A Suécia anunciou esta terça-feira a abertura de uma investigação por suspeita de sabotagem aos cabos submarinos do Mar Báltico. “A investigação preliminar está em curso e apenas nos seus estágios iniciais”, anunciou o procurador responsável, Henrik Söderman, num comunicado de imprensa.

O anúncio do Ministério Público sueco surge depois de ministro da Defesa Civil do mesmo país ter confirmado, ao início desta terça-feira, que foram detetados danos num cabo que liga a Suécia à Lituânia. “O governo está a acompanhar os acontecimentos de muito perto tendo em conta a grave situação de segurança e estará em contacto com as autoridades. É muito importante descobrir por que razão dois cabos no Mar Báltico estão atualmente fora de serviço", afirmou Carl-Oskar Bohlin na rádio SVT.

O corte deste cabo é o segundo incidente confirmado em apenas 48 horas. Esta segunda-feira, Alemanha e Finlândia também anunciaram a abertura de investigações ao corte de um cabo que une os dois países.

Num comunicado conjunto, os ministros dos Negócios Estrangeiros mostraram-se “profundamente preocupados”. “O facto de um incidente deste tipo levantar imediatamente suspeitas de danos intencionais diz muito sobre a volatilidade dos nossos tempos. (…) A nossa segurança europeia não está apenas ameaçada pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, mas também pela guerra híbrida levada a cabo por actores maliciosos. A salvaguarda das nossas infraestruturas críticas partilhadas é vital para a nossa segurança e a resiliência das nossas sociedades.”

Em Bruxelas, o ministro da Defesa alemão foi perentório. "Ninguém acredita que estes cabos tenham sido cortados por acidente. Temos de assumir que foi sabotagem", afirmou Boris Pistorius à margem da reunião dos ministros da defesa da União Europeia. “Não acredito nas versões das âncoras [de navios] que, por acaso, causaram danos a estes cabos.”

Os Estados Unidos detetaram um aumento da atividade russa em torno destes cabos de telecomunicações. Em setembro, dois oficiais norte-americanos revelaram à CNN World que Washington estava “preocupado” com a “crescente atividade naval russa em todo o mundo” e nas áreas críticas onde estão localizados os cabos.

Em abril 2023, uma investigação conjunta das rádios públicas da Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia tinha já alertado para a presença de uma frota de espionagem russa nos mares nórdicos. Meses antes, em setembro de 2022, uma série de explosões inoperacionalizaram os gasodutos NordStream, também localizados no Mar Báltico.

Cargueiro chinês sob investigação

Ao final da tarde desta terça-feira, vários órgãos de comunicação social internacionais - incluindo a rádio pública sueca SVT e o Financial Times - estão a noticiar o interesse dos investigadores num cargueiro chinês.

O navio Yi Peng 3, que saiu do porto russo de Ust-Luga em direção ao porto egípcio de Said, terá passado nas imediações de ambos os cabos por volta do momento em que os cabos foram cortados no domingo e segunda-feira. As suas movimentações foram acompanhadas de perto pela marinha dinamarquesa.

Segundo informações avançadas por fonte próxima da investigação ao FT, as autoridades suecas estão a “analisar com atenção” o cargueiro chinês. O governo sueco recusou comentar, mas uma fonte policial incidicou que a investigação da polícia em conjunto com a guarda costeira e forças armadas irá considerar o cargueiro.

A confirmar-se, este será o segundo incidente com cargueiros chineses no Mar Báltico em pouco mais de um ano. Em agosto, Pequim assumiu que o navio Newnew Polar Bear danificou um gasoduto que une a Finlândia à Estónia em outubro de 2023. As autoridades chinesas alegaram ter-se tratado de um acidente com a ancora, mas não são conhecidos os resultados das investigações da Finlândia e Estónia.

[notícia atualizada às 20h14 com as informações sobre o cargueiro chinês]