Em entrevista à agência Lusa por telefone, Albanese frisou antes de partir para Portugal, que visita a partir de quarta-feira, que a situação no Médio Oriente, sobretudo na Palestina e agora no Líbano, é "trágica" lamentando o apoio financeiro e militar dos EUA a Israel e a "ausência total" de uma Europa "que se mantém de braços cruzados".

"Se esta forma de conduzir a guerra -- de usar de forma absurda bombardeamentos pesados e ataques militares desproporcionados que visam um militante e matam centenas de civis -- for aceite, esta será a nova forma de conduzir as guerras. Agora, no Líbano, Israel está a aplicar o mesmo manual, dizendo que todos os libaneses que morreram são escudos humanos ou danos colaterais", acrescentou. 

"É muito pior [a situação] do que eu esperava. Há seis meses, disse isso mesmo aos membros do Conselho dos Direitos do Homem [da ONU], avisei-os do risco. Mais, há quase 12 meses, no dia 14 de outubro [de 2023], afirmei que esta guerra em Gaza correria o risco de se transformar na maior limpeza étnica em massa de palestinianos, porque, sob o nevoeiro da guerra, Israel aproveita a oportunidade para deslocar palestinianos à força", argumentou.

Para Albanese, "os resultados estão à vista" e "os astros parecem estar alinhados para que isso aconteça". 

Passados mais de 11 meses, prosseguiu, 90% da população foi deslocada à força, entre apelos a que os israelitas conquistem, reocupem e colonizem Gaza e aí se reinstalem.

"E as perspetivas são piores do que eu podia pensar, do que todos nós podíamos pensar, se Israel não for detido. Israel tem de ser travado. [...] As hostilidades têm de parar e tem de ser imposto um cessar-fogo, bem como um embargo de armamento", frisou a responsável das Nações Unidas. 

Sobre o primeiro-ministro israelita, Albanese lamentou a "impunidade" com que Netanyahu tem agido, desrespeitando as decisões do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e repudiando as resoluções da ONU, entre outros exemplos.

"Netanyahu tem sido particularmente agressivo no ataque contra os palestinianos, contra a ONU, contra tudo e todos os que se interpõem entre a sua ideia política ou ideologia para promover um Israel maior. [Netanyahu] tem um desdém pelo direito internacional", sustentou, defendendo que Telavive "tem estado numa missão expansionista há 57 anos", sendo essa "a maior causa da sua insegurança".

Para Francesca Albanese é desta forma que Israel "justifica este tipo de operação militar absurdamente legal". 

"A situação é catastrófica. E embora Israel possa sentir-se encorajado pela dissuasão restaurada na região, esta é uma demonstração brutal de força que vai gerar mais violência na região. E a forma como Israel acredita que pode viver em paz semeando a mesma guerra por todo o lado", argumentou.

Questionada pela Lusa sobre qual o papel dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) no conflito, Albanese é clara no que diz respeito ao que os dois blocos têm feito. 

"Os Estados Unidos estão por trás e acompanham Israel. É quase impossível distinguir um do outro, para além do facto de ser Israel quem tem as botas no terreno. Mas os Estados Unidos estão totalmente envolvidos no que Israel está a fazer. Deram apoio político, militar, financeiro, e é aqui que eu realmente não entendo o que a Europa está a fazer", explicou.

"A Europa está ausente e, na melhor das hipóteses, está a ficar de braços cruzados. Lamento ver isso. O Médio Oriente está muito próximo de nós. Separemos a questão dos direitos humanos da humanidade. Como é que se consegue aguentar entre 13.000 a 17.000 crianças mortas, das mais de 42.000 vítimas mortais, e das 90.000 pessoas feridas, muitas delas com ferimentos para o resto da vida?, questionou.

Albanese questiona-se também sobre como é possível "este tipo de instabilidade que se cria no Médio Oriente contra pessoas que são como nós".

"Deveríamos ser absolutamente mais respeitosos e mais cuidadosos com a posição dos nossos vizinhos e com o que eles suportam, e deveríamos também ser mais produtivos no sistema baseado no direito internacional do que nas regras em que os Estados Unidos continuam a promover, que é um total desafio ao direito internacional", concluiu.

 

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