Já muito foi dito sobre estas eleições legislativas 2025, antes, durante e depois, como se cada voto fosse um episódio de novela com final sempre em aberto. O que posso eu acrescentar? Nada de revolucionário, apenas a minha visão, meio cínica meio patriótica, de um social-democrata que ainda acredita em alguma ordem no caos. É só mais uma opinião num país onde todos falam, poucos ouvem e quase ninguém admite estar errado. Viver em democracia é precisamente isso, dizer o que pensamos com liberdade e ouvir críticas com humildade. Por isso, deixo aqui a minha leitura, com ironia, sentido crítico e um certo amor teimoso por este Portugal onde rir ainda é uma forma de resistência.

E agora, Portugal?

Portugal, essa entidade quase mística que insiste em existir entre a saudade e a burocracia, acordou das últimas eleições legislativas como quem volta de uma rave sem saber onde deixou a dignidade e quem pagou a conta. A Aliança Democrática (AD) comanda sem maioria, e com uma oposição fraturada entre o fantasma do PS e o ruído digital do novo fenómeno político Chega, o país caminha para um governo que terá de dançar o corridinho com muletas parlamentares. E perdoem-me os mais puristas na abordagem política e social, mas não posso deixar de fazer este enquadramento mais satírico. Num país em que trocamos governos como quem troca o pastel de nata que ficou frio, as últimas eleições legislativas foram um verdadeiro episódio de série política internacional, mas versão “Pão com Chouriço”. A Aliança Democrática (AD) saiu vencedora, ou melhor, saiu menos derrotada, numa espécie de maratona eleitoral em que, mais do que correr, bastava tropeçar um pouco menos que os outros. Com promessas dignas de um brunch de domingo e discursos que oscilavam entre o "vai correr tudo bem" e o "não temos culpa de nada", a AD conquistou o poder. Sim, conquistou, como quem encontra 20 euros no bolso do casaco antigo. Não é muito, mas serve para pagar o café... com suplemento de IVA.

Já o Partido Socialista entrou para a história, mas daquelas que contamos em jantares de família e causam silêncio embaraçoso. Depois de anos a dançar com a maioria absoluta como se fosse um slow dos anos 80, o PS acordou com a ressaca das promessas por cumprir, rodeado de fantasmas de casos e casinhos, e percebeu que os eleitores já não estavam para essa música. Foi a derrota mais saborosamente amarga desde que alguém achou que o aeroporto do Montijo era uma boa ideia.

O PS, por outro lado, vive agora o seu momento existencialista. Após anos de domínio absoluto, caiu com o estrondo de quem acreditava ser eterno. António Costa, qual D. Sebastião moderno, evaporou-se na névoa europeia, deixando os seus herdeiros a dividir os cacos de um espelho partido, onde já ninguém gosta do que vê. O partido virou um consultório de psicanálise coletiva, onde cada dirigente tenta perceber "o que somos" e "onde falhámos", como se Portugal fosse uma dating app política e os eleitores lhe tivessem dado swipe left.

A verdadeira surpresa veio de um canto inesperado. Um novo partido, um verdadeiro outlier político, este Chega, talvez criado num laboratório secreto entre um podcast e um brunch vegano, afirmou-se com força. Um partido que mistura economia com memes e discursos motivacionais com lives numa dessas redes sociais famosas. Os velhos partidos ainda tentam entender se é de esquerda, de direita ou só mesmo de Marte. Mas uma coisa é certa: conquistou os jovens, os desiludidos e até os indecisos.

As reformas estruturais essas agora vão andar ao ritmo de uma fila para levantar senhas no Centro de Saúde: lentas, caóticas e com um sistema que "está em baixo", já o nosso Presidente da República, abriu a caixa dos lenços de papel e os telefonemas de conciliação, prevendo que este governo dure o tempo de uma novela. E os portugueses? Esses vão continuar entre a esperança teimosa e o sarcasmo do café, com a certeza de que há mais estabilidade num comboio atrasado do que no panorama político atual.

O caminho? Talvez não seja caminho. Talvez seja rotunda. A grande questão filosófica "para onde vai Portugal?", é substituída agora por outra, mais urgente, "há mesmo para onde ir?" Quero acreditar que sim, e acredito na vontade da (AD) de querer mudar e deixar uma marca positiva, mesmo por vezes discordando em algumas temáticas, mas isso é democracia. O país encontra-se suspenso entre a esperança e o cinismo, como quem já não acredita, mas também não sabe desistir. Os jovens fogem, os idosos resistem e a classe média faz ioga para não ter um AVC com o IRS e os restantes impostos diretos e indiretos. A máquina do Estado continua pesada, a justiça com delay e a educação num eterno plano de revisão curricular. Será que ninguém quer reformas a sério mas apenas ajustes cosméticos com nome em inglês? O futuro vai-se desenhando, não com tinta permanente, mas com marcador de quadro branco, e sempre com alguém a apagar pela metade.

Portugal é o país onde a história teima em repetir-se, mas desta vez com filtros e hashtags. Onde cada governo promete um futuro brilhante, mas tropeça no presente opaco. Um país com vocação poética para o desastre e uma resiliência quase teimosa. Talvez o futuro de Portugal não passe por partidos. Talvez passe por ideias ou talvez, e aqui vai a parte realmente filosófica, o futuro de Portugal seja sempre adiado... porque o presente ainda não foi compreendido. Seja como for, Portugal seguirá. A andar, a tropeçar, ou a fazer scroll, mas existem alguns sinais positivos de realçar, e o Ministério da Economia demonstrou dinâmica e uma leitura enquadrada de futuro.

A economia portuguesa tem mostrado sinais de resiliência e recuperação sustentada, o crescimento do PIB registou 1,9% em 2024, segundo o INE, impulsionado pelas exportações, pela inovação empresarial e pelo turismo, que continua a ser uma das âncoras do país (INE, 2024). O desemprego ronda os 6%, um dos valores mais baixos desde 2000, conforme dados do Eurostat (2025). A inflação, que chegou aproximadamente aos 8% em 2022, desacelerou e ronda os 3% em 2024, aliviando a pressão sobre o custo de vida (Banco de Portugal, 2025). O Ministério da Economia tem sido fundamental ao apoiar a internacionalização das empresas, dinamizar o investimento produtivo e investir na transição digital e energética. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com um investimento previsto de 16,6 mil milhões de euros até 2026, além de fundos estruturais da UE, constitui uma oportunidade histórica para modernizar infraestruturas, estimular a inovação e acelerar a transição verde, posicionando Portugal para os próximos 20 anos (Comissão Europeia, 2024). Embora desafios como a habitação e a produtividade persistam.

Depois do vendaval das legislativas, em que os partidos dançaram conforme a música das urnas, prepara-se agora o grande baile das autárquicas, onde o tango é mais lento, mas os passos são ainda mais decisivos. Após a vitória nas legislativas, a AD terá como prioridade consolidar os territórios que ainda controla nas próximas autárquicas, apostando numa gestão próxima e eficaz. O PS, por seu lado, prepara-se para um processo de renovação da sua imagem e estratégias, numa tentativa urgente de apagar as marcas da derrota e reconquistar eleitores. Pelo meio, surge o Chega um ator improvável que, com propostas que parecem saídas de um laboratório de ficção científica, desafia o statu quo e obriga os partidos tradicionais a repensar o jogo, um sinal de que a política local pode estar prestes a entrar numa era tão disruptiva quanto imprevisível. As autárquicas serão um momento decisivo para o equilíbrio político em Portugal, refletindo a tensão entre tradição, renovação e experimentação digital. O país observa, entre ceticismo e curiosidade, este novo capítulo da democracia local.

Em suma o que é certo é que Portugal continua a ser o país no qual todos falam de política como se soubessem tudo (sendo eu incluído neste quadro estatístico). Entre o fado, o futebol e a inflação, a política é só mais um episódio desta telenovela nacional em que o portugueses, teimosamente, ainda acreditam que o próximo capítulo vai ser melhor. E eu quero acreditar que sim, aqui também faço parte das estatísticas positivas.

Por mera curiosidade já pensou que o mais importante é termos pessoas moralmente capazes como políticos, com credibilidade, vontade genuína de fazer a diferença e barómetros morais elevados, que coloquem o interesse comum acima de tudo? Só assim a democracia poderá verdadeiramente florescer e vermos o potencial português atingido. Termino assim este texto mensal a questionar: Será que temos a sabedoria coletiva necessária para transformar desafios em oportunidades e reinventar o lugar de Portugal no mundo da economia centrada nos desafios e oportunidades sociais e economias da Inteligência Artificial?

Nota: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.