"Dois anos de violência e deslocamento destruíram a vida de milhões de crianças em todo o Sudão", afirmou a diretora executiva da Unicef, Catherine Russell, acrescentando que "as necessidades continuam a superar o financiamento humanitário".

O Sudão enfrenta a maior crise humanitária e de deslocamento de crianças do mundo, sendo que já deslocou 15 milhões de pessoas, dentro do Sudão e através das fronteiras, das quais mais de metade são crianças em que "quase uma em cada três tem menos de 5 anos", segundo o comunicado da agência da Organização das Nações Unidas (ONU).

"A violência contra as crianças, a fome e as doenças estão a aumentar [com a diminuição da taxa de vacinação]", refere a Unicef, adiantando que "o deslocamento continua a perturbar vidas, o acesso dos agentes humanitários às famílias e o financiamento estão a diminuir, e a temporada de chuvas de maio a outubro aproxima-se".

A situação está a agravar-se por uma combinação de fatores interligados, como o número de violações graves contra crianças, que incluem assassínios, mutilações, sequestros de crianças e ataques a escolas e hospitais, que teve um aumento de 1.000% em dois anos.

Em comunicado, a Unicef afirmou que "embora tais violações se limitassem anteriormente a regiões como Darfur, Nilo Azul e Cordofão do Sul, o conflito em curso em todo o país levou à verificação de violações graves em mais de metade dos 18 Estados do Sudão", sendo que Darfur, Cartum, capital do Sudão, Gezira e Cordofão do Sul relataram o maior número de violações graves nos últimos dois anos.

Entre 2022 e 2024, cerca de 60% das internações anuais por desnutrição aguda grave ocorreram durante a época de chuvas e se esta tendência se mantiver, entre maio e outubro deste ano, até 462.000 crianças poderão sofrer de desnutrição.

É esperado também um aumento de surtos de doenças devido aos efeitos das chuvas, que em 2024, foram registados 49.000 casos de cólera e mais de 11.000 de dengue, tendo afetado 60% das mães e crianças do Sudão.

O acesso de agentes humanitários às crianças estão se a deteriorar devido à escalada do conflito e às restrições impostas pelas autoridades governamentais ou pelos grupos armados. Já o financiamento tem vindo a diminuir, sendo uma das causas os cortes das ajudas humanitárias internacionais.

Em 2024, a Unicef e os seus parceiros forneceram aconselhamento psicossocial, educação e serviços de proteção a 2,7 milhões de crianças e cuidadores no Sudão, alcançaram mais de 9,8 milhões de crianças e famílias com água potável segura, examinaram 6,7 milhões de crianças para desnutrição e forneceram tratamento vital para 422.000 delas.

"O Sudão enfrenta a maior crise humanitária do mundo atualmente, mas não está a receber a atenção do mundo", declarou Russell, sublinhado que não se pode "abandonar as crianças do Sudão" e que, "acima de tudo, as crianças no Sudão precisam que este conflito terrível acabe".

A agência da ONU continua a priorizar intervenções que salvam vidas em zonas de conflito e também apoia populações deslocadas e comunidades anfitriãs em áreas mais seguras, fornecendo serviços e apoio essenciais.

O conflito no Sudão entre as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) e as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) começou em 15 de abril de 2023, completando hoje dois anos de guerra.

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