A primeira meia-hora do Athletic-Manchester United foi, basicamente, o que se poderia imaginar de uma meia-final europeia disputada em San Mamés. Os bascos, perseguindo o sonho de discutirem o troféu na partida decisiva em casa, entraram ferozes, agressivos, pressionando, pintando o cenário que, na véspera, Ruben Amorim prognosticara.

A cada passe mais arriscado de Ugarte, a cada receção menos bem conseguida de um dos homens da frente, os leões de Bilbau lançavam os seus mecanismos de pressão, numa coreografia em que até o público tem um papel, incentivando e gritando como poucos no mundo. Naqueles minutos, os red devils sofreram, como Amorim dissera que sucederia.

Primeira meia-hora: cinco remates do Athletic, dois deles defendidos por Onana, um tirado por Lindelöf em cima da linha quando já se encaminhava para o 1-0. E eis que, subitamente, tudo mudou. Estas mudanças são habituais na montanha-russa emocional do United, mas costumam ter a equipa de Manchester no lado infeliz da viagem. Agora foi diferente.

Ash Donelon

Minuto 30'. Maguire, que na reviravolta contra o Lyon foi ponta de lança, tornou-se extremo. "Tudo pode mudar a qualquer momento", diz Amorim sobre o defesa, outrora patinha feio, de momento indiscutível. Harry trabalhou junto à linha e cruzou. Ugarte desviou, Casemiro, o outro herói do 5-4 da eliminatória anterior, marcou.

Na meia-hora inicial, o United não fizera qualquer remate. Ao primeiro disparo, Maguire fez o 1-0. Ao segundo, Bruno Fernandes apontou o 2-0. Ao terceiro, o capitão assinou o 3-0. Tudo entre os 30' e os 45', período em que os bascos ainda viram Dani Vivian ser expulso.

"Vimos dois jogos. Os primeiros 25 minutos e a partir do golo e da expulsão", comentou Amorim após o encontro. O Athletic, feroz e agressivo de arranque, só voltou a rematar à baliza depois da expulsão no período de descontos da segunda parte, num livre sem perigo de Alvaro Djaló, ex-SC Braga.

Depois do sofrimento a abrir, a aliança dos improváveis deu no 1-0. O trabalho de Maguire, que parecia um elefante a driblar entre pequenas ovelhas. A assistência de Ugarte, que até aos quartos de final contra o Lyon tinha um golo e zero assistências na época e só nestes três encontros marcou uma vez e assistiu três. O golo de Casemiro, que esteve na génese dos três golos da reviravolta diante dos franceses.

Na sequência de lances que quase mataram o sonho do Athletic, Dani Vivian segurou Rasmus Højlund após cruzamento da direita. Após prolongada revisão do VAR, penálti e expulsão. Mais do que em qualquer outro momento da noite, a resistência dos bascos que lutam contra o mundo com uma fórmula única parecia quebrar ali.

Bruno Fernandes bate o penálti para o 2-0
Bruno Fernandes bate o penálti para o 2-0 Clive Brunskill

Antes da execução, San Mamés utilizou toda a força sonora que possui para tentar desconcentrar Bruno Fernandes. O português, disse-o depois do encontro, só se preocupou em "ouvir o apito do árbitro". Bola para um lado, guarda-redes para o outro.

Aos 45', o terceiro remate red devil deu no 0-3. Bruno já marcou 19 vezes e assistiu em 16 ocasiões em 2024/25, num total 98 festejos com a camisola do clube. Entre os futebolistas não britânicos, o médio é já o quarto melhor marcador da história do United, apenas atrás de Ruud van Nistelrooy (150 golos), Cristiano Ronaldo (145) e Ole Gunnar Solskjær (126).

Já com o resultado final no marcador, Mazraoui e Casemiro ainda acertaram nos ferros. Ruben Amorim considerou ter sido "o melhor resultado da época", até porque "ninguém o esperava". O técnico admitiu que a equipa "teve sorte ao início", período em que o Athletic "foi mais forte" e no qual se sentiram alguns jogadores do United "nervosos".

Não obstante o 3-0, Ruben procurou evitar euforias depois do jogo, com um discurso cheio de avisos, com a constante preocupação de lembrar que "nada está decidido". "Não há golos fora, uma expulsão pode acontecer a qualquer altura, tudo pode mudar num instante."

Se a Premier League, onde Amorim só tem seis vitórias em 23 jogos, tem sido uma fonte de tristezas, a Europa é onde o técnico vai buscar estatísticas felizes. É o primeiro treinador do United a não perder nenhum dos primeiros nove jogos nas competições continentais desde Ferguson. No total, entre Sporting e Manchester, são 13 encontros europeus esta temporada, com 10 vitórias e três empates. E a final em San Mamés ali tão perto.