![A dependência da tecnologia e a ciber(in)segurança andam de mãos dadas?](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Nós, os adultos, somos os modelos educacionais presenciais e virtuais. Eles observam-nos, eles imitam-nos. Eles veem o que fazemos ao vivo e a cores, como nos comportamos com a tecnologia na mão, e o que fazemos dentro da tecnologia, no nosso mundo online.
Um dos riscos é o uso excessivo da tecnologia, que reforça a nossa necessidade de consumir cada vez mais conteúdos online. E será que todos os conteúdos são adequados para as crianças e para os jovens? Não. Podemos estar a reforçar comportamentos negativos online, que colocam em causa o nosso desenvolvimento e a nossa saúde mental e relacional.
Se não queremos que as crianças e os jovens sejam dependentes do seu mundo online, e que aprendam a ser ciberseguros, então importa estarmos atentos às nossas tomadas de decisão quanto ao uso da tecnologia.
A tecnologia, tendo vindo para verificar, tem um carácter neutro, não é boa, nem má. Somos nós que podemos fazer um uso do mundo online com mais ou menos impacto negativo.
Assim, estar mais tempo online pode permitir uma maior exposição a conteúdos que podem ser mais agressivos, abusivos ou de aliciamento. De igual forma, a necessidade de estar cada vez mais tempo online, sendo um dos critérios de avaliação da dependência online, pode estar associada à validação do discurso de ódio, que se assiste nas redes sociais, como o “novo normal”.
Acaba por ser aquilo que a criança e o jovem mais vêm, mais assistem, e assim, há o risco de considerarem essa forma de comunicação como adequada, sem juízo crítico.
Ter alguma vulnerabilidade psicológica e usar a tecnologia como escape para emoções negativas, pode fidelizar o uso abusivo do mundo digital, porque proporciona bem-estar, e faz com que o cérebro volte sempre a esse sítio, onde se sente bem. Nesta fidelização ter um amigo virtual, que até pode ser criado pela inteligência artificial, pode trazer um risco para a cibersegurança, porque a influência social, a influência do outro, pode levar-nos a tomar decisões negativas, colocando a nossa saúde física e mental em risco.
Nesta relação entre uso e abuso do mundo digital e cibersegurança há o factor humano, ou seja, há a nossa tomada de decisão. Abro ou não aquele link desconhecido? Falo ou não com aquela pessoa online que não conheço? Será uma identidade falsa? Respondo ou não no grupo onde sou alvo de trolling e de cyberbullying?
É importante refletirmos sobre o impacto das nossas ações online no nosso estado emocional, nas nossas relações, e no nosso bem-estar geral.
A cibersegurança pode ter uma vertente de security, que engloba estratégias para minimizar a exposição aos perigos digitais (por exemplo, ciberataques), evitar a recolha e divulgação de dados sem o consentimento de cada um de nós, mas também uma vertente de safety que engloba boas práticas para assegurar o nosso bem-estar digital (por exemplo, medidas para gerir situações de cyberbulling).
As crianças e os jovens são naturalmente curiosos e mais impulsivos nas suas ações e, estas características, por si só, sem supervisão parental e sem treino de auto-regulação de forma adequada, podem colocá-los numa zona de mais experimentação, de maior risco para estarem mais tempo online e expostos a conteúdos inadequados.
O que tem de andar de mãos dadas são pais e filhos na gestão diária do uso saudável da tecnologia.
Se uma criança com 3 anos de idade não vai sozinha atravessar a rua, nem está sozinha numa piscina, então, também tem de ser levada pela mão para consumir a tecnologia que é adequada para o seu nível de desenvolvimento, em termos de conteúdos e de tempo. Neste caso, segundo as diretrizes nacionais e internacionais será de 1 hora de tecnologia por dia, supervisionada.
Os gadgets devem vir acompanhados de uma conversa, de uma negociação, de um acordo, só assim estaremos a apostar no nosso bem-estar digital.
Boas caminhadas, de mãos dadas!
Texto de Ivone Patrão, Professora do Ispa – Instituto Universitário