Pela segunda vez em quatro edições, Portugal superou a fase de grupos da Liga das Nações. Ao contrário do formato vigente até aqui, o torneio ganhou uns quartos de final antes da final four, pelo que a seleção de Roberto Martínez garantiu presença entre as oito melhores da competição.
A 20 de março de 2025, Portugal disputará uma primeira mão, decidindo a eliminatória três dias depois, num sistema de casa e fora. Como vencedora do seu grupo, a seleção nacional defrontará um segundo classificado, com exceção da Croácia, por já ter calhado contra o conjunto liderado por Modric. Assim, Itália, Países Baixos e Dinamarca são os possíveis adversários portugueses em março.
As restantes equipas em competição são França, Alemanha e Espanha. Todas lutarão por um bilhete nas meias-finais, agendadas para 4 e 5 de junho. A final da quarta edição da Liga das Nações, que teve Portugal como primeiro vencedor, está marcada para 8 de junho.
Após a eliminação, nos penáltis, contra a França, nos quartos de final do Euro 2024, Portugal concluiu esta fase de grupos com quatro vitórias e dois empates. À falta de fechar o grupo 3, os homens de Bob são, com 13 golos, o segundo melhor ataque da Liga A, empatados com Itália e Espanha e atrás da Alemanha (17 festejos), sendo, com cinco golos sofridos, a terceira melhor defesa, igualados com a Dinamarca e atrás de Espanha (quatro golos encaixados) e da Alemanha (três).
Roberto Martínez foi assegurando, nos últimos meses, que o foco máximo estava no verão de 2026, no Mundial dos Estados Unidos, México e Canadá, apontando esta Liga das Nações como um objetivo secundário. Não obstante, ninguém nega que erguer o troféu é uma meta para este grupo de jogadores, nos quais houve protagonistas que, já não sendo propriamente novatos, consolidaram processos de obtenção de maior protagonismo na equipa nacional.
Nuno Mendes, defesa com impacto no ataque
Até 2024, o percurso de Nuno Mendes na seleção não era propriamente isento de dissabores. O jogador do PSG foi convocado para o Euro 2020, mas não somou qualquer minuto, tendo iniciado o Mundial 2022 a titular, mas durando somente 42 minutos até se lesionar e ser substituído por Raphaël Guerreiro, dono da lateral esquerda na última década.
No entanto, este ano foi de afirmação para Mendes no conjunto de Martínez. Sem lesões, e beneficiando também das ausências de Guerreiro, o ex-Sporting fez um grande Euro 2024 e, nesta Liga das Nações, elevou ainda mais o nível.
Com três assistências para golo, o canhoto obteve o estatuto de jogador da Liga A com mais passes para um colega marcar, em igualdade com Vitinha, Dimarco, Digne, Wirtz e Musiala. Com efeito, Mendes destacou-se ao nível da criação de perigo, sendo, segundo dados da plataforma especializada Driblab, o terceiro jogador da principal divisão com mais oportunidades de golo criadas (seis, atrás das sete de Modric e Zieliński) e o quarto com mais cruzamentos com êxito, em média, por desafio (0,6).
Em evidência em diversos parâmetros, Nuno mostrou capacidade para ser mais terceiro central ou, em alternativa, um lateral mais projetado, versatilidade que dá armas táticas ao selecionador. Mendes foi o único futebolista titular em todos os compromissos de Portugal, sendo, no global da Liga A, o segundo jogador com mais dribles efetuados no último terço por encontro (1,5).
2024 foi, também, um ano importante para Rafael Leão e Vitinha na seleção. O extremo do Milan parece, em definitivo, o dono do lado esquerdo do ataque, relevando entendimento privilegiado com Nuno Mendes. Foi, entre os atacantes com pelo menos 100 minutos realizados na Liga A, o que mais dribles realizou por jogo (7,7).
Já Vitinha, com autorização de Bernardo Silva e Bruno Fernandes, assume-se como gestor dos ritmos da equipa e patrão da circulação. Entre os médios com mais de 250 minutos no principal escalão, é, segundo as estatísticas da Driblab, o que tem melhor percentagem de passes com êxito (96,3%) e o segundo com mais passes bem-sucedidos por 90 minutos, com 7,3, em média, por jogo, numa arte que evidenciou ao assistir João Félix frente à Croácia.
Nuno Mendes, Vitinha e Rafael Leão atuam, todos, em grandes emblemas do futebol europeu. Somam já um número considerável de internacionalizações, das 25 do médio às 37 do atacante, mas não deixam de ser faces relativamente recentes nas contas da seleção nacional, produtos dos últimos anos de grande qualidade na formação portuguesa.
Quem já não é novidade, mas parece sempre pronto a engordar estatísticas, é Cristiano Ronaldo. O capitão foi, sem surpresa, o futebolista da Liga A com mais remates efetuados, com 21, terminando a fase de grupos como melhor marcador da divisão, com cinco festejos.
Cristiano vai já em 217 internacionalizações e 135 golos, aumentando recordes que já detém. Em 2025, poderá chegar ao terceiro título com a camisola de Portugal.
Estreias… discretas
Roberto Martínez prometeu, desde o arranque da Liga das Nações, que a competição serviria para “alargar” o lote de opções. Seria, nas palavras do catalão, uma competição para ver caras novas, integrá-las no plantel, testá-las, avaliar futebolistas que pudessem estar nos Estados Unidos, México e Canadá em 2026.
A verdade é que, sob o ponto de vista meramente numérico, Bob cumpriu a promessa. Houve seis estreias nesta fase de grupos (Samu Costa, Renato Veiga, Nuno Tavares, Tomás Araújo, Fábio Silva e Tiago Djaló), além dos casos de Pote, que debutou em encontro oficial por Portugal, e de Trincão, que representou a seleção após mais de três anos de ausência.
No entanto, um olhar mais atento e detalhado mostra que, com exceção de Renato Veiga, estas caras novas tiveram pouco destaque ao longo desta fase de grupos.
Descontando a partida final na Croácia, onde houve uma razia de baixas, entre lesões, castigos e poupanças, houve oito jogadores que foram titulares em, pelo menos, quatro dos cinco primeiros compromissos da competição: Diogo Costa, Ruben Dias, Nuno Mendes, Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Pedro Neto, Cristiano Ronaldo e Rafael Leão. Juntando a estes nomes os de Vitinha, titular em três encontros e suplente utilizado noutro, e de Diogo Dalot, opção inicial em três partidas e vindo do banco noutras duas, vemos que a esmagadora maioria dos minutos foi para os nomes mais comuns do passado recente.
Quanto às novidades, a exceção, a nível de protagonismo, foi o já citado Renato Veiga. O polivalente do Chelsea aproveitou as ausências no eixo da defesa, nomeadamente as lesões de Ruben Dias e Gonçalo Inácio, tornando-se no único debutante com continuidade. Fez o primeiro jogo na Polónia e manteve o estatuto na receção aos polacos e na Croácia, sempre como titular.
As outras caras novas tiveram papéis de pouco peso na campanha. Samu Costa fez um minuto na estreia e 14 minutos na receção à Polónia, enquanto Nuno Tavares entrou aos 88' desse jogo no Dragão. Já com as contas decididas, na Croácia, Tomás Araújo foi titular, saindo lesionado aos 63' para dar lugar a Tiago Djaló, outro estreante. Completando o lote de jogadores que vestiram a camisola principal de Portugal pela primeira vez, Fábio Silva saltou do banco aos 71' em Split.
A este elenco podemos juntar os regressados Pote e Trincão, igualmente com pouco protagonismo: Gonçalves entrou aos 90' contra a Croácia e Trincão entrou aos 63' em Varsóvia e aos 84' no penúltimo duelo, no Porto.
Há ainda os casos de Ricardo Velho, Tiago Santos e Geovany Quenda, todos chamados pela primeira vez, mas nenhum com direito a minutos. Muitas novidades no estágio, pouco protagonismo a nível de minutos e, sobretudo, escassa continuidade, além do caso Renato Veiga.