarem em atividades mais estratégicas e criativas. Isto não só aumenta a produtividade, como torna o trabalho mais agradável e motivador. E quando as equipas estão mais motivadas, o impacto sente-se diretamente na experiência que entregamos aos nossos clientes.
E é precisamente aí que queremos investir esse tempo ganho: na discussão de jornadas mais fluídas, mais digitais e mais humanas. Queremos perceber onde estão os pontos de fricção, onde podemos surpreender e onde podemos simplificar. E isso só é possível quando temos espaço para pensar, testar, errar e melhorar — rapidamente.
Um bom exemplo disto é o planeamento da entrada de um novo serviço. Com as ferramentas certas, conseguimos testar hipóteses rapidamente, recolher feedback dos clientes, ajustar funcionalidades e lançar versões melhoradas, em ciclos curtos. Esta agilidade permite-nos falhar mais depressa — e isso é uma bênção. Porque falhar rápido é aprender rápido. E aprender rápido é caminhar mais depressa para soluções que realmente fazem a diferença.
Esta lógica aplica-se também fora do contexto profissional. Posso dar como exemplo o planeamento de umas férias: já se aperceberam como tem evoluído, graças às ferramentas digitais? Com meia dúzia de cliques, conseguimos comparar voos, reservar alojamento, criar um itinerário partilhado com amigos e até descobrir os melhores restaurantes locais. O tempo que antes gastávamos em telefonemas, brochuras e mapas agora é investido em experiências reais. E isso vale ouro.
Claro que nem tudo são rosas. A abundância de ferramentas pode, por vezes, tornar-se um ruído. Saltar entre apps, lidar com notificações constantes ou tentar integrar plataformas que não “falam” entre si pode ser frustrante. Por isso, é fundamental manter um espírito crítico e seletivo. Não precisamos de tudo. Precisamos do que faz sentido para nós, para a nossa equipa, para o nosso contexto.
E aqui entra outro ponto crucial: a evolução contínua. A tecnologia não para. O que hoje é uma novidade, amanhã é obsoleto. E isso não deve assustar-nos — deve inspirar-nos. Manter uma mente aberta, curiosa e disposta a experimentar é meio caminho andado para nos mantermos relevantes e eficazes. A inteligência artificial, por exemplo, veio acelerar tudo isto. Automatiza tarefas repetitivas, sugere soluções, antecipa necessidades. Mas, mesmo com toda essa potência, continua a ser apenas uma ferramenta. A nossa capacidade crítica, empática e criativa continua a ser insubstituível.
No final do dia, tudo isto converge para uma ideia central: a tecnologia é um meio, não um fim. O que está verdadeiramente em causa é a nossa capacidade de criar valor — para as equipas, para os clientes, para nós próprios. E é nesse equilíbrio entre a experiência interna (como trabalhamos, como colaboramos, como crescemos) e o impacto externo (o que entregamos, o que resolvemos, o que transformamos) que reside o verdadeiro superpoder das ferramentas digitais, e, por conseguinte, das transformações digitais.
Portanto, da próxima vez que forem experimentar uma nova app ou integrar mais uma plataforma no vosso dia a dia, façam uma pausa e perguntem: isto vai ajudar-me a usar melhor o meu tempo? Vai permitir-me criar mais valor? Se a resposta for sim, ótimo. Se for não, talvez seja hora de simplificar.
Felipe Ferreira, Head of Digital Transformation da Worten