O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse na terça-feira que não nomeará um primeiro-ministro até ao fim dos Jogos Olímpicos de Paris, que terminam a 11 de agosto, para não "criar confusão" durante o evento desportivo.
"Até meados de agosto, vamos concentrar-nos nos Jogos e depois, a partir daí (...), será da minha responsabilidade nomear um primeiro-ministro ou uma primeira-ministra e confiar-lhe a tarefa de formar um governo e reunir o maior número possível de pessoas para lhe permitir agir e garantir a estabilidade", disse Emmanuel Macron numa entrevista televisiva à France 2.
Na mesma entrevista, o Presidente francês ignorou a candidatura a primeira-ministra da funcionária pública Lucie Castets, de 37 anos, apresentada momentos antes pela coligação de esquerda Nova Frente Popular, ao assegurar que "não há uma maioria" de esquerda na Assembleia Nacional francesa (Parlamento).
"A questão não é essa, não é o nome [apresentado]", disse o Presidente francês, que tem o poder de nomear o primeiro-ministro, referindo que "a questão é saber que tipo de maioria pode haver na Assembleia para que o Governo francês seja capaz de aprovar reformas, aprovar orçamentos de Estado e fazer avançar o país".
“Nenhum partido pode implementar o seu programa”
O chefe de Estado deu como exemplo a candidatura conjunta da Nova Frente Popular à presidência da Assembleia Nacional francesa, com o candidato comunista André Chassaigne, que perdeu para a anterior presidente macronista Yael Braun-Pivet.
O anúncio do nome de Lucie Castets surge 16 dias após as eleições legislativas antecipadas em França, que deram uma vitória apertada à esquerda, sem maioria, à frente do grupo centrista do Presidente francês, Emmanuel Macron, e da extrema-direita da Reagrupamento Nacional (RN, na sigla em francês).
Para o Presidente francês, a lição das eleições legislativas antecipadas é que nenhum partido "pode implementar o seu programa", pelo que apelou às forças que se uniram contra o Reagrupamento Nacional (RN, extrema-direita) nas eleições legislativas, a Nova Frente Popular, o centro macronista e a direita conservadora, para que trabalhem em conjunto.
Macron aceitou a demissão do primeiro-ministro Gabriel Attal, que atualmente se encontra a tratar dos assuntos correntes do Estado, sem ter ficado estabelecido um prazo para a nomeação de um novo chefe de governo, numa altura em que o país se prepara para receber os Jogos Olímpicos, cuja cerimónia de abertura está marcada para sexta-feira, 26 de julho.
Para o Presidente francês, o evento desportivo vai permitir "abrir uma nova página", depois de várias semanas marcadas pela crise política provocada pela dissolução da Assembleia Nacional francesa.
"Precisamos de voltar a entusiasmar-nos, de nos unirmos em torno de uma França que acolhe o mundo, estes Jogos Olímpicos e Paralímpicos, e penso que todos veremos, a partir de sexta-feira à noite, porque é que valeu a pena", referiu.
Esta foi a primeira entrevista de Emmanuel Macron desde que convocou eleições legislativas antecipadas, a 9 de junho, com a vitória esmagadora da extrema-direita nas eleições europeias.
“Uma trégua olímpica e política”
Horas antes, o Presidente francês tinha descrito os Jogos Olímpicos como um momento de tréguas políticas, durante uma visita à Aldeia Olímpica em Saint-Denis, a norte de Paris.
"São os Jogos que estarão no centro da vida do país e o mundo estará em França graças a eles", afirmou Macron aos jornalistas, associando a “festa desportiva” a “uma trégua olímpica e política”.
As declarações do chefe de Estado deixaram a esquerda indignada. O líder da França Insubmissa descreveu-as como uma “manobra de desespero” por parte de Macron. “Recusa-se a reconhecer o resultado e quer impor-nos a sua nova frente republicana”, comentou Jean-Luc Mélenchon no seu blogue.
Numa publicação na rede social X, o socialista Olivier Faure acusou o Presidente de “tentar um desvio inadmissível” do caminho que começou a ser traçado pela Nova Frente Popular e disse que a sua negação “conduz a uma política do pior”.
À AFP, a dirigente ecologista Marine Tondelier afirmou que Emmanuel Macron “está completamente desligado da realidade”, acrescentando que o Presidente “tem de nomear Lucie Castets”. “Não tem escolha", sublinhou.
Esta manhã, a candidata escolhida pela NFP para liderar o Governo lamentou a “negação da democracia” e a “incoerência preocupante” refletidas na intervenção de Macron.
Em entrevista à rádio France Inter, Lucie Castets apelou ao Presidente que “assuma as suas responsabilidades” e a nomeie primeira-ministra.