
"A não recondução dele ao cargo de secretário de Estado das Comunidades [Portuguesas] aqui no Brasil repercutiu gigantescamente, mas não foi só. Nós conversamos com conselheiros no Canadá, na Argentina, nos Estados Unidos, em Paris, todos na mesma linha, porque o doutor Cesário vinha fazendo um trabalho, isso é uma avaliação minha pessoal, claro, um trabalho extraordinário", vincou.
"Nós lamentamos profundamente e numa troca de ideias entre os conselheiros antigos e os atuais, falamos que nós precisávamos registar essa nossa postura, essa nossa indignação, foi nesse sentido", acrescentou António de Almeida e Silva, que é também ex-presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo e primeiro vice-presidente da Casa de Portugal de São Paulo.
Contudo, António de Almeida e Silva reconhece que já não será possível o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que indigitou Emídio Sousa para secretário de Estado das Comunidades, alterar a nomeação.
"Neste estágio em que se encontra essa situação será difícil o primeiro-ministro mudar de opinião, penso eu, mas a nossa intenção mesmo era registar a nossa inconformidade e, se possível, ainda que ele fosse reconduzido, que essa recondução houvesse sim, mas repito, eu particularmente sei que é difícil isso", disse.
Da troca de ideias enunciada por António de Almeida e Silva resultou uma carta aberta dirigida a Luís Montenegro em que os subscritores se apresentam como "representantes e membros das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo", manifestando "com profundo pesar e indignação" a "total discordância quanto à decisão de não reconduzir" José Cesário no cargo.
José Cesário foi "a voz firme, experiente e presente do Estado português junto das suas comunidades no exterior", sempre "próximo das preocupações reais dos portugueses no estrangeiro", defende-se na carta aberta.
José Cesário, que assumiu em três ocasiões a pasta da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas (2002-2004, 2011-2015 e 2024-2025), não foi reconduzido no cargo no atual Governo, tendo sido substituído no cargo por Emídio Sousa.
Por essa razão, associações e entidades portuguesas no estrangeiro criaram uma Petição Pública dirigida ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, e ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
"As associações e entidades portuguesas sediadas no estrangeiro, representando milhares de cidadãos lusodescendentes e portugueses residentes fora do território nacional, vêm, por meio do presente manifesto, expressar a sua profunda preocupação, inconformismo e repúdio perante a exclusão do Senhor José Cesário do cargo de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas", lê-se na petição, divulgada hoje de manhã e que apresentava 278 assinaturas de apoio às 17:00.
Em declarações à Lusa em Lisboa, o ex-secretário de Estado escusou-se a comentar a petição pública a favor da sua continuidade no Governo, mas disse que fica satisfeito por saber que gostaram do seu trabalho.
"Não faço comentário nenhum. Como deve imaginar, a única coisa é que fico satisfeito por saber que há gente que gostou do meu trabalho, mais nada. O facto de haver muita gente que está satisfeita com o meu trabalho, para mim, naturalmente, enche-me, diria, de satisfação, deixa-me feliz, é óbvio, sim, é a única coisa que tenho a dizer", disse José Cesário à agência Lusa.
Questionado se partiu de si a decisão de não integrar o Governo empossado na passada sexta-feira, José Cesário respondeu que não.
"Para sair do Governo não. Não foi. O Governo decidiu que eu não continuaria", disse apenas.
José Cesário foi eleito nas legislativas de 18 de maio como cabeça de lista da AD, coligação PSD/CDS, pelo círculo de Fora da Europa, pelo que vai agora assumir o seu mandato na Assembleia da República.
CYR (EL) // MLL
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