Segundo o 'ranking' nacional que ordena o desempenho de escolas púbicas e privadas que tenham realizado mais de 100 dessas provas no final do ano letivo, este estabelecimento de ensino do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto ficou em primeiro lugar graças a uma média de 13,85 valores nos seus 125 exames.

O desempenho dos alunos de Oliveira de Azeméis nas provas nacionais fez ainda com que as escolas públicas subissem seis lugares na classificação geral: se em 2023 o primeiro estabelecimento de ensino estatal surgia apenas em 39.º lugar, em 2024 a Ferreira da Silva passou a aparecer em 33.º.

Inaugurada em 1986 e impressionante na sua limpeza, com jardins impecáveis e plantas de viço irrepreensível, a escola da freguesia de Cucujães é dirigida por António Almeida Figueiredo, que começa por explicar à Lusa a relação entre professores e estudantes: "Há um acompanhamento cuidado, muito próximo e até afetivo, em tempo real, e implementámos medidas e estratégias de superação, para que os alunos possam ir mais longe".

O diretor da escola diz que essa proximidade motiva os alunos, potencia o trabalho interpares e facilita a consolidação de aprendizagens, mas realça que essa dinâmica também beneficia do serviço prestado pelas duas psicólogas da equipa residente da casa, que aí desenvolvem um acompanhamento vocacional "de ampla ação", logo desde o 8.º ano.

"As psicólogas executam um excelente e minucioso trabalho de orientação, que é fundamental para a tomada de decisão dos alunos", defende.

"Um aluno bem informado sobre as suas capacidades toma decisões importantes em função dos seus objetivos de vida e o acompanhamento ao longo do ensino secundário, através de sessões individuais, permite lidar com outros problemas -- porque na adolescência há questões pessoais, emocionais, que dificultam a vida dos alunos e uma intervenção rápida faz com que eles se foquem nas aprendizagens e no sucesso escolar", acrescenta.

Idêntica perspetiva tem Elisabete Barnabé, presidente da Associação de Pais da escola. Ela própria frequentou a Ferreira da Silva - onde tem duas filhas a estudar e formou a mais velha, que agora está a tirar o curso de Medicina na Covilhã - e, ao comparar a realidade do seu tempo com a atual, garante: "É uma diferença abismal".

"Há uma entrega, uma missão", afirma a porta-voz dos encarregados de educação. "Os professores são colocados nos sítios certos e há um trabalho muito grande também por parte da psicologia, que analisa com os alunos a vocação deles. Não é só fazer os testes vocacionais -- é chamar os alunos individualmente para ver realmente qual a vocação que lhes garantirá sucesso no futuro. E há ainda o interesse em formar cidadãos", realça.

Liliana Silva é uma das psicólogas da escola e assegura que o futuro profissional de um jovem não pode ser decidido apenas pelas cruzes que deixa num formulário: "Orientação vocacional não é só escolher um curso e uma área; está relacionada com o que os alunos 'são'. Este trabalho próximo é feito sempre de forma individual, para o aluno perceber qual é o caminho que lhe vai trazer mais felicidade -- não pode ser simplesmente a escolha de um curso".

Levando os estudantes a distinguir escolhas cómodas de opções "com entusiasmo" e ajudando-os também a traçar planos alternativos, a psicóloga procura depois ajustar os currículos letivos, "dentro do que a lei permite", à situação pessoal de cada um. "Um aluno que pretende ir para Engenharia, mas não quer nada com Saúde pode trocar a disciplina de Biologia e Geologia por Economia, e isso fará com que o currículo tenha mais a ver com ele", refere.

O quotidiano de Liliana Silva faz-se, no entanto, de outros aspetos além dos estritamente académicos. Os alunos também a procuram por sua própria iniciativa, no gabinete ou quando a encontram por acaso, no bufete ou no corredor.

"Não é só porque temos uma patologia identificada que precisamos de ir ao psicólogo -- podemos estar simplesmente a passar por uma fase com algum sofrimento", argumenta, apontando a adolescência como particularmente sujeita a angústias e inseguranças.

Esse aspeto é precisamente um dos mencionados por Rita Assunção, que já trocou a Secundária Ferreira da Silva pela Faculdade de Economia do Porto, entrando em Gestão com uma média final de 19,5 valores, graças a igual nota no exame de Matemática A. "O acompanhamento psicológico foi importante porque, quer queiramos quer não, o secundário é uma fase da nossa vida em que sentimos alguma pressão", admite a jovem.

Apesar disso, a curta passagem de Rita pela escola de Cucujães deixou memórias de "professores extraordinários, impecáveis". Só aí estudou do 10.º ao 12.º ano, mas lembra-se bem: "A primeira coisa que notei foi a relação que havia entre professores e alunos, e dos alunos entre eles. Toda a gente já se conhecia, mas senti-me muito integrada. É uma escola pequenina e num meio mais recatado, as pessoas dão mais de si e conseguimos criar uma melhor relação com elas".

Pela pose discreta de ambos ninguém diria, mas Rita namora com Renato Castro e o par comprova assim que estados apaixonados não são necessariamente prejudiciais ao currículo. Também ele tirou 19,7 a Matemática, entrando com uma média final de 18,7 em Bioengenharia, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Ao contrário de Rita, contudo, Renato teve "a felicidade" de fazer todo o seu percurso escolar no mesmo agrupamento de Cucujães, passando oito anos na Ferreira da Silva. "Tive a mesma diretora de turma desde o 7.º ano, por exemplo, e ela conhecia-me muito bem. Não se preocupava só com as notas, mas também com a minha vida dentro e fora da escola", recorda.

Defendendo que essa proximidade "influencia muito", Renato apreciou o reforço de horário nas disciplinas em que prestou exame, mas salienta: "O fator principal é preocupação dos professores para nos educar, nos ensinar e nos formar enquanto pessoas".

Carolina Chíchero, que teve 18,7 no exame de Matemática e entrou com média de 18 na Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa, só chegou à Ferreira da Silva no 7.º ano e confessa: "Só me arrependo mesmo de não ter vindo mais cedo, porque, desde que cheguei, os meus resultados dispararam e a minha vontade de estudar e aprender também. Antes havia disciplinas como Matemática a que eu não era muito boa e de que não gostava, e quando vim para aqui tive professores excelentes, com quem mantinha uma relação de proximidade que facilita imensamente este percurso".

Recordando as aulas de apoio desde o 10.º ano, a futura médica insiste: "Os professores não estavam ali porque tinham que estar -- era porque queriam mesmo ajudar. Não sentíamos que são eles contra nós nem nós contra eles. Estávamos a trabalhar em conjunto para o mesmo objetivo, que é atingir bons resultados, enquanto alunos e enquanto pessoas".

Quanto aos benefícios retirados do acompanhamento psicológico na escola, Renato lembra sobretudo o alívio proporcionado em vésperas de testes e exames: "A psicóloga vinha lá, fazia uma sessão connosco, dizia 'vamos relaxar, respirar um bocadinho' e claro que isso ajudava", diz, entre risos.

Abordagem mais prática é a de Rodrigo Rebelo. Tendo sido o primeiro colocado do curso de Engenharia Mecânica Automóvel graças a uma média final de 18,8 valores, para o que contribuiu um 20 no exame de Matemática e um 16 no de Físico-Química, o atual aluno da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto começa por elogiar a organização da Ferreira da Silva, a disponibilização de "cursos personalizados, com as matérias e disciplinas de que cada um necessita para ingressar no ensino superior", e a constante disponibilidade dos professores.

Aquilo que mais marcou Rodrigo foi a antecipação de um contexto que sabia novo e complexo: "Um aspeto de que me lembro bastante é a facilidade com que a psicóloga conseguia pôr-nos em contacto com ex-alunos e outras pessoas dos próprios cursos que nós queríamos seguir. Tínhamos um contacto muito rápido tanto com a universidade como com gente que tinha passado por esses cursos e isso facilitou bastante a adaptação".

*** Alexandra Couto (texto), André Sá (vídeo) e José Coelho (foto), da agência Lusa ***

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