Claudia Buch, presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE), e Isabel Schnabel, membro do Conselho Executivo do BCE, alertam os bancos da zona euro para a necessidade de se adaptarem à previsível redução da liquidez excedente no sistema bancário.

Num artigo conjunto publicado nesta terça-feira, no blogue oficial do BCE, as responsáveis destacam que é expectável que a quantidade de liquidez fornecida pelo banco central diminua nos próximos anos, obrigando as instituições financeiras a ajustarem as suas estratégias de gestão de liquidez. “À medida que a liquidez excedente diminui, os bancos precisarão de gerir os seus recursos de forma mais eficiente e estar preparados para utilizar as facilidades de liquidez do Eurosistema”, assinalam.

O banco central considera essencial que as instituições financeiras incorporem estas facilidades como parte integrante da sua gestão quotidiana de liquidez.

A entidade reguladora enfatiza ainda que “os bancos devem evitar depender excessivamente da liquidez excedente e começar a utilizar de forma mais regular as operações do Eurosistema”. Segundo o BCE, esta transição para um novo paradigma de liquidez “deve ser feita de forma gradual e bem planeada, garantindo estabilidade ao sistema financeiro”.

O supervisor salienta que os bancos operam atualmente num ambiente caracterizado por “um elevado grau de incerteza”, o que torna mais difícil prever os fluxos de caixa futuros e o nível de reservas desejado pelos bancos. “A procura de liquidez por parte dos bancos é também afetada pela crescente relevância dos intermediários financeiros não bancários no sistema financeiro, quer como clientes, quer como concorrentes. Além disso, o ritmo acelerado da digitalização e a crescente procura de pagamentos imediatos podem alterar o comportamento dos depositantes”, destacam as autoras do artigo.

O BCE reforça, por isso, a importância de um planeamento adequado para enfrentar desafios futuros: “A disponibilidade de liquidez de curto prazo continuará a ser um elemento-chave do funcionamento eficiente dos mercados financeiros, pelo que as instituições devem assegurar que estão devidamente preparadas para qualquer eventualidade”.

O artigo alerta para a necessidade de os bancos terem mecanismos internos robustos para garantir a conformidade com os requisitos regulatórios e operacionais, especialmente num cenário de maior volatilidade dos mercados financeiros.

O BCE sublinha também que “as condições de financiamento poderão tornar-se mais exigentes à medida que o banco central reduz progressivamente as medidas extraordinárias adotadas em resposta a crises anteriores”. Nesse sentido, apela à responsabilidade dos bancos na adoção de estratégias prudentes que permitam mitigar potenciais impactos adversos.

Esta orientação surge num contexto em que o BCE está a reduzir progressivamente os instrumentos excecionais implementados durante períodos de crise económica e financeira, apostando numa política monetária mais equilibrada. A instituição espera que esta transição decorra de forma ordenada e sem perturbações para o sistema bancário e financeiro da zona euro, promovendo um mercado mais resiliente e menos dependente da intervenção do banco central.

Por fim, o BCE conclui que “os bancos devem agir agora para garantir que a sua gestão de liquidez é robusta e adaptável a um ambiente de menor liquidez excedente”, destacando que esta mudança será fundamental para fortalecer a estabilidade financeira na zona euro nos próximos anos.