A falta de técnicos de emergência pré-hospitalar, conjugada com a greve destes profissionais às horas extraordinárias sem fim previsto, está a gerar graves atrasos no atendimento das chamadas do 112.
Esta quarta-feira foram conhecidos mais três casos de pessoas que acabaram por falecer à espera de socorro.
Almada: mulher morre depois de esperar quase hora e meia
Os funcionários do tribunal ainda insistiram durante hora e meia, mas do outro lado da linha, nenhuma resposta. A mulher, com cerca de 70 anos e indícios de AVC, foi obrigada a permanecer no local, entregue à sua sorte.
Ia prestar declarações em tribunal enquanto alegada vítima de violência doméstica.
Os bombeiros voluntários de Almada, também contactados, não tinham ambulâncias disponíveis. E sem qualquer rede de emergência médica devido à greve no INEM, acabou por ser a própria PSP a fazer o que não lhe compete: transportar a idosa em para o hospital mais próximo no carro de patrulha.
“No Tribunal acionaram os meios de socorro, mas devido à demora, a Procuradora entrou em contacto com o Comandante da Esquadra de Almada da PSP a solicitar ajuda”.
A idosa estava entre a vida e a morte quando chegou às urgências do Garcia de Orta e veio a falecer pouco depois.
“Isto é inaceitável, daí a nossa intenção de avançar com a queixa para o tribunal europeu e para o Tribunal dos Direitos do Homem. É uma situação de negligência que não pode de todo acontecer”, afirmou à SIC Paulo Paço, da Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica.
O Ministério Público já ordenou entretanto a realização de uma autópsia para apurar a causa da morte, mais uma associada às falhas na linha de emergência 112.
Castelo de Vide: mulher morre depois de esperar quase hora e meia
Em Castelo de Vide, uma mulher morreu depois de ter entrado em paragem cardiorrespiratória no lar onde vivia.
“O INEM não atendeu até uma hora e quase 30 minutos depois”, revelou à SIC João Palmeiro, presidente da Fundação Nossa Senhora da Esperança.
Em condições normais, a ambulância teria demorado 10 a 15 minutos a chegar.
“Só se resolveu o problema quando se fez um telefonema particular para os bombeiros e vieram de imediato.”
A mulher com 86 anos ainda foi transportada para o hospital, mas acabou por morrer.
Tavira: homem morre após esperar mais de hora e meia
Um homem de 77 anos morreu em Cacela Velha, no Algarve, à espera de assistência médica. Segundo a família, a ambulância demorou cerca de uma hora e quarenta minutos para chegar.
O homem, que estava a andar de bicicleta, foi encontrado caído à beira da estrada, ainda consciente. Pelo menos quatro pessoas tentaram, sem sucesso, ligar para o 112.
Em desespero, uma vizinha acabou por contactar diretamente os bombeiros de Vila Real de Santo António, que, então, acionaram o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Quando os meios chegaram ao local, a vítima já estava em paragem cardiorrespiratória. No caminho para o Serviço de Urgência Básica de Vila Real de Santo António, foram efetuadas manobras de suporte avançado de vida, mas o homem acabou por falecer.
São três casos que aconteceram já esta semana. Juntam-se a mais dois que aconteceram na semana passada, perfazendo já cinco vítimas mortais por falhas no atendimento do INEM.
Na passada quinta-feira, em Bragança, um homem entrou em paragem cardíacae a chamada para a linha 112 só foi atendida mais de uma hora depois. Quando o socorro finalmente chegou, foi declarado o óbito no local.
No sábado, na freguesia de Molelos, Tondela, uma mulher de 94 anos entrou em paragem cardíaca. Um familiar ligou para a linha 112, mas a chamada só foi transferida para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes cerca de 45 minutos depois. O óbito acabou por ser declarado já no hospital.
INEM avança com plano de contingência
Já esta quarta-feira, o INEM anunciou que vai criar uma triagem automática para as chamadas que estejam em espera há mais de três minutos. Serão ainda chamados enfermeiros para atender as chamadas dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).
Vão ser ainda revistos os procedimentos relativos à passagem de dados às equipas de emergência que estão no terreno e serão também revistos os fluxos de triagem do CODU e do SNS 24 para a transferência de chamadas entre estes serviços.
O Conselho Diretivo do INEM reconhece que a carência de técnicos de emergência pré-hospitalar, “exacerbada” pela greve às horas extraordinárias, tem condicionado o nível de resposta “pontualmente”.