
Um médico acusado de assassinar pelo menos 15 pacientes e suspeito em 96 casos de homicídio manteve-se esta segunda-feira em silêncio, no início do julgamento, em Berlim, no qual poderá ser condenado a prisão perpétua.
O procurador de Justiça Philipp Meyhöfer leu a acusação, durante meia hora perante o Tribunal Regional de Berlim, enumerando as circunstâncias das mortes de cada um dos 15 pacientes que o médico, Johannes M., terá matado por motivos insidiosos, através da administração de medicamentos, noticiou o jornal Berliner Morgenpost.
Entretanto, o Gabinete Regional de Investigação Criminal de Berlim (LKA) está a investigar o homem, de 40 anos, por outras 96 mortes ocorridas no seu círculo social, incluindo a da sogra, na Polónia.
Se a maioria dos outros casos suspeitos for confirmada, o arguido tornar-se-á no pior assassino em série alemão da história.
Tinha a “própria ideia do momento da morte para doentes terminais”
Segundo Meyhöfer, o médico de cuidados paliativos, funcionário de um serviço de atendimento móvel, queria concretizar a "própria ideia do momento da morte para doentes terminais" e queria ser o único detentor do direito de decidir sobre a vida e a morte.
Neste sentido, o médico abusou da confiança dos pacientes e cometeu os crimes sob o pretexto de assistência médica, quando nenhuma das vítimas estava em processo de morte, descartando assim a eutanásia como motivo, acrescentou.
Durante a maior parte da leitura da acusação, o médico olhou para o chão e limitou-se a levantar os olhos durante um longo período, quando uma das 13 familiares que desejavam estar presentes no julgamento, a mãe da vítima mais nova, que tinha 25 anos e sofria de cancro, começou a chorar.
A acusação disse que o médico Johannes M. cometeu o primeiro homicídio em 2021, matou mais duas pessoas em 2022, deixou de matar em 2023 e voltou a fazê-lo em 2024, tendo como alvo específico 12 pacientes em sete meses, avançou a revista semanal Der Spiegel.
A acusação referiu ainda que Johannes M. administrou primeiro um tranquilizante às vítimas, sem o seu conhecimento e sem aconselhamento médico, e depois um relaxante muscular, que, dependendo da dose, pode paralisar os músculos respiratórios.
Além disso, o arguido ateou fogo às casas das vítimas em cinco ocasiões: a primeira em junho de 2022, a segunda em junho de 2024 e mais três vezes em julho do mesmo ano.
As vítimas tinham entre 25 e 94 anos.
O diretor médico da equipa de cuidados paliativos, onde Johannes M. trabalhava desde janeiro de 2024, desconfiou do arguido devido à acumulação de mortes e incêndios e contactou a polícia três dias depois do último incêndio.
Um esquadrão de homicídios da Divisão de Investigações Criminais (LKA) abriu uma averiguação e, poucos dias depois, o médico foi detido no aeroporto de Frankfurt, quando regressava de férias. Está em prisão preventiva desde 06 de agosto passado.
Homem escreveu tese sobre homicídios
O Ministério Público vê provas de que o arguido, casado e pai de um filho, pode ter ficado fascinado pelo fenómeno do homicídio ainda durante a formação, referindo o início da tese de doutoramento: "Porque é que as pessoas matam?".
O trabalho tem 117 páginas e intitula-se "Homicídios em Frankfurt am Main: Uma Visão Geral de 1945 a 2008", tendo sido dedicado "às vítimas e às famílias".
O julgamento contra Johannes M. deverá contar com 35 audiências até janeiro de 2026.
O caso faz lembrar o do enfermeiro Niels Högel, condenado a prisão perpétua em 2019 pelo homicídio de 85 pacientes, enquanto já cumpria pena, desde 2015, por outros dois crimes.